Capítulo 3

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YAMAN

Entro em casa e procuro meu filho com os olhos, mas não vejo ou ouço, talvez esteja com Ziya. Os dois sempre se divertem muito juntos. Subo as escadas em direção ao meu quarto quando ouço a gargalhada alta de Yusuf.

Olhando pela porta entreaberta vejo Yusuf sentado no chão, ao seu lado está Ziya e uma menininha que não conheço. Os três levantam a mão e falam palavras sem nexo.

— Camelo. —A menininha fala na frente dos dois.

— Elefante. Elefante. Elefante. —Ziya está praticamente quicando de tanta felicidade entre as crianças.

Dou um passo para mais perto e vejo uma jovem fazendo mímica para sua plateia de três. Ela move os braços de um lado para o outro e inclina a cabeça para frente.

Eu conheço você.

— Cachorro. —Yusuf continua com o dedo levantado.

Paro no batente da porta e continuo observando enquanto eles falam diversos nomes de animais.

— Golfinho. —Falo mais alto que a folia dentro do quarto.

Todo o barulho para, as crianças baixam o dedo e Ziya me encara com os olhos brilhando felicidade. Inclino o rosto para o lado e vejo que a jovem travou no meio do movimento.

— Acertei?

Qual o seu nome?

O que está fazendo aqui?

Como conseguiu entrar?

— É... Hum... Sim... Golfinho. Sim.

— Papaaaaaai. —Yusuf corre e pula nos meus braços abertos. — Você vem brincar com a gente? Minhas amigas vieram para a atividade da escola. Kevser é minha amiga. —Yusuf pula do meu colo e vai para perto da menininha. — Esse é o meu pai. Yaman Kirimli.

— Você é grande. —Kevser levanta e mão e toca minha barriga. — Nem alcanço na cabeça. Que legal. SEHER OLHA QUE GRANDE. Vem tocar a cabeça dele. Yusuf, você consegue?

As crianças ficam nas pontas dos pés, apostando quem chega mais alto. Observo a jovem que segue na mesma posição de quando entrei, seus olhos estão arregalados e o rosto vermelho.

— Ziya, você pode ficar com as crianças? Preciso perguntar uma coisa a Seher.

— Nós temos que terminar a atividade da escola, Yaman. Você pode ajudar depois?

— Claro, irmão. Já volto. —Indico a porta para que a jovem saia do quarto e me siga.

Assim que ela sai do quarto, fecho a porta e a encaro de cima abaixo.

— Espero que você tenha uma boa explicação para estar dentro da minha casa, junto da minha família. Caso contrário vou chamar a polícia.

Vejo o vermelho do seu rosto vermelho sendo substituído por uma cor pálida, os olhos que já estavam arregalados ficam ainda maiores.

— Kevser. Eu peguei ela na escola e o Yusuf me viu. E a teve mímica e tem a árvore genealógica, mas eu tinha prometido tomar sorvete e acabei vim aqui. As crianças... Eu não... —Ela fala tudo junto e muito rápido, não entendo absolutamente nada. A menina está apavorada.

— Quem te deu permissão para entrar na minha casa? —Caminho até estar apenas a um passo dela.

— Yusuf. Ziya. —Ela segura as mãos entrelaçadas na frente do corpo.

— Por qual motivo você está aqui?

— As crianças. Lição da escola. Árvore genealógica. Desculpa, a gente está indo embora. Desculpa. Eu não deveria ter vindo. Desculpa.

Seher tenta passar por mim, mas tranco a passagem com meu corpo. Colocando a mão na parede e impedindo que volte ao quarto. Ela fica a poucos centímetros de mim, posso sentir o cheiro morango que vem dos seus cabelos.

Morango com chocolate.

— Menininha, você não deveria entrar na casa de desconhecidos, seus pais não te ensinaram que isso é perigoso? —Me aproximo mais. — Acho que você teve azar.

— Eu. É. Eu.

— Por hora vou aceitar essa desculpa, mas você vai ter que se explicar melhor sobre isso.

— Papai? — Yusuf está parado atrás de mim, segura nas mãos uma cartolina e vários lápis de cor. — Preciso de ajuda. Seher, você também tem que vir.

— Vamos, Yusuf. Já estamos indo, vocês podem começar.

Deixo que ele vá na frente e novamente viro de frente para Seher. Ela parece sair de seu torpor, desvia de mim e caminha em direção ao quarto. Antes que ela continue, seguro seu braço.

— Nossa conversa ainda não terminou, menininha. Mas vou te dar um tempo para pensar. Quero uma explicação melhor para você estar na minha casa sem ser convidada. —Solto seu braço e passo em sua frente. —Vamos, as crianças estão esperando.

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