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Sem escolhas certas

Por Mary:

   Ele me deixou sozinha no quarto, sem ao menos mostrar que se importa comigo, ou pelo menos com a própria filha. Na verdade, o Adam era um egoísta que quando não conseguia o que queria, partia para a chantagem emocional. Mas estou blindada quanto a isso e se for preciso amassar os meus sentimentos e queimá-los eu estarei disposta. Não quero passar por isso novamente, não pretendo mesmo.

O Dylan também está me dando muitos motivos para eu desistir do amor de vez. Eu não entendia seu comportamento no dia anterior. Ele simplesmente surtou, como se eu fosse a ocupada. Eu só queria saber sobre o que ele estava falando e porque parecia ser sobre mim. Eu não gostava que ninguém escondesse nada de mim, por mais doloroso que fosse! Eu queria a verdade, nua e crua, e eu iria a engolir. E essa situação toda me faz duvidar mais dele, coisa que eu não deveria. Adam e Ellie já deixaram óbvio que o meu namorado esconde algo de mim, porém não me contam. Eu até confio no Dy, sei que ele nunca faria nada de ruim para mim, mesmo que nada dessas merdas façam sentido o suficiente para eu duvidar dele.

A minha mãe não tardou a chegar. Eu sabia que ela estava preocupada e que mal havia dormido essa noite. Fiquei sabendo que ela e o papai foram embora beirando às três da manhã, depois de me verem e saberem se a Nina estava bem. Eu não queria dar susto em ninguém mas eu estava no pico do meu estresse. Desde que o Adam chegou, eu mal tenho dormido e isso afetou diretamente a Nina. Eu tinha que ter cuidado, não queria que nada acontecesse com ela e eu precisava me preservar. E sabia bem como isso poderia ocorrer.

Eu levei um garfada de mamão até a boca, vendo minha mãe sair do banheiro que havia no quarto. Eu estava com muita fome e um pouco enjoada. Era uma linha confusa entre comer tudo que eu quisesse e vomitar a maioria mais tarde. No dia anterior, a ultrassom ocorreu bem, apenas alguns alertas da obstetra para eu reduzir o açúcar nas minhas refeições e eu já fiquei mais desanimada pois adoro um doce.

A porta foi aberta bem devagar, como se a pessoa não quisesse ser vista entrando no quarto. O Adam me encarou de primeira, um tanto sério e seu rosto alegava não ter dormido tanto essa noite. Ele cumprimentou minha mãe que deu a desculpa que iria pegar um café e voltaria para que fôssemos embora.

— Como você está? — ele perguntou com a voz arrastada, se aproximando, e antes que eu protestasse, ele se inclinou e me deu um beijo na testa — E a ultrassom?

— Está tudo bem! — respondi dando atenção para as frutas cortadas em cubos na minha frente — Só preciso reduzir o açúcar. Não se preocupa. — dei de ombros, enfiando mais fruta na minha boca e me concentrando no sabor — Estou com 15 semanas já.

     — Isso está passando tão rápido... — ele balançou a cabeça pensativo, esfregando as mãos uma na outra — Precisamos começar a montar o enxoval e...

     — O Dy e eu já estamos vendo isso... — digo bem baixo, na esperança dele ouvir, mas o vi abrir a boca várias e várias vezes, porém desistiu, apenas abaixando a cabeça — Vai voltar para a Inglaterra já, não é? — perguntei como se mal soubesse, mas a Ellie havia me dito que ele voltaria amanhã.

     — Sim, meu voo é às 5 da manhã amanhã. — ele respondeu ainda sem me olhar — Queria passar o dia com você... digo, com a Nina. Isso, com a Nina. — se corrigiu se atropelando nas mesmas palavras — Tem problema?

     — Sim, teria. Mas eu não posso contra isso. — dei uma risada forçada — Talvez você nunca mais volte mesmo — comi o último pedaço de fruta e o Adam respirou tão fundo que o silêncio ficou constrangedor.

     Eu tinha tantos receios dele não voltar, nunca mais. Apenas registrar a Nina e pagar a porra de uma pensão inútil. Eu conheço o Adam e ele sempre foge das responsabilidades. Mas algo me diz que ele não faria isso, não com a Nina.

     — Eu não quero discutir com você, Mary. — deu de ombros e a porta se abriu — Sua opinião não vai mudar mesmo.

     — Pode levar as bolsas, querido? — minha mãe perguntou para o Adam, apontando para a poltrona e a expressão dele mudou, com um sorrindo reconfortante.

     — Claro, senhora Cooper. — ele disse me olhando no final e fez o que minha mãe pediu, logo saindo.

     — Amém que minha neta vai nascer perfeita. Com os pais assim. — disse para si mesma e depois me encarou — Não concorda? Só espero que não seja rebelde igual ao pai.

     Eu concordei, sabendo que caso isso ocorresse, eu teria muitos problemas. Eu fui ao banheiro me trocar e minha mãe ficou preocupada em eu não conseguir. Mas eu já estava bem, eu achava. Não faço a mínima. Gravidez é uma caixinha de surpresas.

     Quando descemos, o Adam já estava com o carro ligado, nos esperando e me ajudou a entrar e me sentar como se eu estivesse debilitada, sendo que eu estou andando normalmente, sem problema algum. Sei que, dependendo do Adam e dos meus pais, eu não iria mover um dedo.

    — Cuida bem dela, Adam, e não deixa essa ratinha comer doce. — minha mãe disse acompanhada de uma risada e bateu na porta.

     — Bom... — o Adam começou dando partida após deixar minha mãe em casa — quer passar em uma pizzaria antes? está com desejo de algo? ou...

      — Estou bem, Adam, não fique preocupado com isso — digo encarando a janela.

     — Eu estou tentando, Mary, mas qual a porra do seu problema? — ele segurou o voltante com tanta força que a ponta dos dedos ficaram brancas — Sempre me afasta como se eu fosse fazer algo ruim.

     — E não está fazendo? — viro me rosto, o olhando com a sobrancelha erguida — Você sempre faz algo de ruim para mim, só que é egoísta o suficiente para não admitir. — cruzo os braços — Foi a porra de um filho da puta me deixar sozinha no hospital para comer a vadia da sua namorada.

     — Eu não fui ver a Lind. — ele disse ficando impaciente — Eu... porra, Mary! — sua voz começou a ficar rouca — Eu estou tentando digerir essa merda toda e ainda o fato de você não querer nada comigo. De eu não poder construir uma família com você, de que o Dylan vai ser o cara presente na vida da minha filha... Tudo vai ser pra ele. Como se eu fosse o vilão aqui. — o Adam apoiou o cotovelo na janela aberta — Não é justo com você, e muito menos comigo... — a voz embargou no final e o meu coração se apertou

     — Foi o que você escolheu, Adam. — balancei a cabeça e dei uma risada, me achando hipocrita — Você me deixou duas vezes. Tinha escolha e a fez. Não pode simplesmente voltar e achar que eu estarei disponível. — pisquei algumas vezes, tentando conter as lágrimas que brotaram em meus olhos. Eu não poderia ser fraca agora.

     — Eu sei, eu sei. — disse acompanhado com um soluço — Mas dói, é horrível! — ele bateu no volante e foi a minha vez de olhar para o mesmo e vi seu rosto inundado — Eu te amo pra caralho e sei que não mereço nada que te envolva. Mas você é tão... eu não sei explicar, você é tudo que eu sempre tive, não tem um nome exato. — a velocidade foi diminuindo e o Adam começou a soluçar cada vez mais.

   Ele parou o carro no acostamento e escondeu o rosto nos braços apoiados no volante. Eu estava assustada. Por que isso repentinamente? Eu não entendia. Meu corpo se arrepiou e eu fiz o que menos esperei, eu me inclinei e o abracei, sem saber o que fazer. Dois desesperados por amor, por atenção, por paixão. Por nós dois. As brigas que não valem de nada porque terminamos juntos no fim porque o que sentimos é mais forte, mas agora... eu não sei, é confuso. Eu não tenho tanta certeza do que quero para a minha vida e se o Adam está envolvido.

    — Não faz isso... — ele tentou se soltar do meu toque e eu segurei mais forte.

     Eu empurrei um pouco, para que ele ficasse ereto no banco e me impulsionei, passando as pernas por ele e deixando uma de cada lado, me sentando em seu colo e voltei a abraçá-lo, mais forte, com mais sentimento, com mais arrependimento. As batidas de nossos corações batiam tão sincronizadas que me assustavam. O Adam agarrou minhas costas e suas lágrimas molharam meu ombro. Permanecemos assim até o Adam se recuperar e eu me arrepender de não querer nada com ele.

Nossas verdadesWhere stories live. Discover now