Capítulo 7: Terras de Castylha.

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Por alguns segundos, tudo que Seth fez foi me encarar, como se estivesse em dúvida sobre ter ouvido ou não aquilo de mim. Mas eu tinha certeza do que precisava fazer. Desejei muito poder me vingar daquele elfo e agora tenho isso nas minhas mãos. Não me importo com Seth ser a chave pra isso.

—Achei que iria pensar melhor nisso, antes de dizer sim. —Comentou, pressionando os lábios, como se quisesse conter todos os sentimentos dentro de si. —Mas acho que sei o porque de estar aceitando com tanta rapidez.

Fiquei em silêncio, me voltando para os fantasmas que flutuavam pelo jardim. A maioria ignorava nossa presença, mas outros lançavam olharem curiosos na minha direção, como se estivessem surpresos com minha presença ao lado de Seth. Porque ele era o príncipe, não eu. Porque o pai dele estava sentado no trono, não o meu.

—Tem mais uma coisa. —Afirmou, fazendo meus olhos se voltarem para os dele. O silêncio se seguiu, com nós dois nos encarando, como se quiséssemos desvendar mais um do outro. Mas então ele desviou os olhos para o chão. —A condição de meu pai, para permitir que você fosse libertada, era que não fosse apresentada ao reino como Evangeline Hayes.

—O que? —Soltei o ar com força, sentindo meus músculos se enrijecerem. —Não entendo.

—Você ganhará um novo nome e título. —Afirmou, me encarando com cautela. —Será Charlote Fontaine, filha de um duque das terras de Castylha.

—Está brincando comigo? —Indaguei, apertando minhas mãos em punho, antes de me voltar pra ele. —Quer eu vire outra pessoa? Pra ninguém desconfiar do seu maldito pai?

—Ele exigiu isso, pra me deixar ir liberta-la. —Afirmou, sem se importar com o fato de eu estar furiosa e com vontade de rasgar seu pescoço. —Eu aceitei, porque sabia que ele jamais me deixaria chegar perto daquela torre. O seu nome é uma faísca pronta pra explodir, princesa. E meu pai faz questão de apagar qualquer resquício da sua existência, pra que essa explosão jamais aconteça.

—Não vou ser chamada de Charlote ou seja lá quem. Não vou virar outra pessoa! —Afirmei, cerrando os dentes e erguendo o queixo para enfrentá-lo. —Não vou permitir que vocês elfos mudem minha história!

—Não estou mudando sua história, Evangeline. —Ele se afastou, como se estivesse me dando a vitória. Mas eu sabia que estava longe disso. —Estou tentando salvá-la.

—Eu não acredito em você! —Afirmei, sentindo meu sangue esquentar. —Sou Evangeline Hayes, princesa de Delarian e rainha por direito do trono. Seu pai pode até tentar, mas jamais vai mudar isso.

—Então pode ir para nossa casa de campo e esperar que um dia ele morra. —Seth afirmou, tentando controlar o tom de voz. —Ou espere ele ir até você para matá-la. Porque é isso que ele vai fazer se você o ameaçar.

—Eu não o ameacei. —Falei, sentindo minha pulsação começar a diminuir. —Ainda.

Seth pressionou os lábios em negação, com os ombros um pouco caídos e os olhos me fitando com uma intensidade desconcertante. Mas não desviei os olhos dele um segundo sequer. Não estava me importante se aquele era um jogo perigoso. Eu sabia muito bem que era. Mas eu o derrubaria, viva ou morta.

—Eu entendo você. Mas eu gostaria que você tentasse ser mais racional, sem pensar apenas na raiva que sente por nós. Por ele. —Ele desviou os olhos para o chão, parecendo pensar longe. —Eu te disse já, mas vou repetir. Fazer isso está me custando muito. Você não pode fazer ideia do quanto. Mas não me importo de perder, não quando sei que estou fazendo a coisa certa.

E antes que eu conseguisse retrucar, o que eu certamente faria, ele saiu da sala.

[...]

Eu não dormi. A cama era macia demais e em um momento da noite fui parar enrolada nos lençóis, no chão duro. Tudo ao meu redor me fazia lembrar que não estava mais naquela torre. E eu tinha medo de apagar e acordar lá de novo, percebendo que tudo aquilo era apenas um sonho maluco. Ou só mais um pesadelo recorrente.

Quando o sol nasceu, fiquei sentada na cama, encarando a porta enquanto esperava Seth passar por ela. Mas ele não apareceu. Foi uma bruxa de cabelos negros ondulados e olhos ardentes que passou por ela, trazendo meu café da manhã e outro vestido, de tom negro, junto com um par de botas, diferente do sapato anterior, que ainda estava ao lado da cama, intocável com seu salto fino demais pra mim.

Não ousei perguntar onde Seth estava, quando ela começou a preparar a banheira pra mim, mesmo que estivesse curiosa pra saber. Também tentei ignorar os momentos que ela falava comigo, como se de alguma forma, ela fosse se transformar em um elfo também.

—Sua alteza a aguarda, em uma hora, no jardim para que possam partir o mais cedo possível. —A bruxa declarou da porta, antes de me lançar um olhar cauteloso e então sair.

Eu demorei mais que uma hora. Primeiro porque me demorei tomando café, provando cada comida deliciosa que havia sido deixada para mim, e que parecia um sacrilégio não serem ao menos provadas. Depois, me demorei no banho. A água da banheira estava deliciosamente quente e perfumada, tanto que me fez relaxar, caindo no sono por alguns instantes, antes de ser acordada pela água já fria.

E então teve o vestido. Era impossível fechar tantos botões sem a ajuda de alguém. Mas consegui fazer isso depois de alguns bons minutos. Me permiti experimentar a bota, sentindo meus pés confortáveis dentro dela, o que era muito bom. Os últimos minutos gastos foram na frente do espelho, onde me encarei por longos minutos.

Havia esquecido da cor dos meus cabelos, por que não havia espelhos na torre. Apenas o reflexo sujo da água no chão. Meus cabelos, com um tom amendoado estavam iluminado pela luz do sol que infiltrava pelas janelas. Estavam úmidos e um pouco ondulados. Grandes demais. Quando eu conseguia, cortava algumas partes na torre, com cacos de vidro que encontrava no chão. Mas nada que os deixasse bonitos.

Meu rosto estava pálido demais, já que fazia muito tempo que eu não pegava sol. Meus lábios, brancos como papel e meus olhos apagados, com um tom que perecia cinza. Toquei minhas bochechas magras. Então fui para os meus cabelos, deslizando a mão sobre os fios emaranhados e quebrados.

—Posso pedir para alguém corta-los. —Dei um pulo para trás, me virando para encarar Seth, na porta do quarto. —Perdão, não queria assusta-la. Mas você estava demorando e eu fiquei preocupado.

Encolhi meus ombros, sentindo meus músculos enrijecerem quando minha mente se negou a aceitar aquela preocupação vindo dele. Seth continuou olhando para mim, esperando que eu falasse algo.

—Ou para fazerem uma trança neles. Penso que ficariam... bonitos. —Ele encolheu os ombros, tentando ser gentil, mas parecendo não saber como. Corei e desviei os olhos dele, com meu coração disparando no peito quando não soube o que aquilo significava. —Você gostaria?

Quase disse sim. Mas a lembrança de quem ele era me fez pressionar os lábios e negar com a cabeça, finalmente me permitindo sair do quarto ao desviar dele.



Continua...

O Trono da Rainha Where stories live. Discover now