Capítulo 31: Filho bastardo.

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Eu me afastei de Zion, indo para o outro lado do quarto, bem longe dele. Não conseguia olhar pra ele e sequer respirar perto dele ao ouvir aquilo. Parecia que minha cabeça havia parado de funcionar com aquelas últimas palavras dele.

—Ele não contou a você. —Constatou, soltando uma risada. —Aquele maldito bastardo é um grande mentiroso, vossa alteza. Tudo que ele é, é uma farsa.

—Isso não faz sentido. —Afirmei, quase num sussurro, me virando para ver Zion me olhando com um brilho de diversão nos olhos. —Como isso pode ser verdade? Como?

—Nos dois nascemos no antigo território dos elfos. Nessa época aquele lugar era uma vila de elfos, que meu pai, nosso atual rei, liderava. Governava. Ele, assim como a sua esposa, tinham muitos amantes. —Zion deu de ombros. —E eu e o príncipe somos a prova disso.

—De quem você é filho? Onde está sua mãe? —Indaguei, vendo ele dar um passo na minha direção e hesitar.

—Minha mãe mora no antigo território dos elfos. Algumas vilas ainda persistem lá. Ela era amiga da atual rainha e quando ela descobriu sobre o caso, obrigou o rei a expulsa-la para aquelas terras. —Zion sorriu, tão largo que os olhos chegaram a ficar menores. —Mas ela não pode me afastar do rei. Não quando o rei também descobriu sobre os amantes da rainha. Ele descobriu isso quando Seth ainda era criança, logo após tomar este reino dos seus pais. Então brigou com a rainha e me trouxe para morar aqui no castelo.

Meus lábios se comprimiram e eu apertei aquela adaga, porque Zion sabia quem eu era. Ele, assim como Fitzy, sabiam toda minha história com o rei.

—Ele matou o amante da rainha. O pai de Seth. —O general começou a andar pelo quarto e eu avaliei minha distância até a porta que dava para os aposentos de Seth. —Mas não revelou nada a ninguém, porque já estava criando ele como seu filho. Seria... vergonhoso demais para um rei revelar que sua mulher o traiu e ele criou o filho de outro sem saber. Ainda mais aquele que um dia se sentará no trono.

—Você odeia isso, não é? Ele ser o herdeiro e não você, o verdadeiro filho. —Afirmei, vendo ele exibir uma expressão de desgosto, ao mesmo tempo que frustrada.

—Meu pai tem planos em relação a isso, vossa alteza. Ele se livrou dos seus pais, não é? Acha que não vai se livrar de um bastardo nojento que vive batendo o pé para as decisões dele? —Deu de ombros, e eu estremeci com o que aquilo poderia significar.

—Seth sabe? Ele sabe que não é filho do rei? —Indaguei, surpresa com como meu tom de voz saiu apreensivo.

—Ah, ele sabe sim. —Zion soltou uma gargalhada rouca de puro prazer que fez meu estômago se revirar em reprovação. —Pergunte a ele, princesa... pergunte a ele qual foi a sensação de levar uma surra com um chicote. Por tantas horas e até ele não conseguir levantar por dias de tão fraco e de tanta dor. Ele odeia o rei com todas as forças por isso. E ele odeia a mãe com a mesma intensidade por ter permitido que isso acontecesse.

O horror deveria ter ficado exposto no meu rosto, porque o sorriso de Zion ficou tão grande que não consegui mais olhar pra ele, sem pensar no quanto Seth deveria se sentir em relação a isso. Quantos anos ele deveria ter quando isso aconteceu.

—O rei pretende matá-lo? —Questionei, percebendo o quanto meu sangue ferveu ao pensar naquilo.

—Ele pretende matar muitas pessoas. —Zion deu de ombros. —O filho bastardo não seria uma perda tão grande perto de outras mortes.

Certamente eu também estaria nisso. Ele não mataria Seth sem se livrar de mim ao mesmo tempo.

—Vê, querida, como eu sou a melhor escolha pra você. No final das contas eu sou o herdeiro e não ele. —Ele deu um passo na minha direção e eu ergui a adaga de novo, apontando na direção dele com a expressão mais fria que podia no meu rosto. —Você me prometeu um beijo.

—Minhas perguntas ainda não acabaram. —Afirmei, vendo-o engolir em seco e acenar para que eu prosseguisse. —Onde Fitzy entra nisso tudo? O que meu guarda pessoal tem com Seth?

Ele passou a língua nos lábios, alisando as roupas que usava. Meu coração disparou e eu dei um passo na direção da porta que dava para o quarto de Seth. Tinha certeza que se tivesse que escolher entre usar a adaga e fugir, usaria a adaga. Mas também precisava de um plano B. Não queria ter encontrado ele nessa situação.

—Pelo visto ele não contou absolutamente nada a você. —Zion estalou a língua, me avaliando quando deu mais alguns passos pelo quarto. Para minha felicidade, para longe de mim. —Lembra do amante da rainha, morto e verdadeiro pai dele? Bem, ele também possuía uma esposa e um filho.

—Fitzy? —Soltei uma respiração pesada, sentindo o choque daquelas palavras nos meus ossos. —Fitzy é meio irmão de Seth?

—Ele é. —Ele soltou uma risadinha sarcástica. —Seth correu atrás da verdadeira história depois da surra que levou do rei. Ele descobriu sobre a morte do pai e sobre a família dele. Quando tinha 15 anos, o suficiente para rebater as ordens do rei e usar a influência da mãe ao seu favor, trouxe o irmão para castelo. Fez com que ele treinasse com a guarda real. Fez com que ele se tornasse o melhor com uma espada e um arco. Depois disso, onde Seth estava, Fitzy também estaria. Era como uma sombra do príncipe. A vista de todos, um guarda em quem o príncipe confia muito. Mas entre quatro paredes, o meio irmão que Seth faz de tudo para manter por perto e em segurança.

Irmãos. Fitzy e Seth eram irmãos. Isso explicava todos os olhares que eles trocavam. A forma como Seth travava Fitzy e como o próprio Fitzy se preocupava com ele. Isso explicava porque Seth confiou minha vida a ele. Porque eu era sua esposa e Fitzy seu irmão. Porque éramos os únicos com quem ele se importava.

—Você me deve um beijo... —Ele tentou se aproximar, mas eu recuei.

—Saia daqui! —Exclamei, apontando para a varanda, vendo a expressão de desapontamento no rosto dele. —Saia daqui agora!

—Mas...

—Apenas saia e não volte aqui amanhã à noite. Espere que eu vá o procurar, entendeu? —Indaguei, vendo a frustração nos olhos dele quando me encarou. —Você entendeu?

Ele mordeu o lábio e assentiu, me olhando por alguns segundos antes de ir até a varanda e desparecer. Desabei no chão, sentindo meu peito se apertar e algo frio e afiado perfurar a boca do meu estômago. Uma raiva diferente de qualquer outra.



Continua...

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