Capítulo 19: Eles estão procurando por você.

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Olhei para Fitzy, pensando em como poderia me livrar dele por alguns segundos para conseguir falar com Violet a sós. Mas ela parecia saber que meu problema era esse, porque surgiu no meio do jardim, assustando todos os elfos que andavam por ali.

—Olá, queridos! —Violet acenou para todos, atravessando o corpo de alguns dos elfos, os fazendo gritar e cair no chão de susto. Fitzy se aproximou de mim, como se de alguma forma ele pudesse me proteger de um fantasma. —Essa comida parece deliciosa, eu certamente comeria se ainda estivesse viva.

Olhei na direção do castelo, antes de me voltar para Violet que estava a metros de mim agora, recebendo olhares atravessado de todos os elfos que estavam ali, enquanto flutuava por entre as mesas e corpos.

—O que pensa que está fazendo? —A rainha se aproximou dela furiosa, enquanto alguns guardas eram chamados. —Vá embora, fantasma. Vocês não são bem-vindos aqui!

—Que isso, vossa majestade, pra que a grosseria? —Violet jogou os cabelos brancos para trás. —É por isso que a maioria fica falando mal da senhora por aí.

—Que história é essa? —A rainha olhou ao redor, enquanto eu percebia a atenção de Fitzy no fantasma a nossa frente. Dei um passo para trás, querendo me afastar sem que ele visse.

—Oh, a senhora não sabe? —Violet soltou uma risadinha e se inclinou para perto da rainha, que ficou pálida e arregalou os olhos. —Dizem que a senhora tem dois pares de chifres imensos na sua cabeça. —Os elfos ao redor arfaram, enquanto a rainha ficava ainda mais pálida que a fantasma. —Eu sou muito curiosa, majestade. Pode me dizer se isso é verdade ou não? Prometo guardar segredo.

Não fiquei para ouvir o surto da rainha. Disparei para longe enquanto a atenção de Fitzy continuava em Violet. Passei pela lateral do castelo, desviando dos guardas que corriam para tentar ajudar a rainha. Olhei para trás quando virei em uma das laterais do jardim, percebido que Fitzy não tinha vindo atrás de mim ainda e provavelmente ainda não tinha percebido que eu havia sumido.

Segurei a saia do vestido e andei mais rápido, desviando dos arbustos, árvores e fontes que haviam pelo jardim, até parar de ouvir o som das conversas naquele outro lado do jardim. Só parei de andar quando cheguei aos fundos do castelo, dando de cara com a grande cerca viva que percorria todo jardim, antes de formar um imenso labirinto.

Eu conhecia aquele labirinto muito bem. Estava ali na época do meu pai. Eu costumava brincar ali quando era criança, usando as passagens secretas que estavam escondidas dentro dele. Ainda lembrava da sensação de estar correndo por entre os corredores de cercas vivas.

Caminhei até a entrada, observando a silhueta do início do labirinto antes de entrar e desaparecer do jardim. Segui em frente, escolhendo uma das bifurcações quando a primeira delas surgiu. Estava olhando para a grama embaixo dos meus pés e para as roseiras plantadas em alguns bifurcações quando Violet apareceu, atravessando o muro verde bem na minha frente.

—Vossa alteza! —Ela fez uma reverência desengonçada, parecendo estar fazendo de propósito. —Seu guarda já notou seu sumiço. Mas acho que ganhei algum tempo. —Ela sorriu. —E meus parabéns pelo casamento.

—Você descobriu algo? Achou o que eu pedi? —Indaguei, com o coração disparando dentro do peito quando o sorriso no rosto dela aumentou.

—Sim, eu achei o que você queria. As duas coisas, a propósito. —Ela flutuou ao meu redor, erguendo a mão e roçando a ponta dos dedos no meu braço. Senti um arrepio percorrer meu corpo com a sensação fria pela minha pele. —Mas tem que me permitir entrar no castelo. Se fizer isso... posso ajudá-la de novo.

—Nem me disse o que sabe e já está me oferencendo ajuda? —Ergui as sobrancelhas, me afastando dela. Violet jogou os cabelos para trás e soltou uma risadinha. Não pude deixar de notar a marca que havia na garganta dela, como se algo muito apertado tivesse sido colocado ali.

—Existe uma coisa que fantasmas odeiam mais que os vivos, vossa alteza. A maioria de nós só está aqui por conta de Castiel Ferraz. Será uma honra ajudá-la a infernizar a vida dele. —Afirmou, com a voz ficando um pouco fria e áspera. —Vai querer minha ajuda ou não?

—Sim, claro que sim. —Falei, com uma pontada de desconfiança, porque não sabia se podia de fato confiar nela. —A noite, quando eu estiver no meu quarto, suba até minha varanda que permitirei que entre no castelo. Agora me diga o que descobriu.

Ela estalou a língua flutuando pelo labirinto, me obrigando a segui-la, enquanto a ansiedade queimava nas minhas veias.

—Você me pediu para descobrir onde os humanos que se erguem contra o rei estão. —Violet baixou o tom de voz, deixando-a quase impossível de se ouvir. —Não foi difícil descobrir. Falei com alguns fantasmas aqui e ali.

—Então? —Ela se virou subitamente, ficando com o rosto rente ao meu.

—Eles estão no lugar que os vivos tanto temem e que ninguém de carne e osso tem coragem de ir. —Murmurou, olhando fixamente para os meus olhos. —O acampamento deles fica na parte mais sombria e morta do reino.

Soltei o ar com força, sentindo algo frio rastejar pelas minhas veias. Sabia de qual lugar ela estava falando. E apesar do desconforto, entendia bem porque eles haviam escolhido aquele lugar para se esconder. Aquelas terras pertencem apenas aqueles que já não estão mais vivos.

—O rei não desconfia que eles possam estar lá, porque sua mente é pequena demais para entender que os humanos não são covardes como ele pensa. —Violet se afastou e seu sorriso se alargou. —Ele imagina que eles estão em algum ponto das florestas enfeitiçadas, escondidos por alguma magia.

—Mas eles não estão. —Falei, muito baixo, engolindo o nó que se formou na minha garganta. —E os meus irmãos? Eles estão vivos? Estão bem e seguros?

—Os seus irmãos? —Violet soltou uma gargalhada, me fazendo dar um passo pra trás. —Eu os vi, vossa alteza, nas terras que ninguém tem coragem de ir, no meio de um acampamento de humanos. Eles são a alma e a mente daquele lugar... e eles estão procurando por você.



Continua...

O Trono da Rainha Where stories live. Discover now