Capítulo 51: Ela vai arrancar seu coração.

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Soltei uma risada baixa, antes de erguer a mão e esfregar minha bochecha dolorida. A rainha estava ofegante, vermelha e parecendo com ainda mais raiva quando me recompus e olhei pra ela, antes de perceber que Seth estava ali, logo atrás dela, encarando minha bochecha com o rosto curvado em uma expressão dura.

—Seth? —A rainha se virou pra ele, parecendo surpresa com o fato de ele estar ali.

—Ela tem razão, sabia? —Ele enrugou os lábios em resignação. —Eu desprezo tanto você, mãe. Tanto que você não faz nem ideia. Sinto repulsa de você e de mim mesmo toda vez que preciso interagir com você na frente dos outros e fingir que sinto algo além de nojo.

—Você não sabe do que está falando! —Ela grunhiu pra ele, com os olhos ficando vermelhos de nublados com lágrimas. —Eu sou sua mãe. Eu criei você, te dei amor e carinho!

—Amor e carinho? —Seth se aproximou dela, com o rosto tão frio, que pensei que ele iria bater nela. —Eu tinha nove anos quando ele descobriu sobre seu amante. Eu tinha nove anos quando ele invadiu meu quarto e me bateu até eu desmaiar de dor e quase morrer sangrando quando fui deixado sozinho e trancado lá por horas.

O sangue latejou na minha cabeça quando ouvi aquilo e eu precisei desviar os olhos para o chão, sentindo o jantar subir até minha garganta quanto tentei pensar no horror que ele havia vivido ali, sendo criado pelos dois.

—Eu não podia fazer nada. —A rainha sussurrou, agora com o rosto pálido e vazio. —Ele matou seu pai. Ele me ameaçou, Seth. Fiz tudo que estava ao meu alcance para te proteger.

—Não, você não fez. —Seth ergueu o queixo, estalando a língua. —Você se sentou e observou enquanto ele fazia essas coisas. Você se contentou em virar a esposa perfeita para não perder o posto de rainha que lutou tanto pra ter. O posto que você fez tanta questão de me usar para conseguir.

—Eu transformei você em príncipe. Eu transformei você em herdeiro do trono! —Exclamou, se aproximado para tocar nele, mas Seth desviou das mãos dela como se estivesse prestes a vomitar com qualquer contato com ela.

—Eu não queria nenhuma dessas coisas, mãe. Eu jamais quis. —Ele desviou dela, vindo até onde eu estava, deslizando a mão macia e quente pela minha bochecha dolorida com carinho. —Nunca mais toque na minha esposa. Ela é boa demais para ficar suja com as suas mãos imundas.

—Boa demais? —A rainha soltou uma risadinha sarcástica, olhando para nós dois com a raiva voltando para o rosto. —Ela vai matar você quando conseguir o que quer. Ela vai arrancar seu coração quando se cansar dessa brincadeira de casamento. Você viu o que ela fez com o general.

—Ela já arrancou meu coração, mãe. —Seth segurou minha mão, olhando pra ela por cima do ombro. —Você só não percebeu isso ainda.

Ele entrelaçou nossos dedos e me puxou para sairmos dali, com o peso das últimas palavras esmagando meu próprio coração.

[...]

Fitzy estava de pé no meio do pequeno escritório quando entramos, parecendo aliviado ao ver nós dois ali, bem e seguros. Seth me segurou, me virando enquanto fechava a porta com o pé, antes de tocar na minha bochecha e a avaliar.

—Eu estou bem. —Falei, sentindo a atenção dele não se desviar dali. —Eu já disse que estou bem!

Eu me afastei do toque dele, observando ele comprimir os lábios em frustração quando caminhei para perto da mesa de madeira cheia de papéis e livros.

—Você já decidiu o que fazer? —Indaguei, observando os olhos de Fitzy viajarem de mim até Seth diversas vezes.

—Eu já pensei em algo que pode ganhar a confiança deles. Mas é muito arriscado pra nós dois. —Afirmou, dando a volta na mesa e se sentando na cadeira estofada atrás dela, mas com os olhos em mim. —Arriscado o suficiente para nós deixar completamente expostos.

Umedeci os lábios com a língua, sentindo o peso daquela adaga escondida na saia do meu vestido. Seth se inclinou na cadeira, escorando os cotovelos na mesa.

—Sua amiga fantasma já foi até eles?

—Já sim. Meus irmãos não devem demorar. —Eu esfreguei minhas mãos, sentindo minha pele suada pelos acontecimentos no corredor. —Posso falar com eles sobre isso. Podemos deixá-los em alerta e preparados pra qualquer coisa.

—Eva... —Seth olhou para Fitzy e hesitou, enquanto o irmão engolia lentamente e assentia com a cabeça, antes de sair da sala e nos deixar sozinhos. —O plano que tenho não é fácil. Se algo der errado... eu...

—Você o que? —Indaguei, erguendo as sobrancelhas em alerta.

—Você confia em mim? —Perguntou, me pegando de surpresa.

—Eu contei a você sobre meus irmãos. É claro que confio em você. —Sibilei, vendo-o soltar uma respiração pesada que pareceu doer dentro dele.

—As vezes eu acordo à noite e fico olhando você dormir ao meu lado, sabia? Aconchegada no meu corpo de forma tão calma, parecendo sentir-se aquecida, segura e saciada. —Ele sorriu, balançando a cabeça negativamente antes de se recostar na cadeira e fechar os olhos. —Fico me perguntando o quão sortudo eu sou por ter encontrado você, me casado com você e ter a oportunidade se tê-la dessa forma. Quero que saiba que minha única intenção aqui é mante-la segura. Não me importo de morrer nesse castelo, Eva, contando que eu saiba que você e Fizty estarão seguros e felizes...

—Não fale como se fosse morrer. —O cortei, com meu coração martelando dentro do peito. —Eu sou sua esposa.

—Você é minha rainha antes disso. Vou sacrificar qualquer coisa por você. Absolutamente qualquer coisa, Eva. —Ele afastou a cadeira quando eu dei a volta na mesa, me permitindo ficar entre a mesa e ele.

—Então sacrifique qualquer coisa que mantenha nós três em segurança. Não só eu e Fizty. Nós três. —Afirmei, sentindo o ar se prender na minha garganta quando ele ficou de pé, me obrigando a erguer o queixo para encarar os olhos dele. —Eu... eu preciso de você. Não posso e não quero fazer isso sozinha.

—Você não vai. —Ele deixou um beijo casto nos meus lábios, antes de levá-los até minha bochecha e depois descer até meus ombros, garganta e busto. —Essa é a jogada mais importante de todas e nós não vamos perdê-la.


Continua...

O Trono da Rainha Where stories live. Discover now