Capítulo 12: Vossa majestade.

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Senti as mãos de Sarah percorrendo meus cabelos e o som da tesoura toda vez que ela os cortava. Estava dentro da banheira, sentindo a água morna relaxar todos os meus músculos.

—Você deve ouvir os boatos sobre este reino. Sobre como os elfos traíram os antigos reis humanos e tomaram o controle do reino. —Sarah hesitou, como se estivesse falando a coisa errada. —A maioria dos humanos aqui não fala muito sobre esse acontecimento por medo.

—Não vou contar a ninguém o que me falar, Sarah. —Prometi, encarando a água ao redor do meu corpo. —Sou humana como você. Entendo vocês quanto a isso. É estranho pra mim estar em um lugar cheio de elfos.

—Bem... eu era uma criança quando aconteceu. Sei que os elfos moravam em vilas entre as montanhas e o rio. Não eram nada próximos de um reino. Apenas vilas que sua majestade, nosso atual rei, governava. —Ela continuou a cortar meus cabelos, parecendo perdida em pensamentos. —Então eles começaram a aproximação com o nosso antigo rei humano. Ele falava que queria melhorar a condição dos elfos naquelas vilas, mas que precisava da aliança do reino. Ele queria unir seu povo ao reino.

—Queria que as vilas dos elfos se tornassem cortes de Delarian. —Falei, porque eu me lembrava muito bem daquele lado da história.

—Exatamente. O antigo rei era bondoso e justo e não pensou muito sobre isso. Ele queria ajudá-los e pensava que isso também poderia ser bom ao reino. Você sabe, todos os outros reinos são inteiramente de humanos. Delarian é o único que abriria portas para outra espécie. Pelo menos era isso que o rei pensava. —Ela soltou a tesoura e começou a pentear meus cabelos, ficando em silêncio por alguns segundos. —Dizem que eles atacaram na calada da noite. Que o rei e rainha nem tiveram a chance de entender o que estava acontecendo antes de serem mortos pelos elfos.

—E os filhos deles? —Indaguei, sentindo Sarah ficar um pouco tensa atrás de mim.

—Eu não sei bem. Dizem que os dois meninos... os gêmeos, foram mortos na hora do ataque também. Eles eram pequenos demais para fugir. Sobre a princesa existem apenas teorias. —Eu a olhei por cima do ombro. —Alguns dizem que ela morreu também, outros que o novo rei a prendeu e a trancafiou em um lugar que ninguém jamais poderá encontrá-la e por último, dizem também que ela é a líder do movimento contra os elfos. De qualquer forma, ninguém sabe ao certo. Só sei que agora estamos aqui, sendo governados por um elfo. Lá fora alguns da nossa espécie estão lutando e fazendo alianças para tentar derruba-lo. Mas o rei não parece muito preocupado com isso, apenas o príncipe.

—Seth?

—Sim, sua alteza preza muito pelo bem do povo. Não só dos elfos, mas dos humanos também. Ele é o primeiro a erguer a mão para intervir quando alguma decisão do rei ameaça a nossa espécie. —Sarah se inclinou para perto de mim. —Dizem que isso já causou muitas brigam entre ele e o rei, e que coisas estranhas sempre acontecem quando o príncipe faz algo assim.

—Que coisas? —Indaguei, me virando por completo para Sarah, vendo que ela parecia sem jeito de falar. —Ele é meu noivo, Sarah. Gostaria de saber.

—As pessoas aqui gostam de inventar boatos, senhorita. Tenho certeza que não é verdade. —Afirmou, comprimindo os lábios.

—E quais são os boatos? —Insisti, vendo ela abrir a boca para falar.

Sarah deu um pulo quando alguém bateu na porta dos aposentos e se apressou a sair dali, fechando a porta para me dar privacidade quando foi atender a outra. Mordi o lábio com força, afundando na água e me sentindo frustrada pela intromissão de quem quer que fosse.

Ainda haviam muitas coisas que eu queria saber sobre como o reino estava agora. E se eu não conseguisse tirá-las de Sarah, teria que arrumar outra pessoa para responder minhas perguntas.

[...]

Olhei para o espelho na minha frente, observando o vestido azul claro que eu usava e a trança que formava uma coroa na minha cabeça. Sarah havia levado um bom tempo fazendo ela e havia ficado perfeito. Seth havia aparecido algumas horas atrás, ficando sozinho comigo por algum tempo enquanto se empenhava em me ensinar a ler e escrever. Quando achou que era o suficiente, partiu e prometeu voltar logo para me buscar para o banquete.

Olhei para a porta quando alguém bateu e Sarah foi prontamente atender. Seth passou por ela, exibindo um ar casual como se nada estivesse anormal. Ele parou os olhos no espelho na minha frente, parecendo absorver a nova imagem que tinha de mim. Sem aqueles trapos velhos que me cobriam na torre, com a pele limpa e os cabelos cortados e arrumados. Eu parecia outra pessoa.

—Você está linda. —Ele se aproximou até parar do meu lado, abrindo um sorriso que não chegava até os olhos. —Pronta?

Balancei a cabeça afirmativamente, aceitando o braço que ele estava me oferecendo e permitindo que ele me guiasse para fora dos aposentos. Fitzy estava parado ao lado da porta como uma estátua e acenou para Seth quando nós passamos. Ele nos seguiu pelo corredor a uma certa distância, sem deixar exibir qualquer emoção no rosto.

—Você está bem? —Seth indagou, me olhando com certa cautela. —Sempre tem tanto a dizer e agora está tão silenciosa.

—Estou fazendo o meu papel. —Sussurrei, vendo os olhos dele se cerrarem em confusão. —Pensei que era isso que queria.

—Você não entende o que eu quero. —Rebateu, fazendo meu sangue gelar. —Você só está interessada no que você própria quer.

—E o que há de errado nisso? —Indaguei, um pouco rude, abaixando o tom de voz para que Fitzy não nos ouvisse.

—Nada, mas... —Ele parou de falar, voltando a olhar pra frente e negou com a cabeça. —Em outro momento conversamos.

Passamos por vários corredores, descendo alguns lances de escada antes de estarmos na frente de duas portas imensas de madeira. Meu coração se apertou, porque eu me lembrava muito bem do que havia do outro lado. Um enorme salão, com uma mesa de jantar longa de madeira negra. Eu costumava correr por esse mesmo salão nas noites que meus pais davam banquetes para seus amigos e familiares. Me lembro de observar meus irmãos correndo por ali e se escondendo embaixo da mesa.

Mas quando as portas se abriram, não foram meus pais ou meus irmãos que apareceram. A mesa estava repleta de comidas deliciosas. Cada cadeira estava ocupada por um elfo ou elfa diferentes, usando roupas chiques e joias brilhantes.

Na ponta daquela mesa, depois de duas cadeiras vagas, um elfo de longos cabelos escuros e lisos que caiam sobre seus ombros estava sentado no lugar que antes era do meu pai. Usava roupas azuis escuras com medalhas de algumas vitórias em batalhas no peito e o símbolo do reino estava bordado em seu ombro. Na ponta ao lado dele, de frente para as duas cadeiras vazias, havia uma elfa de cabelos castanhos iluminados e olhos negros que me avaliaram quando entramos.

A mesa toda ficou em silêncio e todos se levantaram para reverenciar o príncipe, enquanto ele me guiava até aquelas duas cadeiras vagas, as mais perto do rei e da rainha. Meu estômago se revirou com a sensação ruim que me atingiu e senti a mão de Seth tocar a minha que estava sobre seu braço, em um aperto que queria passar conforto.

—Meu rei. Minha rainha. —Seth e eu paramos ao lado da mesa, vendo a atenção de todos em nós. Seth fez uma reverência com a cabeça, mas eu estava dura como uma pedra de gelo e jamais faria o mesmo. Alguns elfos cochicharam ao nosso lado, parecendo curiosos. —Gostaria de apresentar a vocês a senhorita Charlote Fonteine, minha noiva e futura esposa.

Os olhos gélidos do rei me avaliaram como se eu fosse uma presa pronta para ser abatida. Ergui o queixo, trincando meus dentes antes que meus lábios se curvassem em um sorriso sínico.

—Vossa majestade. —Sibilei, soando falsamente alegre. —É uma honra finalmente conhecê-lo.


Continua...

O Trono da Rainha Where stories live. Discover now