Capítulo 61: Eu conhecia seus pais.

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Meus irmãos estavam tentando falar comigo a algum tempo, mas eu estava ocupada demais encarando aquela coroa no centro da mesa, sobre mapas e papeis antigos. Estava pensando em tudo que havia passado para chegar até ali e no que eu havia me tornado.

Minhas mãos estavam sujas de sangue, mas acho que no fundo elas sempre estiveram. Mesmo antes de eu sair daquela torre, todos os meus pensamentos eram relacionados em como matar cada elfo que entrasse no meu caminho, porque todos eles eram sujos e manipuladores.

Mas no final das contas eu acabei me apaixonando justamente por um deles. Justamente por aquele que entrou na minha vida quando eu ainda era só uma criança. Justamente aquele que ajudou, sem saber, os dois seres que eu mais odiava no mundo. Justamente aquele que desejava tanta vingança como eu.

Agora a rainha dos elfos estava morta. Seth estava por ai, fazendo o que quer que precisasse fazer e eu não fazia ideia se ele conseguiria chegar até aqui ou não. Eu estava com a coroa em mãos, mas tudo ainda era uma grande incógnita pra mim. Eu não fazia ideia de como tudo isso ia terminar.

Me aproximei da saída da barraca, olhando para o acampamento do lado de fora, vendo o movimento de todos aqueles humanos que agora depositavam sua confiança em mim. Lena estava ajudando aqueles que haviam tido que fugir do reino a se acomodarem ali. Fiquei aliviada ao ver os cabelos vermelhos de Sarah entre um pequeno grupo, antes de ela sumir dentro de uma barraca tão rápido quando havia surgido.

—Eva?

Tobias tocou no meu ombro, me fazendo sobressaltar e despertar dos meus pensamentos. Me virei e percebi que ele, Klaus e Fitzy estavam me observando com atenção, como se soubessem que eu não estava bem. Minha cabeça estava uma bagunça. Mas eu duvidava que estivesse mentalmente sã depois de tantos anos presa em uma torre sozinha.

—Desculpa, disse algo? —Falei, umedecendo os lábios com a língua, sentindo minha boca é minha garganta seca.

—Estava perguntando se você gostaria de tomar um banho e descansar. Foi uma longa caminhada até aqui por aqueles túneis e você ainda fico presa naquela cela. —Klaus saiu da barraca, indicando com a cabeça que eu o seguisse. —Venha, vou te mostrar onde você vai ficar.

Eu olhei para Tobias, vendo-o retornar para perto da mesa e se debruçar sobre aqueles mapas, enquanto Fizty permanecia com os olhos em mim, atento a cada emoção minha como se soubesse o que se passava na minha cabeça. E eu tinha certeza que sabia, porque Seth era seu irmão.

Deixei os dois ali, seguindo Klaus por aquele acampamento, sobre o olhar curioso da maioria das pessoas enquanto passávamos por eles. Ele me levou para uma barraca perto de onde ele e Tobias tinham as suas. O lugar era pequeno, com uma cama improvisada no chão. Na parte oposta haviam um biombo, escondendo uma pequena e antiga banheira.

—Vou pedir para trazerem água quente. Fique a vontade. —Klaus indicou o baú ao lado da cama. —Tem roupas limpas ali.

Então ele saiu, me deixando sozinha naquela barraca. Ela era pequena, mas agora que não havia mais ninguém ali além de mim, ela parecia maior, de uma forma que me deixava sufocada.

[...]

Me afundei na água da banheira, sentindo o calor relaxar todos os meus músculos doloridos. Já havia caído a noite e o acampamento estava mais silencioso do que esteve a tarde toda desde que chegamos ali. Klaus foi se juntar com Tobias após encher a banheira pra mim, dizendo que me daria privacidade e mais tarde traria o jantar.

Não estava com fome, ao mesmo tempo que parecia haver um buraco dentro do meu estômago. Eu queria apenas me limpar e afundar naquela cama para tentar dormir, apesar de achar que não seria tão fácil. Estava acostumada a dormir nos braços de Seth, com o calor do seu corpo contra o meu. Eu sabia que ele seria um veneno pra mim e eu estava certa.

—Olá, vossa majestade. —Eu abri os olhos, encontrando Violet na frente da banheira, me observando com toda sua aura acinzentada de fantasma.

—Pensei que você havia decidido partir desse mundo. —Comentei, vendo o sorriso que se abriu nos lábios dela. —Você sumiu.

—Minha visita seria de pouca ajuda pra você nesses dias. Eu não iria poder te tirar daquela cela, então... —Ela deu de ombros, flutuando ao redor daquela banheira, antes de sumir atrás do biombo e reaparecer ao meu lado.

—Como entrou aqui?

—Seus irmãos haviam autorizado minha entrada da última vez que vim dar seu recado a eles. —Ela se abaixou ali, com o rosto ficando da altura do meu. —Ele está bem, Evangeline. Por ora, ele está bem.

—Ele ainda está no reino? —Indaguei, vendo ela morder o lábio e balançar a cabeça que sim, me fazendo soltar uma respiração pesada. —E o rei?

—Ocupado demais pensando em formas diferentes e horríveis de matá-la. —Afirmou, com uma calma que me fez engolir em seco e sentir um arrepio mesmo dentro daquela água quente. —Você está indo bem. Chegou mais longe do que eu esperava.

—O que? —Eu soltei uma risada.

—Quando encontrei você pulando aquela varanda pensei que você não iria chegar tão longe. Que você iria apenas se contentar com o que o príncipe estava lhe dando. —Ela balançou a cabeça negativamente. —Mas você foi muito além. —Eu a encarei sem nem piscar, vendo o sorriso dela se tornar maior e mais sombrio. —Eu vi você correndo por aquela floresta com seus irmãos, Evangeline. Eu vi quando os colocou naquele barco e correu para o lado oposto para atrair os guardas. —A respiração se prendeu na minha garganta quando ela se inclinou para ainda mais perto de mim. —Eu conhecia seus pais. Eu trabalhava pra eles.

—Foi você. —Soltei, com meu coração chegando a boca. —Você pegou meus irmãos e os levou para Eridyan. Você voltou para Delarian para me procurar.

Ela balançou a cabeça que sim, com o sorriso se tornando dolorido em suas feições frias.

—E eu a encontrei. Eu a encontrei ao mesmo tempo que os homens do rei. Mas eles eram em maior número e eu apenas uma. Eu pretendia segui-los e saber o que eles fariam com você. Mas eles me descobriram. Quando tentei fugir, eles me pegaram. —Ela passou a mão pela garganta, onde a marca da corda estava. —Eu era general do exército dos seus pais. Eu falhei com eles, majestade, e depois falhei com você também. No final tive que ver aquele elfo imundo tomar o lugar que era meu no reino. —Os olhos dela pareceram brilhar, enquanto eu ainda absorvia cada palavra com o coração acelerado. —E foi delicioso ver o que você fez com ele depois que ele tocou no seu príncipe.

—Violet... —Tentei falar, sentindo minha garganta começar a se fechar.

—Eu consegui, não é? Eu não falhei com você dessa vez. —Ela balançou a cabeça negativamente. —Não desista, minha rainha, até os mortos sussurram seu nome.


Continua...

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