Capítulo 53: Ela é minha esposa.

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Houve um momento de silêncio entre nós, enquanto Klaus e Tobias apenas trocavam olhares, me deixando um pouco confusa.

—O que foi? —Indaguei, fazendo ambos voltarem a olhar pra mim. —O que está havendo?

—O casamento realmente aconteceu. —Tobias pareceu sem jeito ao olhar pra mim. —Ela é minha esposa.

—Sua esposa? A princesa de Eridyan? —Ele balançou a cabeça que sim, enquanto Klaus ainda olhava pra ele, parecendo avaliar a reação do irmão gêmeo. —Então o que eu ouvi sobre isso é verdade. Você se casou com ela pra conseguir o apoio e o financiamento de Eridyan na causa dos humanos.

—Não, não... Não foi por isso. Ou melhor, foi. —Tobias se atrapalhou, balançando a cabeça negativamente. —Não foi só por isso. Nós nos casamos porque... eu queria me casar com ela. —Eu ergui as sobrancelhas, piscando várias vezes enquanto tentava entender exatamente o que aquilo significava, porque Tobias ainda parecia hesitante. —Nos crescemos em Eridyan, Eva. O rei e a rainha nos criaram.

—Ah... —Eu soltei uma respiração pesada, um pouco surpresa ou até mesmo chocada com aquela informação. Porque de fato não havia falado com Tobias sobre isso a primeira vez que nos encontramos. Mas não era algo que eu poderia esperar. —Então vocês dois foram para aquele reino depois que tudo aconteceu?

—Sim. Quer dizer, a gente não se lembra de muita coisa. Éramos pequenos demais, você sabe. Mas temos vagas lembranças de quando você nos levou para aquele barco e ficou para trás como uma distração para que pudéssemos fugir. —Foi Klaus quem respondeu, engolindo muito lentamente. —O que a gente sabe é que alguém que trabalhava para os nossos pais nos encontrou e nos levou para Eridyan. Fomos deixados naquela muralha que protege o reino, com uma única carta explicando o que havia acontecido.

—A pessoa que nós encontrou e nos levou pra lá dizia na carta que o rei e a rainha haviam sido assasinados pelos elfos. —Tobias prosseguiu. —Pedia para que nos acolhessem, protegessem e cuidassem de nós até essa pessoa retornar, porque a princesa ainda estava desaparecida. Você ainda estava desaparecida e ela ou ele iria atrás de você. Quando os guardas nos encontraram fomos levados direto até o rei e a rainha e a carta foi entregue a eles. —Tobias passou as mãos no rosto, com uma expressão distante. —Só que a pessoa nunca mais voltou e você nunca foi encontrada. Quando Castiel se tornou rei de Delarian, o rei de Eridyan decidiu nos esconder e nos criar sem que os outros reinos soubessem.

—Então vocês viveram dentro daquelas muralhas? Dentro do castelo? —Indaguei, sentindo meu coração se apertar e minha garganta arder com uma ânsia de chorar que me invadiu.

Porque todos esses anos naquela torre eu tive medo de que eles não tivessem conseguido se salvar. Eu tive medo que o destino deles tivesse sido pior que o meu. Mas eles estavam seguros e sendo bem cuidados. E aquilo fez todo meu sacrifico valer a pena. Fez todos aqueles anos naquela torre solitária se tornarem menos horríveis do que são.

—Eva... —Klaus passou o braço ao redor da minha cintura, beijando minha testa. —Nos estamos bem. A rainha cuidou de nós como se fôssemos filhos dela. O rei nos ensinou tudo que sabemos hoje. Foram anos bons, apesar de tudo.

—Eu sei. Agora eu sei disso. —Eu limpei minhas lágrimas, abrindo um sorriso fraco pra ele. —Fico feliz em saber que vocês conseguiram chegar até lá. Tudo que pensei quando fiz aquilo foi na proteção de vocês dois.

—Você se sacrificou por nós, Eva, quando ainda era só uma criança como a gente. Agora está na hora de retribuirmos isso. —Tobias segurou minha mão, enquanto Klaus ainda me abraçava de lado.

—Nos crescemos dentro do castelo, sim. Junto com os dois filhos do rei. Eles nos deram apoio o suficiente até estarmos prontos para revidar tudo que aquele elfo havia feito. —Klaus continuou a história, enquanto afagava meu ombro. —Ele nos ajudou a reunir os humanos daqui pelas sombras. Ajudou a arma-los. Nos primeiros anos era ele quem dava as ordens de dentro daquele castelo. Mas queríamos fazer mais. Queríamos estar aqui. Então decidimos que era a hora de partir e retornar para o nosso verdadeiro lar.

—Voltamos a Delarian a dois anos. 16 anos certamente não é idade pra se meter no meio de uma situação como essa, mas já havíamos passado por coisas muito piores. —Tobias passou a mão no rosto, dando alguns passos para trás. —E certamente não é idade para se casar. Mas ela era dois anos mais velha que eu e estava disposta a isso. Ela também queria. Então, eu me casei com a princesa porque seria uma aliança perfeita e principalmente porque eu queria. Nós crescermos juntos. Nós dois... nós dois gostávamos um do outro. Parecia a coisa certa a se fazer. Eu não queria partir e voltar anos depois só pra descobrir que ela havia se casado com outro. Então eu a pedi em casamento e ela aceitou na mesma hora. Mas eu precisava partir e queria que ela ficasse em segurança lá.

—Mas ela não aceitou isso. —Falei, vendo ele balançar a cabeça que sim.

—Tivemos uma única noite juntos depois do casamento antes de eu e Klaus finalmente voltarmos para Delarian. Eu prometi a ela que quando tudo se resolvesse, eu voltaria pra ela. Eu iria buscá-la. Mas semanas depois da nossa chegada aqui, o rei nos enviou uma mensagem contando que ela havia fugido. —Tobias soltou uma risada fraca, balançando a cabeça enquanto comprimia os lábios. —Ela havia deixado uma carta avisando que viria pra cá. Que lutaria conosco.

—E onde ela está? —Indaguei, vendo ele encolher os ombros.

—Nos não sabemos. Ela não foi pro acampamento. —Klaus olhou pra mim com uma expressão séria. —Procuramos por ela, mas ela simplesmente sumiu.

—Ainda estamos procurando por ela, Eva. Mas... as minhas esperanças já estão completamente acabadas. —Tobias afirmou, e eu pude ver o quanto dizer aquilo doía nele. —Odeio pensar que ela se arriscou por nós. Odeio pensar que talvez ela esteja morta. Quero encontrá-la, mas não faço ideia do que fazer. Foram dois longos anos assim.

—Vamos dar um jeito. —Falei, engolindo o nó que se formou na minha garganta.

Porque conhecendo ou não a princesa, ela era parte da nossa família. Eu sabia, pela forma como Tobias falava dela, que ele a amava. Mesmo depois de dois anos, ele ainda a amava e aquilo o destruía por dentro. Então precisava encontra-la e iria.

[...]

Desci do cavalo com a ajuda de Fitzy, sentindo que havia deixado um pedaço do meu coração para trás quando meus irmãos foram embora. Mas aquilo era por pouco tempo. Em breve nós iríamos ficar juntos e nada mais iria nos separar. Seríamos uma família de verdade. Eu, meus irmãos, Seth, Fitzy e a princesa.

—Vossa alteza. —Um dos guardas se aproximou, fazendo uma reverência e estendendo a mão aberta na minha direção, revelando um pequeno cartão.

—Obrigada. —Peguei o mesmo, observando o guarda se afastar enquanto abria aquilo, encontrando uma letra feminina elegante com um toque de ameaça, com a assinatura de alguém que eu queria esquecer a existência.

—Tudo bem? —Fitzy indagou, enquanto eu enrugava os lábios em descrença.

—A duquesa está querendo jogar. —Entreguei aquele recado a Fitzy para que ele lesse, antes de começar a subir as escadas do castelo. —Então eu vou jogar com ela.


Continua...

O Trono da Rainha Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora