Capítulo 27: Faça-o se apaixonar por você.

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Meus dedos tremeram ao redor do cabo da agrada, enquanto eu sentia minha garganta se fechar mais e mais a cada segundo que eu encarava os olhos dele e ele os meus, aguardando o que quer que eu decidisse sobre aquilo.

Eu havia exigido uma verdade dele. Qualquer coisa que fosse. Ele me deu uma e agora eu tinha que lidar com o peso daquilo que ele havia me contato. Uma criança que eu conheci e que mostrei cada canto daquele castelo havia sido o motivo pela morte dos meus pais. Foi por causa das suas ações que nosso reino caiu nas garras dos elfos.

Ele era só uma criança.
Eles o usaram pra isso.
Você teria feito qualquer coisa que seus pais mandassem também.

Fechei meus olhos e desviei o rosto do dele quando segui aquela linha de pensamento. Puxei a adaga para longe e empurrei ele pelos ombros, sentindo o ar voltar para dentro de mim quando Seth se afastou, ainda olhando pra mim como se eu fosse o sol nascendo no horizonte. Meus lábios tremeram quando consegui voltar a olhar pra ele.

Seth sequer se moveu quando abri a porta que dava para os meus aposentos e passei por ela sem olhar pra trás, fechando-a com tanta força que as paredes tremeram atrás de mim. Não havia conseguido encontrar qualquer fio de voz para responder ele. Mas sabia que precisava me afastar antes que deixasse a raiva falar mais alto.

—Ele não tem culpa. —Soltei o ar com força, olhando na direção da varanda quando Violet passou por ela com seu vestido em farrapos. —Se quer culpar alguém, princesa, culpe a mãe dele. Ela claramente usou uma criança inocente e ingênua.

—Saia daqui! —Mandei, querendo ficar apenas com o silêncio gritante da minha cabeça. Nas horas mais sombrias naquela torre, era a única coisa que me mantinha de pé.

—Quanta gentileza, hein? —Ela bufou, colocando as mãos pálidas na cintura. —Graças a mim você conseguiu se infiltrar na causa dos humanos. E ainda viu o seu irmão.

—Como sabe disso? —Indaguei, mostrando os dentes. —Entrou no castelo pra ficar me espionando?

—Você saiu daqui sem me dizer um único A, eu queria saber qual era o problema. —Ela deu de ombros, erguendo a mão para analisar as unhas acinzentadas. —O que o seu marido tem com aquele guarda?

—Eu não sei. Você poderia usar essa oportunidade de entrar no castelo pra descobrir isso. —Afirmei, observando ela soltar uma risada e olhar para a adaga nas minhas mãos.

—Foi um bom presente, devo comentar. —Murmurou, me fazendo comprimir os lábios e trincar os dentes. Caminhei até a cama e enfiei a adaga embaixo do meu travesseiro, apesar de eu nem dormir naquele lugar macio e desconfortável ao mesmo tempo. —Posso tentar descobrir algo, princesa. Mas acha que Seth sai por aí falando sobre seus segredos em alto e bom tom? Já o observei muitas vezes antes de você sequer aparecer nesse castelo. Ele sempre teve uma relação muito interessante com aquele guarda, mas os dois nunca falavam sobre algo que não fosse o reino e a busca por sei lá o que.

Por mim, eu quase disse. Seth estava me procurando todo esse tempo que passei naquela torre vazia e fria. Eu poderia ter saído de lá muito antes se ele tivesse me encontrado mais cedo.

—Talvez... —Violet mordeu o lábio, flutuando para perto de mim com uma expressão lasciva. —O general do rei. Aquele com quem seu príncipe estava berrando mais cedo. Ele é protegido do rei e passa muitas horas no escritório do mesmo. Deve saber de muitas coisas.

—E o que quer que eu faça? Vá lá perguntar pra ele? —Soltei uma risada descrente. —Acho que sabe muito bem o que ele tentou fazer com Sarah mais cedo.

—Nojento. —Violet murmurou. —Realmente nojento. Mas sabe, tem uma forma de fazê-lo falar absolutamente qualquer coisa pra você, além de respeitá-la a cima de tudo. —Ela ergueu as sobrancelhas, com o sorriso se tornando maior. —Faça-o se apaixonar por você.

—O que? —Balancei a cabeça. —Ficou louca?

—Não, estou sendo prática. Consiga uma poção do amar e dê a ele. O general ficará louco de amores por você. Fará e dirá qualquer coisa que você quiser. —Violet afirmou, subitamente flutuando e passando por mim.

Primeiro senti algo frio e úmido, como se algo rastejasse pelo meu sangue e ossos. Depois senti meu coração mudar as batidas, como se por alguns segundos ele batesse da mesma forma que o de Violet batia. Mas a sensação fria e estranha foi embora tão rápida quanto veio quando ela saiu de mim, indo para o outro lado do quarto.

—Estou te dando uma ideia, princesa. Quem seria melhor como informante do que o próprio protegido do rei? —Ela sorriu pra mim, antes de atravessar a parede e desaparecer por completo.

[...]

Fiquei observando pelo espelho Sarah fechar cada botão do meu vestido nas costas, enquanto parecia perdida nos próprios pensamentos. Meus lábios se franziram quando pensei no que Violet disse. Era uma ideia um tanto perigosa, mas que me deixaria à frente do rei. E eu estava disposta a jogar sujo se fosse necessário.

—Sarah, preciso pedir algo a você. —Caminhei até a cama quando ela terminou de fechar meu vestido, puxando aquela adaga que estava embaixo do travesseiro. Seus olhos se arregalaram quando ela a viu, me dando certeza que se lembrava de quando estivemos naquela loja. —Seth meu deu de presente ontem a noite, depois de todo caos. Gostaria de levá-la no vestido, escondida dos olhos de qualquer um, mas em um lugar que fique fácil de pega-lá dentro necessário.

—Bem... —Ela olhou pra mim, antes de piscar várias vezes e depois olhar para a adaga de novo. Vi quando engoliu em seco, parecendo pensativa. —Posso adaptar seus vestidos de alguma forma, para levá-la escondida. Posso fazer isso enquanto sai para o seu passeio.

—Ficarei grata. —Abri um sorriso pra ela, mesmo que por dentro eu estivesse uma tempestade. Deixei que Sarah ficasse com a adaga, sabendo que ela não faria nada contra mim, já que agora compartilhávamos de um segredo que poderia derrubar o reino. Ela precisava confiar em mim e precisava saber que eu confiava nela.

Ela deixou a adaga sobre a penteadeira, caminhando até a porta quando batidas soaram na mesma. Engoli o nó que se formou na minha garganta quando Seth apareceu, usando roupas escuras com o brasão do reino, pronto para me tirar do castelo aquela manhã. Eu não havia aceitado e nem negado, mas ele enviou um recado por Sarah dizendo que viria me buscar logo após o café da manhã.

—Você está linda, como todas as manhãs. —Ele abriu um sorriso contido, como se aquela conversa de ontem tivesse aberto um buraco entre nós dois, mas ao mesmo tempo construído uma ponte. —Está pronta?

Assenti, caminhando até o mesmo quando ele estendeu a mão pra mim. Seth não ofereceu o braço pra mim. Ele segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos, fazendo meu coração disparar e algo frio, agradável e estranho tomar conta da boca do meu estômago.

Seguimos pelo corredor, com Fitzy caminhando um pouco atrás de nós, nos dando espaço e privacidade. Senti a tensão crescer, como uma pólvora prestes a queimar e explodir. Mas me obriguei a engolir todo ressentimento e a sensação de traição, antes de olhar para Seth.

—Você disse todas aquelas coisas ontem... por quê? —Indaguei, observando ele soltar o ar com força e virar o rosto para encarar meus olhos, enquanto seus dedos apertavam minha mão.

—Porque você queria a verdade. Porque mentir e esconder de você estava me matando. —Ele engoliu, lenta e demoradamente. —Porque quero começar algo real com você e sei que não conseguirei nada disso se continuasse escondendo a verdade de você. Percebi logo de cara que você não fazia ideia de quem eu era, e isso acabou comigo. Mas agora você sabe e você não tentou me matar por isso.

Eu o olhei, sem conseguir fazer nada além de absorver o que ele dizia. Meu coração despencou dentro do peito, como se pudesse parar de bater se ele não parecesse de me olhar daquela forma.

—O que estaria disposto a fazer para ter algo real comigo e me proteger? —Questionei, sabendo que Seth entendeu perfeitamente o quão importante aquela pergunta era.

—Qualquer coisa. —Ele não hesitou. Sequer pensou por um segundo. —Eu estaria disposto a qualquer coisa.



Continua...

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