Capítulo 50: O ciúmes é um cobra cruel e infeliz.

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O rei e a rainha se ausentaram depois do acontecimento com o general. Outro guarda foi colocado no posto do mesmo, enquanto Zion havia sido levado embora pela mãe, de volta ao antigo território dos elfos. Aquela era uma notícia boa, entre tantas incertezas que rodeavam o castelo.

—Eu acho que devo lhe dar os parabéns. —Violet atravessou a estante de livros, surgindo perto de mim enquanto eu devolvia os livros lidos nas últimas semanas aos seus lugares. —Nunca vi uma cena tão divertida como aquela. A expressão da rainha era de dar pena.

—Estava me perguntando quando você iria resolver aparecer. —Afirmei, soltando o último livro antes de olhar pra ela. —Pra onde vai quando não está aqui enchendo meus ouvidos?

—Cuidando da vida dos outros. —Ela deu de ombros, soltando uma risadinha. —Vendo se consigo alguma informação que seja interessante o suficiente para passar pra frente.

—E então?

—Fui ão acampamento dos humanos. Seus irmãos não contaram aos outros sobre você ainda. Estão esperando um sinal seu. —Contou, me fazendo umedecer os lábios com a língua e balançar a cabeça. —O que aconteceu?

—Como assim?

—Você parece mais leve, vossa alteza. Até... mais feliz. —Violet flutuou até a minha frente, me dando visão daquela marca na sua garganta. —Seus olhos parecem até estarem brilhando.

—As coisas estão dando certo. Tenho motivos pra estar feliz. —Afirmei, passando as mãos nos meus cabelos, sentindo os milagres de grampos que seguravam os fios. —Posso perguntar como foi que você morreu?

Os olhos dela me avaliaram, escuros e profundos, quando ela levou as mãos até a garanta, aquela marca escura ao redor dela. Seus lábios tremeram e ela abriu um sorriso sombrio e vacilante.

—Eu estava fugindo e eles me pegaram. —Revelou, me fazendo engolir muito lentamente, já que sua voz não passava de um sopro. —Ouvi o som do meu pescoço se quebrando quando eles me penduraram em uma árvore. Ossos se partindo até minha vida deixar meu corpo. Mas meus olhos nunca se fecharam. —Ela inclinou o rosto para perto do meu, fazendo meu coração se contrair. —E quando minha alma surgiu, me vi enforcada em uma árvore, por dias e noites. Até uma bruxa qualquer surgir e me tirar de lá, queimando o que havia restado do meu corpo.

—Quem pegou você? —Indaguei, vendo o sorriso dela ficar ainda mais.

—Por que acha que eu estou ajudando você? —Foi a resposta dela, como uma pergunta que deixou claro quem havia feito aquilo. Meus lábios se comprimiram e eu encarei aquela marca na sua garganta quando ela se afastou.

—Preciso que avise meus irmãos que quero encontrá-los. Dia, hora e lugar. —Falei, com minha boca seca. —Pode fazer isso por mim, Violet?

—Com muito gosto. —Respondeu, me lançando um olhar carregado antes de sumir em meio às prateleiras de livros, me deixando com aquela conversa queimando na minha cabeça.

[...]

Os dias que se seguiram passaram como um borrão por mim. O rei e a rainha continuaram ausentes. As bocas sussurravam pelos corredores sobre o que havia acontecido a Zion naquele dia, enquanto outros falavam sobre a amante do rei que ele havia trazido até o reino, de forma cruel para ver o que ele faria com o filho dela. Alguns chegavam longe o suficiente para sibilar sobre a possibilidade de Zion ser filho do rei, mas ninguém falava isso tão alto, com medo das consequências.

—Como está a sua mãe? —Perguntei, enquanto percorria o corredor ao lado de Fitzy. Ele havia saído no dia anterior para visitá-la no bosque das fadas e havia voltado esta tarde.

—Bem. Mas se sentindo sozinha. —Ele suspirou, ajustando a espada na cintura. —Viver em um bosque longe da cidade e de outras pessoas não deve ser fácil.

—Você cresceu lá. —Falei, vendo-o balançar a cabeça que sim. —Sente falta?

—O tempo todo. —Ele abriu um sorriso fraco. —Sinto saudades dela mais do que gostaria. —Mas sei que meu irmão precisa de mim e odiaria ficar longe dele também. Ele me acolheu e eu jamais esperei por isso quando descobri tudo.

—Parece que o príncipe tem um coração enorme, não é? —Falei, pensando longe, sentindo os olhos de Fitzy sobre mim.

—Ele tem, sim. Acho que você teve muita sorte de tê-lo conhecido, vossa alteza. —Eu o olhei, percebendo que ele estava hesitante. —Mas ele também teve muita sorte em conhecê-la.

—Podemos concordar que nós três tivemos sorte? —Falei, erguendo as sobrancelhas pra ele e abrindo um sorriso. —Eu ia dizer para me chamar pelo meu nome, mas seria um erro.

—Talvez quando tudo se resolver. —Ele sorriu pra mim, me fazendo perceber o quanto aquele sorriso era parecido com o de Seth.

O sorriso dele morreu ao mesmo tempo que meus ombros ficavam rígidos, porque a rainha estava cruzando nosso caminho no corredor. Fitzy se empertigou, de colocando um pouco atrás de mim.

—Você, saía! —Ela latiu para Fizty, me fazendo soltar o ar com força.

—Fitzy tem o dever de ficar comigo o tempo todo, vossa majestade. —Afirmei, vendo os olhos dela inflamarem na minha direção.

—Saía! —Mandou de novo, fazendo Fitzy hesitar e olhar pra mim.

Acenei com a mão para que ele fosse, sabendo que ele corredia até a sala de Seth para avisa-lo, já que era até lá que nós dois estávamos indo. Quando ele sumiu no corredor, eu encarei a rainha com as sobrancelhas erguidas, a vendo cruzar os braços na frente do corpo e se aproximar de mim.

—Acha que eu não sei que isso tudo foi coisa sua? —Indagou, com os dentes trincados. —Você chamou aquela vadia até aqui!

—Não acha esse termo um pouco ofensivo, já que você também dava pra outro além do rei? —Questionei, usando um tom de voz doce, vendo o rosto dela se pintando de vermelho.

—Quero lembrá-la, Charlote, que aqui você não passa de uma súdita que teve a sorte de se casar com meu filho. —Afirmou, me fazendo soltar uma risada. —E apesar de ter adorado o que fez com o general, você deveria tomar mais cuidado. Não vou aturar provocações nesse nível.

—Provocações? —Eu inclinei o rosto pro lado, fingindo não entender. —Eu acho que não compreendi o que você quis dizer. Tudo que eu fiz até agora foi proteger meus interesses. Nesse caso, meu marido, que você tão gentilmente deixou ser chicoteado pelo filho da amante do seu rei. —Eu abri um sorriso, dando de ombros. —E eu gostaria de refrescar sua memória quanto a isso, porque você parece ter se esquecido onde tudo isso começou. Mas você não é a rainha. Eu sou. E você deveria me agradecer, já que isso faz do seu filho príncipe consorte.

—Você está jogando alto, querida. Foi por isso que a duquesa foi impedida de voltar ao castelo, não é? Ela sempre vinha me visitar e então desapareceu. —A rainha abriu um sorrisinho. —O ciúmes é uma cobra cruel e infeliz.

—A vingança é ainda pior. —Retruquei, abrindo um sorriso com o canto dos lábios. —Se gosta tanto da duquesa deveria ficar feliz por ela estar longe daqui, ou a próxima vez que ela soltasse acusações sobre mim, seria ela a perder a língua.

—Vamos acabar com esse seu jogo mais cedo do que você pensa. —A rainha retrucou, mostrando os dentes. —E você vai se arrepender de tudo isso.

—E como pretende fazer isso? Da última vez você usou seu próprio filho, uma criança, pra conseguir informações e usurpar o trono dos meus pais e assassina-los. —Falei, percebendo a surpresa nos olhos dela ao ouvir aquilo. —Mas Seth não é mais uma criança e não é em você que a lealdade dele está agora, não é? Como se sente, sabendo que seu filho a despreza tanto?

Ela soltou um grunhido baixo, antes de eu sentir minha bochecha arder e meu rosto ir para o lado quando ela me bateu, tão forte que minha cabeça girou.



Continua...

O Trono da Rainha Where stories live. Discover now