Capitulo 01.

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Nicolas | Farrat.⚔️

Complexo da Penha.
10 anos antes.

Adrenalina do caralho ver o camburão subindo a favela da minha janela. Blindado como? Cheio menor... E eu só da janela palmeando legal, tentando como, imaginar que eles vão meter o pé sem machucar ninguém, se ligou?

Mas é difícil, difícil pra caralho. Esses cuzao são assim menor, só entram na favela pra derramar sangue e mesmo eu sendo menor, eu sei que corro risco de ser só mais um nas estatísticas.

Digo e repito, não vou ser. Vou fazer história, fazer meu nome tá ligado? Vou ser alguém que vai ficar guardado pra sempre na memória dos meus amigos e dos meus inimigos. Quero deixar meu nome registrado, parceiro!

Zilda: Sai da janela Nicolas, anda! Não tá vendo que tá rolando operação?

Nicolas: Relaxa vó... Dá em nada não. Tô só palmeando.

Zilda: Palmeando o que, garoto. Por causado você é envolvido em alguma coisa aí?!! Olha, me poupa hein. Sai daí, agora mesmo.

Revirei os olhos e sai, tava cansadão, mas queria mermo ficar de olho se ia acontecer alguma parada. Aposto que como, não vão passar nem da barricada pô. Os mano aqui são tudo sinistro, vão deixar não, tá maluco?!! Brabão... Duvido pô... Tropa do Diablo.

Voltei pra sala, meus avós estavam lá conversando maior merdelê. Os dois ficam assim pô, tudo em choque quando a polícia tá na favela. Fico sem entender nada né parceiro?Também não me explicam porra nenhuma. Aí fico no escuro querendo entender!

Moro com os dois a maior tempão, e papo reto, eu gosto! Aqui tenho liberdade de ir e vir, com limites né? Claro. Eles como, pegam no meu pé as vezes pra estudar e tudo, mas meus avós são legais pra caralho, me amarro em ficar aqui com os dois.

Meu pai largou a minha mãe a maior cota, ela ficou tão mal, que não teve nem condições de me criar e sumiu pelo mundão. Deixou só eu com meus avós, só isso... Desde então a gente nunca mais se viu e papo reto, não sinto a menor falta no bagulho! Tô nem aí, sério mermo menor. Quero que os dois se explodam, tomar no cu!

Fiquei logo como, estressado, aí fui para o meu quarto tentei dormir. Apesar de saber que essa parada aí não vai acabar tão cedo pô, vai ser maior inferno, quebra pau do caralho. Tô até vendo, que isso... Fico puto pra caralho com isso. Favela é lugar de paz, menor.

Sei que eu ficar revoltado com essa parada, não vai mudar nada no bagulho, tá ligado? Mas de qualquer forma não, não deixo de me revoltar com isso parceiro. É foda de verdade, nos ter que passar por isso todos os dias, viver com medo de sair de casa. Tomar no cu. Aqui é nosso lar, nosso lazer! Por causa de quê nós não pode viver igual os play lá da pista? Da pra entender essa parada não, cara, que isso!

Tava jogadão na cama, pensando em várias paradas quando de repente escuto um barulho alto vindo da sala da mina casa mané. Fiquei como, imóvel! Colfoi? Que porra é essa?

Zilda: Não, não, larga ele. Aqui não tem bandido não, pelo amor de Deus!!!!

Que isso menor, quando ouvir o choro da minha vó, não pensei duas vezes até correr para a sala e ver aquela cena. Polícia com a arma apontada para o meu avô, e a minha vó sendo presa por mais dois tentando ir pra cima.

De início, eu fiquei paralisado. Não sei o que aconteceu comigo, só sei que não conseguir me mover pô. Corpo todo trêmulo, não sentia nem minha voz saindo só sei que gritei pra caralho, xinguei, mas os filhas da puta não saiam de cima do meu avô.

Zilda: Olha meu neto, olha meu neto. Ele tem dez anos, vocês vão fazer isso na frente dele???? — minha vó gritava.— Larga meu marido, ele não fez nada! Ele é trabalhador, podem ir lá no nosso mercadinho.

Xxx: Cala a boca, velha safada. Fala logo cadê o dinheiro, nós sabe que vocês guardam maior grana aqui. Fala logo.

Zilda: Não tem dinheiro nenhum aqui, nada! O Antônio guardou tudo no banco faz um mês. A gente não tem mais nada aqui.— falou chorando.— Pelo amor de Deus, deixem ele. Por favor, deixem ele eu imploro!!!

Xxx: Nós falou que uma hora ou outra ia cobrar, num falou?! Teu marido como, fez vários bagulhos errado, tendeu? Agora tá querendo se sair como certo, abrindo mercadinho. Tu acha que nós vai perdoar?! Tirou a vida de vários amigo, matou várias pessoas por ai. Ele vai pagar, vai pagar!

Minha vó já não aguentava mais gritar, e puta que pariu, a única reação que eu tive foi correr pra cima mas fui impedido por um dos policiais que estavam na sala. Me segurou, forte pra caralho, me imobilizou para que eu não me mexesse.

Na mesma fora, o filha da puta apertou o gatilho e atirou duas vezes na cabeça do meu avô. Tirou a vida dele, na minha frente e na frente da minha vó. Sem dó nem piedade, com maior frieza do mundo.

A troco de quê, porra? De quê?!!! Tomar no cu, cara. Invadiram a casa de trabalhador, pra roubar, e depois tirar a vida por causa de nada? Só por ego?!!! Na moral, eu tô cheio de ódio, tomar no cu. Não dá pra acreditar em um bagulho desse não, sem neurose!

Sei como, que meu avô já foi envolvido. Mas desde que eu vim pra cá, isso mudou. Ele saiu do crime, prometeu pra minha vó que iria se endireitar, fez tudo certinho parceiro. Isso que me deixa mais puto, mais bolado ainda. Como pode uma parada dessa????? Tirar a vida do cara depois de tudo, e depois de tanto tempo? Vários anos depois dele largar o crime.

O corpo do meu avô estirado, e a minha vó em cima dele chorando pra caralho ficou na minha cabeça por dias... Por meses e por anos. Todos os dias que eu acordava e todas as noites que eu colocava a cabeça no travesseiro eu lembrava daquela cena e a dor naquele momento nunca foi curada.

A única sensação que me perturbava mais do que a perda, era a de inutilidade. De início, eu até chorei um pouco, mais com o tempo, aquela dor foi se tornando ódio e eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser vingança. Eu só queria matar e destruir todos que fizeram isso, todos os envolvidos e jurou para o meu avô no túmulo que a morte dele não seria em vão.

Destino Implacável.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora