Capítulo IV

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Penso que sempre tive certa tendência em me afastar, ou melhor, de fazer com que as pessoas se desinteressassem por mim. Como se minha pessoa fosse um peça passageira na vida por quem passa, e, assim que o sujeito supera sua fase mais fraca, ele me deixa. Muitas amizades as quais recolhi seguiram este mesmo rumo. Não se engane, estou plenamente feliz por todos aqueles que decidiram se arriscar, mudar, se levantar. Talvez o problema seja eu, que sempre me recusei, inconscientemente, a fazer o mesmo.

E foi desta maneira descrita que minha vida sempre foi, e, quem sabe, sempre será. Um poço de indecisões, do qual nada de verdadeiramente interessante acontece. É como se eu estivesse tão acostumada a meu intrínseco e sozinho -mas não precisamente solitário- eu que evitasse qualquer mudança. As marés em minha praia sempre são as mesmas, e se mudá-las signifique um estrago ainda maior do que o da minha própria consciência, prefiro continuar assim.

A vida, até o momento da história que lhe conto, caro leitor, estava se configurando neste rumo, este o qual não tinha começo, meio, nem fim. Era apenas e somente uma continuidade do que se chama de assentimento. Eu aceitava, assentia à vida, pode passar.

E foi por esse motivo, penso eu, que fugi do tal Namor. Claro, estava assustada. Mas, principalmente, ter mostrado meu poder a ele me fez surtar por completo. Minha afinidade, melhor assim chamar, sempre fez parte da minha maré. E apenas minha. Pressentia que me abrir sobre isso era como demonstrar meu verdadeiro eu, alguém quem nunca viu, aquela versão de mim a qual somente eu vejo e presencio. A óbvia curiosidade e fascinação de Namor me assustou. Ele queria saber mais, perguntar coisas que mudariam essas marés das quais mencionei, afinal, se eu permitisse que assim o fizesse, estaria abrindo uma brecha para o que eu nunca realmente aceitei em voz alta. Não sabia que estaria pronta para falar sobre isso, conversar sobre isso.

De qualquer maneira, sendo a teimosa que sou, afirmo ainda que era sonho. Se essa hipótese era boa ou não ainda não tinha plena certeza. Até porque, se realmente fosse sonho, talvez seria uma mensagem do meu inconsciente. Talvez seja hora de acordar deste casulo, não acha? 

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Nota da autora: Não costumo escrever histórias (apenas textos opinativos e discursivos - obrigada, ENEM), mas realmente estou interessada em como posso explorar esta. Sendo assim, estou escrevendo aos poucos, e principalmente capítulos pequenos, até porque prefiro separar pensamentos e reflexões dos personagens, como se cada um fosse um trecho que merece uma atenção completa. Espero que não seja um problema, e estou aberta a sugestões :)

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