Capítulo XVII

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Abraçar deveria ser considerado um ato de extrema confiança e empatia, afinal, são os verdadeiros, apenas, que realmente demonstram o quanto esta simples ação pode ter efeito calmante. Corações passam a se sincronizar em uma linda e calma melodia. O resto do mundo parece desaparecer, e tudo que dói pode ser colocado para fora, mas ainda presente naquele pequeno casulo, sem medo.

Acho, então, que nunca realmente havia sentido um verdadeiro conforto em abraços, ou, provavelmente, já havia, porém tinha esquecido da sensação. Há tanto tempo tentei me conter, evitar o mundo para que não machucasse ninguém, e finalmente, alguém descobriu o meu tão guardado segredo. Não sei realmente, caro leitor, se era pela estranha atração que sentia pela pessoa Namor ou por este ser o primeiro a descobrir, que aquele momento para sempre estaria gravado em minha mente. A escuridão da noite, borbulhada em pequenos e luxuosos pontos de luz chamados por nós de estrelas. A água calma, fazendo-se relativamente menor do que minhas próprias preocupações. O quente do corpo dele, contrastando com o frio que ainda estava eu emanando. Por referências de quebrar o clima melancólico, como o Jacob abraçando a Bella no topo daquela montanha gelada.

- Namor?- disse eu, me separando aos poucos do abraço, olhando para seu rosto- Preciso ir para casa, estou com muito frio.

- Ah.. Sim, claro.- parecia meio desconcertado- Mas, tem certeza? Quero dizer, não dá para simplesmente me contar o que aconteceu e querer que eu vá sem mais nem menos.- passamos a nos  levantar.

- Sim, sim, eu sei... Acontece que nem eu mesma sei. Ah não.

- Não?

- Não, não- falei mostrando certo desespero, fitando seus olhos- Isso tudo aconteceu porque eu estava dormindo, eu não consegui controlar, não sei.

Comecei, neste mesmo instante, a ouvir as ondas, as quais antes estavam calmas, a se pesar, quebrando de forma muito mais bruta que o normal.

- Ei, ei, calma. Fico com você até dormir. Não se desespere.- disse, porém vendo as ondas, estava preocupado com aquilo.

- Não, que isso. Não precisa. Vou lidar com isso.- comecei a gaguejar, pois também estava olhando as ondas, e estas estavam ficando cada vez mais fortes.

- Não. Eu vou e pronto.

- Mas...

- Nada de mas.

Apenas assenti, pelo visto ele realmente estava curioso sobre meus poderes, e eu não estava a fim de discutir com um sereio-deus. Fomos, então, caminhando até a cabana. Ao chegar, o parei com a mão, impedindo sua passagem.

- Opa, opa, opa. Até entendo querer estar curioso, mas nada de entrar aqui molhado deste jeito.

- Mas você está ensopada também. Fora que não estou curioso, estou pre...

- Não disse que eu não estava, fora que você já ia entrando- o interrompi, passando um leve vento pelos nossos corpos...

- Epa. Você percebeu?

- Percebi o quê? Olha, se for ficar fazendo questionário, pode já...

- Você acabou de conjurar uma brisa.

- Não.- fui até o armário para pegar um copo, o estranho foi que, quando havia voltado a olhar Namor, o recipiente já estava cheio de água. Arregalei os olhos, meu Deus, santinho.

Sim, você fez isso, pequena.

- Não, não. Pronto, eu tô louca, isso louca. Ai, eu acabei de criar água, encher um copo sem querer com ela e conjurar vento. Vento. Isso é sonho, só pode ser. Ou pior, sou tipo o Dicaprio em "A Ilha do Medo". - passei a tremer, desesperada.- Namor, me fala que você não é nenhum médico psiquiatra.

- Que?- ele se aproximou.- Não, claro que não. Desculpa, não tinha que ter falado do vento. Que idiota e insensível da minha parte.

- Não é psiquiatra?- ele negou com certeza- Nem psicólogo? - agora, discordou novamente, bem firme do que estava assentindo- Então, isso é pior. Caraca. Pelo menos, não sou louca.- comecei a beber a água freneticamente, mas não acabava.

- Para, para.- retirou da minha mão o copo, pondo sobre a mesa.

- Ei, eu ia beber mais.

-Eu sei.

- Então, por que diabos tirou?

- Porque você não ia parar.

- Ok, você tem um ponto.- olhei para o lado, como se estivesse procurando algo para me acalmar.

- Fazemos assim, durma primeiro. Amanhã, trabalhamos nisso.

- Mas, sereio...

- Mas nada. - me interrompeu, segurando meus ombros- Vá, deite ali.- apontou para o sofá.

- Eu acabei de passar dois dias. Repito, dois dias no mar, eu tô grudenta.- devia eu ter falado algo errado, porque instantaneamente ele me fitou com seu olhar tentando amedrontar.

- Eu moro no mar.

- Ah, é verdade. Desculpa.

Segui para o sofá, ainda incomodada com o fato de eu ter estado lá dois dias, eu precisava tomar banho. Mas, com aquele olhar ali, definitivamente eu não queria ficar me deixando mais e mais estressada. Deitei, pegando o controle, quem sabe assistir a algo me acalma?

O que está fazendo?- Namor se sentou na poltrona ao lado, alternando o olhar entre mim e a televisão.

- Baixei alguns filmes, vou ver "Toy Story".

- O que diabos é Toy Story? E isso de filme? E como isso vai te acalmar?

- Primeiro, "Toy Story" é um clássico. Segundo, tá vendo aquele espelho mágico ali?- apontei para televisão, tentando usar a tática de explicação do Príncipe Edward, de "Encantada", afinal, Namor também era de contos de fadas, certo? Ele parecia um sereio, mesmo - Então, se chama TV. Passa coisas mágicas, que nem filmes. Filmes são visões deste espelho aí, visões de outros mundos.

- Está falando como se eu fosse um acéfalo.

- Não tenho culpa se você é um velho.

- Não sou um...

- É sim.


Neste momento, resolvi o cortar, até porque o filme já estava começando. Sereio caladão, gostei. O que reparei, com o tempo, foi que ele passou a realmente prestar atenção, Toy Story não falha. Assim, podia eu me acalmar com aquela estranha situação, desejando profundamente ter sido um grande pesadelo o qual resultou de alguma bebida que haveria tomado, além de calar por um tempo Namor. Eu não queria perguntas. Mas acho que não queria eu mesma pensar naquilo. Negar, às vezes, não faz tão mal, não é?

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Nota da autora: quero muito agradecer a quem está lendo, o resultado realmente está sendo positivo. Lembrando que, claro, estou sempre aberta para sugestões :)


O Mar de Talokan // MarvelWhere stories live. Discover now