Capítulo IX

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O mar estava calmo e reluzente, o Sol quase sendo refletido como um espelho. Por algum motivo, talvez pudesse ser o "sereio" sem cauda, essa praia era deveras encantadora. Falando dele, estava olhando para mim, enquanto eu comia minhas uvas calmamente.

- Que foi? Se acha mesmo que vai pausar o meu lanche para ter suas respostas, está enganado, sereio.

- Não sou sereio. Mas continue a comer...- parecia tentar identificar a comida, apesar de eu já ter mencionado o nome dela.

- As uvas. Nunca comeu, não é?- estendi duas para ele.- Toma, pode pegar. São muito boas.

- Hm...- estava olhando com certo receio. Mas, passou a comer, com cuidado.

- O quê? Não vou te envenenar não. E, ao contrário do senhor, não sou tão irritada.

- São boas, até.

- É claro que são, vocês não têm frutas em Talokan?

- Claro que sim, mas não uvas.

- Meu deus, nunca tomou um vinho, então?- ele negou com a cabeça, divertindo-se com meu entusiasmo.- Terei que comprar um para bebermos algum dia, se quiser, claro.- ok, eu estava sendo receptiva demais, confesso. Mas, surpreendentemente, ele assentiu.

- Vou querer, sim, apesar de não fazer ideia do que seja. Mas pare de me enrolar, está me confundindo. Fale-me do seu poder.

- Tá, tá.- falei enquanto comia a última uva, me levantando e retirando minha saída de praia.- Vem comigo, consegue andar na água, tipo Jesus?

- Jesus?- ele demonstrava estar meio... distraído?

- Hmm, esquece, consegue andar sobre a água?

- Não, apenas impulsionar, voando com as asas dos pés.

- Ok, isso basta, eu te ajudo então. Só preciso que confie em mim, tá?

Assim, fomos entrando no mar, porém, pisando sobre a água, sempre adorei fazer isso. Namor, que parecia alheio demais, como estivesse pensando algo, passou a ficar atento quando percebeu o que eu estava fazendo. Seu rosto, cheio de confusão e divertimento, estava meio engraçado.

Aos poucos, chegamos até o que seria o limite normal para um adulto (humano, obviamente). As ondas, neste ponto, pareciam mais pequenas oscilações, as quais cresceriam ao longo do resto de suas jornadas. Foi então que Namor olhou para mim.

- Como está fazendo isso?- disse com um toque doce e curioso na voz.

- Eu não faço ideia. - ri.- Só sei fazer, legal né?

Passei a caminhar, me distanciando de Namor. Quando percebi que estava longe o suficiente, ergui uma das oscilações que estavam ao seu redor, criando uma onda de seu tamanho. Ao notar, já era tarde demais, a onda havia o derrubado, fazendo um barulho de quebra magnífico. Agora, ele estava boiando, extremamente irritado. Ops.

- Me derrubou?- disse fortemente, agora sim sua voz lembrava a de um deus.

- Não, você que caiu.- estava me segurando para não gargalhar.- Não queria que eu mostrasse os poderes? Então, tá aí. Eu derrubei um deus.- falei deveras orgulhosa de mim mesma.

- Muito engraçadinha* hoje, não acha? Sinceramente, preferia sua versão assustada.

- Duvido muito.

Ainda estava mais alta, olhando ele da superfície da água. Porém, como num reflexo, ele passou a se sobressair. Quando percebi, ele já estava maior que minha pessoa, estava, por certo voando. De repente, ele me agarrou no seu colo, e começou a subir. Muito. Rápido.

- Namor, Na- Mor. Mano, vou morrer.- eu estava me embrulhando, meus olhos trancafiados.

- Calma, pequena. Não é nada.

- Não é nada?? Caçamba, caramba, socorro. Deus. Ai...- estava desesperada, eu morreria, certeza. Mas, neste momento meu, no qual eu pensava e repensava toda minha simples e querida vidinha, ele parou. E tudo ficou calmo.

- Abra os olhos.

- Nem a pau, desculpa.

- Abra, não vou te deixar cair.

A tranquilidade em sua voz, curiosamente, me fez acalmar. Fui abrindo, aos poucos, mas não me arrependi nada quando o fiz. Era lindo. Perfeito. A vista da costa com parte da cidade próxima aparecendo. As montanhas fazendo suas curvas aos céus, verde e azul se encontrando numa linda harmonia. A praia, com o mar tão intensamente azul, parecia que era o céu a copiá-lo.

Na altura em que estávamos, o vento não era intenso. Tudo que eu sentia era calmaria, e nada mais. Namor segurava minha cintura e ombros com força, e não pude deixar de reparar como aqueles pontos estavam formigando. Não, deixe disso, era coisa da minha cabeça. Certeza.

- Gostou?- disse ele, parecia estar observando minha admiração, eu não parava de analisar a paisagem, como se precisasse captar cada momento dela.

- Namor, é incrível. Mas não entendo.- passei a olhá-lo, porém já estava me encarando, o que culminou num encontro de olhares. Estávamos perto demais. Podia sentir seu cheiro, o qual lembrava a maresia.- Por que asas, se é um quase "sereio"?

- Não sou sereio.

- O que é então?

- Em meu mar, me chamam de K'uk'ulkan. Me vem como um deus, porém sou apenas aquele que foi escolhido para proteger Talokan. Não me vejo nada a mais além disso.

- Fomos nós que demos o nome Namor para você, certo?- deduzi.

- Sim, pequena.

- Sem amor. Claro que te dariam um nome como esse, não me surpreendo. Se bem que, sabe, você não parece tão sem amor assim.

Ele sorriu.

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Nota da autora: *Li "A Hipótese do Amor" semana passada, ainda estou com Adam Carlsen na cabeça, que homem perfeito. Também li "Verity" (acompanhando o capítulo extra), e ainda não sei no que acreditar, manuscrito ou carta? De qualquer maneira, não consigo ainda ler meu próximo livro da lista, Verity me deixou meio perturbada kkk.

O Mar de Talokan // MarvelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora