Capítulo XII

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Nota da autora: para a descrição que vem a seguir, tentei ser o mais detalhada quanto as sensações possível. Mas, para ajudar, tentem acompanhar a ideia da sonoridade da música, como se cada nota estivesse representando essas sensações, de calmaria até algo mais intenso. 

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A última coisa da qual realmente me lembrei naquela tarde era as risadas de Namor. Merda. Seus sorrisos soltos, tentativas de provocação e aquele sotaque passavam como looping em minha cabeça, e era tão bom até que... acordei.

Estava eu no sofá, toda descabelada. O filme já havia acabado. Lá fora, coincidentemente a minha confusão, chovia. Sempre assim, era apenas algo mudar meu humor de forma intensa que o céu resolvia entrar na dança. E se pergunta, caro leitor, se este fato tem algo a ver comigo ou minha afinidade, até o momento, eu não sabia. Isso é tudo que posso dizer agora.

De qualquer maneira, necessitava espairecer, pensar. Fui até o lado de fora da cabana, sentindo uma mistura de sensações que me levavam a cada vez mais tranquilidade. O cheiro da chuva, o barulho da mesma bloqueando os pensamentos incisivos que rondavam minha cabeça como satélites. Toda a confusão da minha mente, por um momento, se dissipou, sendo atraída pela arte da natureza a qual eu via em minha frente.

Quando fui perceber, já estava na chuva, a areia refinando meus dedos, porque nunca fui do tipo que usa chinelo o tempo todo. Meu corpo entrando em uníssono com o que a chuva poderia proporcionar, cabelo molhado, roupa encharcada, pés descalços. Ainda sim, estava ótimo.

Todo este ambiente de certo apaziguador de almas, estava me controlando, como se tudo que viesse a seguir não fosse mesmo obra minha, e sim de um inconsciente inocente e alheio ao que meu corpo realmente faria. Comecei a dançar na chuva. Mas não uma dança comum, como se pode imaginar, eu estava me aproveitando dela. Cada gota era utilizada por mim para me aproximar dos céus, como uma pequena escada**. Rodopios, e mãos manifestando seu poder guiavam a situação. Desta forma, estava mudando o rumo da chuva, e não pretendia parar.

** Tentem pensar em Raya e o Último Dragão (filme da Disney). Na cena final, meio que os dragões usam da chuva e da água do mar para "andar" no ar. Desculpa se ficar meio confuso.

Percebo que minha descrição pode parecer meio lúdica, então, sei que posso ser mais certeira na mesma. Imagine cada respingo, cada gota de um dia de chuva o qual se transfere pelo seu corpo fazendo presença. Você sente-o, mesmo este sendo tão pequeno. Cada gota representava exatamente essa sensação, uma pequena nota musical molhada dentro de meu coração. Era fria, mas revigorava.

Minha dança era um imaginário se tornando realidade, uma dança com a chuva. Ao chegar ao mar, nele também fiz presença, brincando com suas bolhas e agitação pelo fenômeno climático. E neste momento, tudo pode ter ficado, digamos, mais tenso. Isso porque eu passei a elevar as ondas, e com isso, as águas tornavam-se mais rebeldes. Como resposta, os céus passaram de gotejar para trovejar. Relâmpagos e raios, surgindo. E eu, já meio longe da costa, não conseguia parar. Era automático.

Mais rodopios, levantando pequenos redemoinhos a partir das águas, curvando seus limites físicos naturais e elevando seu nível. Foi quando, com as ondas mais altas do que eu, uma chuva de bloquear os ouvidos me apagou. E eu caí. Tudo ficou escuro.

O Mar de Talokan // MarvelWhere stories live. Discover now