Epílogo

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Pouco tempo depois...

Mais uma vez.- disse o loiro, desafiador. Hoje, ele estava realmente inspirado.

- Por favor, Picolé, sabe que eu posso acabar com você com um simples sopro.- falei com certa voz irônica.

E assim, de maneira rápida e instantânea, um vento derrubou o grande homem de olhos intensamente azuis para serem de verdade.

- Combinamos sem poderes. Desta vez.- enfatizou a última parte, enquanto tentava se levantar.

Era basicamente assim minha vida desde quando voltara para Nova York. Treinos incessantes com um herói de guerra tão bonito quanto velho. E, apesar de apresentar uma cansativa ordem para bons costumes, o que até é compreensível para um homem tão antigo quanto Steve, era uma boa pessoa, boa companhia.

Nossos dias resumiam-se em testes de aptidão, lutas nas quais eu sempre vencia, e relatórios incrivelmente tristes quando eu estava bêbada - o que passou a ser uma rotina às sextas, com pizza e filmes para atualizar o que acontecera com o mundo desde a "morte" do Capitão América. Hoje não seria diferente.

- Vamos, se levanta, Picolé.- disse eu, estendendo minha mão a ele, enquanto o mesmo me encarava com certa reprovação- Sei que odeia este nome, mas eu adoro.- sorri levemente.

- Que fofos.- falou uma conhecida voz, na entrada do centro de treinamentos- Vim para a pizza de hoje.- a Ruiva disse, animada.

- Verdade, em que momento da história paramos?- perguntei, irônica, olhando para Picolé com certo divertimento.

- Penso que foi alguma crise do século XIX.

- Não sou tão velho.- a voz de Steve finalmente ressoou na sala.

- É sim, meu amigo.- falei, batendo de leve em seu ombro e seguindo para fora- Estou indo comprar a pizza, em uma hora eu volto.

- Não demora tanto assim.

- Eu preciso pensar um pouco, aproveite e vá tomar um banho, está fedendo.

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Muito bem, eu não estava indo comprar pizza. Ou sim, estava, mas antes passaria num café por perto. Precisava pensar.

Às vezes, confesso, apesar da boa companhia da Ruiva e Picolé, precisava realmente refletir. Sentia ainda saudade dele, de seu abraço, de sua voz, de seu beijo... E, por mais que não visse Nick por um bom tempo, o fato do mesmo ter me superado, admito, me enfurecia. Cada nervo lembrando o quanto fui frágil, deixando um amor ridículo, deveras ridículo, haver me dominado. Fui tão tola.

Às vezes, porém, me culpava por me sentir tola justamente por ter amado. Amar é como uma linda noite escura, mas estrelada; uma onda quente que te instiga a querer mais e mais, até se sucumbir àquilo. Tola.

Às vezes, lembro-me ainda de um um poema inventado. Sei que todos são, mas ressalto que este foi por ser criação de alguém que mal existiu. Álvaro de Campos, invenção de Fernando Pessoa, apesar de não existir realmente, soube exatamente o que senti- o que sinto.

"Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas." - Todas Cartas de Amor são Ridículas

E elas são. E por isso, eu definia em mente não amar. Não queria mais me machucar, ou melhor, machucar outro alguém. Culpava-me pela dor que havia causado a Namor, a mim. Não deveria ter sido egoísta o bastante em pensar que poderia amar, ser tão ridícula. E, por tal razão, aconselhei a mim mesma nunca mais amar. (Deixe-me em minha dramatização).


Ao chegar no café, pedi tudo menos café. Um chá, uma salada de frutas (apenas uvas verdes) e um donut. Ao seguir pelo local, percebi que alguém havia sentado exatamente onde tinha colocado minha bolsa um minuto antes. Respirei fundo, só queria tomar meu café, poxa.

Com licença, eu meio que deixei minhas coisas aí.- falei, tentando ao máximo não ser grosseira desnecessariamente.

- Sim, eu vi quando entrei.- sua voz era firme, mas ao mesmo tempo boa de escutar. Ele levantou o olhar até mim, seus olhos eram lindos, azuis, destacando em sua brancura e cabelos incrivelmente negros.

- Então...- acenei para que o homem saísse da mesa.

- Não, não quero.- abaixou seu olhar de volta ao livro que lia, o qual eu não reconhecia a língua do título.

- Bem, mas eu sim.- falei meio ríspida, percebendo que a última mesa vazia havia sido pega. Inspirei e me sentei- Muito bem, vou sentar então.

- Mas o que...- falou, encarando-me meio incomodado.

- Que foi? Não vamos brigar por uma mesa, certo? Juro que fico quieta, só quero comer.- ele me fitava, ainda contrafeito, mas preferindo não fazer mais nada, voltou a ler.

Passei a comer as uvas, satisfeita. Entretanto, minha curiosidade falava mais alto. Sempre adorei observar o que os outros lendo, por que estão tão entretidos, e o homem de cabelos negros parecia muito.

- Pode parar de me olhar assim?

- O que?- disse, meio que acordando do transe de tentar decifrar o que aquele título na capa dura significava- Não estou olhando para você, e sim para seu livro.

- O que tem ele?

- Não reconheço a língua, queria saber o que significa o título.

- Hm...- ele sorriu com os lábios fechados- Geralmente ninguém se interessa pelo que leio.- pausou por um instante- É a Teoria dos Nove Reinos, um clássico.

- Gosta de mitologia nórdica, então?- Observei, enquanto ele parecia pensar um pouco na resposta, sem motivo aparente.

- Gosto.- voltou a ler.

- Legal...- falei, olhando para o lado de fora do vidro da grande vitrine- Aliás, sou Camila.- fitei-o, dizendo por educação, o homem, contudo, parecia não acreditar no quanto estava eu lhe perturbando.

- Sou Lo... Tom. Prazer.- sorriu levemente de novo, eu retribuindo.

O Mar de Talokan // MarvelDonde viven las historias. Descúbrelo ahora