Capítulo XXXIV

388 42 12
                                    

Foi instantâneo, tão de repente quanto uma chuva de verão, uma lança apontada contra meu pescoço, no ímpeto pronto e provavelmente calculado a fim de rasgar minha carne. De uma hora para outra, meu lado acompanhado pela, agora antiga, vigente excitação passou a um alerta constante, revelando o quanto eu estava vulnerável momentos antes.

- O que pensa que está fazendo?- uma voz feminina soou, com o mesmo sotaque de Namor, porém mais pesado e tempestuoso. Ela estava determinada.

- Ótimo, outra louca.- sussurrei, tendo pressionadas minhas cordas vocais, cada vez mais. Ela poderia me matar. Ou melhor, deseja isso, pensei.

Sua figura, finalmente, saiu da lateral, e passou a se estender em minha frente, colocando-me contra a parede, ao lado da porta. Era alta, forte, com uma pele magnífica azul. Seus olhos transbordavam um ódio vivido, os quais somente em sua atuação natural poderiam causar arrepios fatais. Em sua boca, uma espécie de cápsula com água. Vestia roupas do mesmo estilo das de Namor, com um cocar de folhas com a cor de outono, grandes, dando um aspecto de poder primário e reluzente a ela.

- Você entende o que está fazendo, humana desprezível?- o rancor na sua voz se fazia forte, até palpável.

- Quem... Diabos é você?- disse, com dificuldade pela pressão que fazia contra minha garganta, a qualquer momento podendo me cortar sem mesmo pestanejar.

- Responda! Você entende o quão desprezível é sua forma de manipulação?

Em um movimento rápido, passei minha perna em seus pés para que caísse, pegando sua lança com minha mão direita. Subindo em seu corpo já estirado no chão, pressionei a arma na horizontal contra seu pescoço, afinal, minha vontade soava na curiosidade, apesar da raiva óbvia pelo momento o qual ela havia estragado. E, confesso, precisava saber quem era aquela figura tão potente e não desejava machucá-la, por assim dizer, queria compreender a situação primeiramente.

- O quê? Não sei se sabe como aquilo que estávamos fazendo funciona, mas é algo em que ambas partes trabalham, entende? E, aliás, ele parecia bem disposto a fazê-lo.- falei com ironia na minha voz, cada vez mais pondo o cabo contra ela.- Não vou repetir outra vez, Smurfette. Quem é você?

- Namora.- repetiu com uma raiva tão pura, olhando diretamente meu rosto, com certo nojo.

- Namora?- eu ri- Sério? Que criatividade.

- Como pode ser tão insolente?

- Insolente, eu? Você invade minha casa e eu sou a arrogante?

- É perigosa. Está manipulando meu primo, coloca em risco o que chamo de lar.- falou, buscando, talvez, mais água para respirar. Foi quando notei que a cápsula estava secando.

Analisando a situação, passei a olhar a mulher em minha frente com um pesar, eu realmente não estava a fim de matá-la. Em um movimento rápido, minhas mãos foram queimando, à sua frente, a lança, tornando esta em pó em seus ombros. Seu olhar, ainda que desesperado pela vida, estava acompanhado pelo ódio. Ela estava determinada.

- Desculpa.- disse eu, tentando controlar meu desgosto ainda vigente, e saindo de cima dela.

Por um instante, sua face revelou uma surpresa verdadeira, como se estivesse impressionada por eu não tê-la sufocado. Com outro movimento ágil, enchi sua cápsula novamente, ouvindo seu respirar voltando a si, se recuperando.

- Mas por...

- Ao contrário do que você pensa, nunca faria mal ao seu lar.- falei, me encostando na lateral da bancada da cozinha, onde momentos antes...

- É humana, e apresenta risco por seus poderes descontrolados. Está encantando Namor, fazendo-o perder a dignidade.- passou a se levantar, ainda recuperando fôlego.

- Anda me vigiando,- olhei profundamente seus olhos, procurando alguma pista para decifrar melhor a situação- logo, sabe do que sou capaz. Não dê um passo para perto de mim outra vez.

- Está me ameaçando?- sua voz me penetrava, ela não sentia medo algum.

- Não, avisando. Se sabe a bomba relógio que posso ser, não é recomendável ficar perto de mim.

- Preste bem atenção, humana.- seu desdém era vivido, pondo sua postura novamente em minha frente, o que me fez perceber o quão alta e de aparência inabalável era- Posso não saber de seu pequeno segredo, mas irei descobrir. Posso também não conseguir controlar o que o idiota do meu primo sente, o que é algo repugnante, mas sei muito bem que uma hora ou outra irá decepcioná-lo. Pode fingir que nada está acontecendo, porém eu estou te vigiando.

- Grande ameaça.- ironizei.

- Ah querida, sei que não sou ameaça nenhuma a você.- disse, chegando mais perto de mim, sendo possível sentir o cheiro da água molhada- Mas sei que Namor vai descobrir o que seja que está escondendo dele, ou melhor eu vou. E só te aviso, não vai querer estar com ele quando souber que você não se passa de mais uma humana. Não sou tão poderosa quanto você, isto é um fato. Mas ele certamente é.

.

.

Nota da autora: obrigada a quem está acompanhando, não se esqueçam de votar :)

O Mar de Talokan // MarvelWhere stories live. Discover now