Capítulo XXXVII

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"Caralho, eu sou demais!", gritei, me sentindo orgulhosa. A vela acesa apenas com um pensamento. E logo em seguida, apagada com um estalar de dedos.

Estava tentando, e assim repito, apenas tentando me distrair da visita da estranha e intrigante mulher azul. Seu sotaque e determinação vigente ainda rondavam minha mente, como uma trilha sonora da qual ninguém esquece. Sua ira sendo ainda questionada pelos neurônios sem descanso, pois algo a mais havia ali. Uma espécie de proteção muito mais interna do que necessariamente coletiva, como se sentisse ameaçada.

Talvez fosse um delírio da minha mente imaginativa, porém, ainda rebobinado milhares de vezes. Eu sou risco à Talokan? Certamente não. Poderia, sim, possuir algo de sobrenatural, mutante em minhas veias, mas nada que realmente afundasse uma civilização inteira. Partindo deste ponto, só duas as vias as quais explicariam a fúria da Smurfette: ou um terrível - e compreensível- ódio por nós, humanos, os quais literalmente obliteraram a existência de parte de seu povo na superfície, ou, algo menos possível, porém com uma chance significativa, um amor incompreendido.

Obviamente, é de certo o fato de que os homens brancos, com sua caravelas, "bons modos" e jeito pomposo de dizer terem devastado, de maneira nada piedosa e totalmente predadora, era um bom motivo para Namora sentir certo ódio, repulsa pela minha pessoa. Mas, ainda que eu não quisesse, a segunda teoria não objetivava deixar meus pensamentos. Seu tom, o ressentimento profundo em seus olhos e uma falta de medo que não se sabe se é honorável ou preocupante eram indícios de algo mais escondido, envergonhado. Ela disse que é prima dele. Não se apaixonaria por ele.

Adicionando às minhas dúvidas sobre um amor mexicano impossível, o que era, confesso, deveras interessante, havia também a assimilação  à segunda ameaça iminente. Se devo contar a Namor?  Era com certeza uma extensão de minhas preocupações. Não queria arranjar problemas, só aproveitar. Havia algo de errado nisso?

E se realmente eu for uma ameaça? Não controlo meus poderes. A ansiedade começava já a girar meu cérebro, martelando cada fio de pensamento. Eu não era capaz de compreender o que estava acontecendo, talvez deveras fosse perigosa. E se eu machucar Namor?

Talvez Nick estivesse certo em querer me vigiar, conter. Talvez eu realmente seja perigosa, e mereça um destino adequado. Afinal, com poderes em plena extensão, não sabia do que eu seria capaz.

Neste momento, percebi que a pequena cortina da janela da cozinha havia queimado. Ótimo. A vela reduzida à mais simples cera. Ótimo outra vez. Minhas mãos suavam, tremiam como se mil formigas percorressem cada extensão do meu corpo. O coração, confuso entre parar ou continuar batendo na mesma rapidez em que minha cabeça contornava e retornava às pequenas, mas devastadoras, reflexões. Meus pés fincados ao chão, como se tivessem esquecido de como andar. E meu olhar, perdido, sem saber muito bem como prosseguir, uma vez que meu cérebro não mandava os comandos para nenhuma parte do corpo congelado.

Até que finalmente ouvi a chuva lá fora. Uma tempestade. Só para combinar com a situação, se é que me entende.

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Nota da autora: Feliz ano novo!!!!!!❤️❤️❤️ Desculpem o capítulo menor ainda do que os que já faço, mas achava que precisava colocar a reflexão breve da Camila aqui. 

O Mar de Talokan // MarvelWhere stories live. Discover now