40 | Nightmare

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HADES LEWIS

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HADES LEWIS

— Onde ela está? — perguntei, assim que entrei correndo pelas portas duplas do hospital. Meu coração acelerado, minhas pernas parecem não me obedecer. Sinto o no na garganta, e no estômago, sinto a dor física e emocional. Não deixo as lágrimas caírem, não deixo minhas emoções me derrubarem.

— Eu sinto muito, filho — minha mãe jogou seus braços ao redor do meu pescoço, impedindo que eu chegasse até o quarto dela. Eu não consegui retribuir o abraço, estou tão em choque, sem acreditar que isso realmente aconteceu. Estou com raiva. Querendo destruir o ser humano que ousou tocar nela. — Eu sei que está doendo, acredite, está doendo mais em mim do que em você. Mas precisamos ser fortes, chorar e lutar agora não vai trazê-la de volta.

Eu desabei, sem conseguir manter minhas pernas equilibrando o peso do mundo. O peso de ter perdido ela, o peso de não saber como prosseguir agora.

— Me diz que isso é só um pesadelo — sussurrei com a voz embargada, sentindo as lágrimas ardendo ao rolarem dos meus olhos. — Eu não posso deixar ele sair impune, Pablo merece pagar pelo o que ele fez!

Nada está funcionando direito agora, preciso de espaço, preciso de ar, preciso entender o que deu errado. Preciso aprender a não odiar o mundo agora. Mas é impossível, porque a ficha tá demorando a cair. Estou custando a acreditar que Pablo Harmon teve a audácia de fazer isso, ele se colocou no pódio, renomeando-se o chefão. Mexendo seus pauzinhos de dentro do presídio para acabar com nossas vidas. E ele conseguiu, porque agora eu não sou nada. Sou apenas resto de lembranças e momentos que nunca mais irão voltar.

Eu quero gritar, quero chorar e sapatear que nem criança. Quero dizer o quanto está doendo, quero dizer que estou sentindo o gosto amargo de sangue na boca e, pareço estar me engasgando com ele. Como se quem tivesse levado aquele tiro, fosse eu. E talvez deveria ter sido eu. Gostaria de trocar de lugar com ele, gostaria de ter chegado antes no local combinado. Gostaria de estar lá quando a bala atingiu sua cabeça e todos no restaurante começaram a gritar sem entender o que havia acontecido.

Eu quero voltar no tempo e trocar de lugar, quero que o tiro seja na minha testa. Pois seria muito melhor a morte, à dor que estou sentindo agora. Todo o meu corpo dói, meu coração se despedaça e ao mesmo tempo parece estar crescendo tanto em meu peito que aperta a caixa,  torácica. Como se fosse quebrar cada osso das minhas costelas.

— Você não é Deus, e muito menos juiz. O que devemos fazer agora é preparar o velório dela, um velório digno. Está me ouvindo? — eu via seus lábios se mexer, mas não escutava nada que saia deles. Parecia que suas palavras não chegavam até meus ouvidos. — Vingança não é a solução, Hades.

Sorri amargamente. Ele mexeu com a pessoa errada, admiro que ele tenha grande parte do submundo em suas mãos mesmo sendo um merda com dinheiro. Mas agora, agora ele vai pagar por isso. E eu sinto muito que não tenha nada no mundo que ele ame mais do que a si mesmo, se tivesse, eu teria matado com minhas próprias mãos.

— Prepare o velório dela, tenho outros assuntos a resolver — eu avisei, colocando-me sob meus pés. Acho que não estou pensando logicamente. Não estou conseguindo enxergar a maldita luz no fim do túnel agora, pois estou cego por sangue e vingança.

— Deus tarda mas não falha, filho. Ele vai fazer esse infeliz sofrer sem você precisar sujar suas mãos. Eu te prometo isso — minha mãe falou entre lágrimas e soluços, sinto tanta dor em suas palavras. Sei que realmente está doendo muito nela, talvez mais nela do que em mim. Mas eu não aceito isso, não aceito o tempo de Deus para que ele faça justiça. — Fica longe desse cara, dá um tempo daqui! Ela não iria querer vingança. Vamos deixá-la descansar agora.

Belas palavras. Ótimos conselhos. Mas acho que ela não está entendendo a gravidade da situação. Se Pablo foi capaz de mandar alguém assassina-la em um espaço público, na frente de centenas de pessoas, mesmo ele estando há milhas de distância... O que ele não fará com nós? Ele é capaz de tudo, agora eu vi isso. Sempre soube que havia um monstro dentro dele, mas agora, agora eu não sei mais o que ele é. Talvez seja o próprio demônio.

— Eu preciso vê-la — sussurrei, forçando minhas pernas a caminhar pelo hospital. Entrando no elevador sozinho, subindo e logo as portas sem abriram novamente. Era o andar certo. Andei a passos curtos até o número do quarto. Não querendo ver a cena, não querendo ver o que sobrou de uma vida destruída por um monstro.

Girei a maçaneta e empurrei a porta branca, todas as paredes eram brancas no tom de gelo, engoli em seco, caminhando até a cama. Um corpo e um lençol por cima dele. Os equipamentos estavam desligados, uma voz suave chamou minha atenção.

— Nós fizemos de tudo, mas ela não resistiu... Nós sentimos muito.

Apenas balancei a cabeça em afirmação, tentando esboçar um sorriso. Mas algumas lágrimas caíram sem que eu me desse conta.

Fiquei ao lado da cama hospital, criando coragem para tirar aquele lençol de cima dela. Pensando em toda a nossa vida, pensando em como ela acabou assim. Meu coração dói, se estilhaça e me corta por dentro.

A enfermeira diz que vai nos deixar a sós. Eu agradeço com um aceno de cabeça.

Seguro na barra do lençol, e puxo ele devagar. Todo o meu corpo fica gelado, acho que estou sentindo uma parte de mim morrer nesse exato momento.

Sua pele está pálida, os cabelos impecáveis e lisos. Os olhos fechados e as mãos entrelaçadas acima de sua barriga. Em sua testa, o buraco pequeno de uma bala. O estrago foi feito.

— Eu falhei, eu não protegi você... Deixei que ele acabasse com as nossas vidas. Eu sinto muito — sussurrei, segurando sua mão fria. Eu sou apenas cinzas agora, como se meu corpo não estivesse mais aqui. — Me perdoa por ter deixado isso acontecer com você.

Inimigos Não Se Apaixonam |Em Pausa|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora