47 | Finger Promise

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SCARLETT HARMON

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SCARLETT HARMON

O barulho de tiro invade minha mente, o choro de Kenny faz seu coração doer. Tento acalmá-lo, mas é quase impossível. Esfrego meus braços com água morna, como se os respingos de sangue estivessem lá. Mas não estão.

Abro os olhos, ainda sonolenta, ainda com o coração acelerado. Ouço o choro de Kenny, Hades não está na cama. Levanto rápido, correndo até o quarto do lado.

- Vai ficar tudo bem, campeão - ele abraça o corpinho pequeno, está com a bochecha debruçada sobre a cabeça de Kenny. - Você precisa ser mais forte do que esses pesadelos, precisa lembrar que é só um sonho ruim.

Observei, ainda com a porta entre aberta. Eu sorri, vendo o quanto ele está se dedicando a isso. Se dedicando a nossa família e principalmente a Kenny.

- Eu quero ir pra casa, tio Hades. Sinto muita falta da mamãe, quero ver ela - choramingou a criança, levantando levemente a cabeça para encarar Hades. Ele já havia parado de chorar, mas os soluços do choro ainda era audível.

- Você sabe que ela foi morar com o papai do céu, ele precisava que ela trabalhasse lá com ele.

- Liga pra ela, manda ela voltar. Já chega de trabalhar - sussurrou ele, tão inocente. Tão triste e cabisbaixo. Hades e eu pensamos que ele estava se acostumando. Já fazia dias que não perguntava sobre Magnólia. Nós tentamos manter ele entretido, principalmente agora que está prestes a completar cinco anos, falamos toda hora sobre a festa de aniversário dele para deixá-lo animado.

Como explicar para uma criança de quatro anos que sua mãe morreu? Explicar que foi seu próprio pai que matou? Explicar que não tivera nem um motivo plausível para isso. Foi apenas para nos destruir que Pablo fez isso. E da primeira vez, eu ainda não decidi se me sinto mal por não saber de nada antes dos meus dezoito anos. Antes disso, eu achava que amava Pablo. Talvez eu realmente tenha lhe amado por um tempo. Eu respeitava ele, eu via nele um herói. Ele era a única coisa que eu tinha a que me apegar, e ver minha mãe morrer foi a pior coisa da minha vida. O sangue dela no meu rosto, meus gritos ensurdecedores. E todas as noites eu só pensava, "por que ele matou minha mãe e me deixou viva? Ele falou que queria só o carro, mas atirou nela sem pensar duas vezes... Por quê?".

Quando eu era criança eu tinha muitas dúvidas, tinha raiva do mundo e não entendia o motivo de minha mãe ter morrido e eu não. E eu continuava com as mesmas dúvidas e a mesma raiva, a única coisa que foi capaz de me distrair por um tempo, foi Hades. O nosso jogo de amor e ódio, nossa brincadeirinha de cão e gato. Como se estivéssemos destinados a nós conhecer, a viver tudo aquilo juntos. E ele me ajudou tanto, me levava nas terapias, sempre tirava um tempo pra mim mesmo com mil coisas para fazer.

Mas eu não sei o que seria pior. Descobrir aos 18 que meu pai me abusou e matou minhas mãe ou, nunca descobrir nada e conviver com um abusador e assassino sob o mesmo teto. Acho que a segunda opção seria pior, pois eu seria enganada a minha vida toda. Passaria anos em uma bolha, acreditando que aquilo era lar, era família e segurança.

- Ela não vai voltar pra me buscar? Eu não entendo, eu fiz alguma coisa que a deixou magoada? Se eu fiz...

Eu empurrei a porta, sentindo meus olhos marejarem. Me aproximei deles, tentando não chorar. Tentando me manter firme por ele.

- Kenny, eu sei que você não vai entender isso agora. E nem quero que entenda. Mas eu sei o que você está sentindo, a minha mamãe também precisou ir embora, ela precisou ir morar com o papai do céu. Mas quando você estiver bem velhinho, quando for um vovozinho. Você também vai poder ir morar com ela. Sabia disso? - encostei no nariz dele, conseguindo arrancar um meio sorriso. - Ela está bem, está feliz agora. Você vai crescer e vai entender melhor as coisas, vai entender que as pessoas às vezes precisam ir embora. E que isso é normal, precisamos nos adaptar com as chegadas e principalmente com as partidas.

- Você e o tio Hades vão embora também? - ele perguntou, com a voz baixa. Entendendo os bracinhos para mim.

- Não, nós não vamos embora. Vamos ficar aqui com você. Vamos ver você crescer, se formar, se casar, ter seus próprios filhos. Nós sempre estaremos aqui pra você, meu menino.

Ele sorrio. Um sorriso singelo e angelical. Um sorriso que eu derreto só de olhar. Eu falei a verdade, sempre vou estar com ele. Nós somos irmãos, e além disso, sou noiva só tio dele. O que será estranho para ele quando entender isso, mas depois também irá se adaptar. Além de irmã, eu serei uma mãe pra ele. Mas não aquelas mães chatas que você nunca pode confiar porque sabe que vão te xingar e surtar. Quero ser confidente dele, quero que saiba que sempre podemos contar um com o outro. Eu nunca tive isso depois que minha mãe morreu, eu nunca tive uma confidente.

- Promete mesmo? - ele estendeu o dedo minimo, e eu entendi o meu. Entrelaçando no dele. Essa era a promessa de que nem eu, nem Hades, iríamos embora da vida de Kenny.

- Prometo!

Nós três fomos para cama, levamos Kenny conosco para que ele não tivesse mais pesadelo. É raro, mas às vezes ele acorda gritando no meio da noite. Ele chama por Magnólia e eles socorro, isso é de partir o coração.

Eu estou feliz que Pablo está morto. Feliz que alguém fez o que eu não tive coragem de fazer. Feliz por alguém que não seja Hades e muito menos eu, descer ao nível dele. Mandá-lo para o inferno de uma vez por todas. Ele só estava fazendo hora extra aqui na terra, e com tantas maldades que fez... Uma hora ou outra isso iria acontecer. Mas eu quero saber quem, quem matou Pablo Harmon?

Inimigos Não Se Apaixonam |Em Pausa|Where stories live. Discover now