Capítulo 16 - Amor recíproco

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Preocupado com a amiga por conta da crise de pânico, John fez uma pausa em seu dia de trabalho para ir em casa ver como Audrey estava. O projeto bastante adiantado no jardim de inverno tomava forma exibindo a personalidade da idealizadora.

Uma mistura de doçura, característica mais evidente de Audrey, com uma vivacidade que ele não sabia se a amiga já havia percebido que tinha. Esse segundo aspecto fazia John lembrar um pouco de sua falecida esposa.

Depois de deixar a chave do carro sobre a mesinha de centro da sala, o homem caminhou até a porta aberta nos fundos da cozinha e seu coração quase parou quando ele a viu.

Sentada no chão, rodeada pelos vasinhos com terra, prontos para receber as flores, estava sua esposa. De costas e completamente concentrada no que fazia ignorando a presença do marido, Mary Watson usava um lenço estampado envolvendo os cabelos e estava linda como sempre.

O homem engoliu em seco e fechou os olhos com força por alguns segundos consciente que aquilo só podia ser uma criação de sua imaginação. Há muito tempo não tinha uma alucinação como aquela. John precisou respirar lentamente algumas vezes antes de abrir os olhos e voltar à realidade. Alheia ao que estava acontecendo, Audrey continuava concentrada em seu trabalho.

John mordeu o lábio inferior enquanto segurava a vontade de chorar. Tentando se distrair um pouco e tirar aquela imagem dos pensamentos ele correu os olhos pelo jardim apreciando o trabalho que a amiga havia feito até então.

O amor demonstrado sem inibição pelo carinho na escolha de cada detalhe, cativava John, mas era ao mesmo tempo um pouco doloroso pela confusão de sentimentos que causava nele.

— Acha que a Mary iria gostar? — perguntou Audrey ainda de costas.

— Sem dúvidas — respondeu John caminhando na direção dela.

Um sentimento novo invadiu de repente o coração do homem. Talvez não fosse confusão de sentimentos, mas sim uma tentativa de resistir ao que ele estava sentindo, mas não queria admitir. Enquanto o homem devaneava, Audrey se aproximou dele pelo lado direito e o envolveu com seus braços pela cintura acomodando o queixo sobre seu ombro.

— Se tivesse um jeito eu trocaria de lugar com ela só pra te fazer feliz — declarou a mulher.

John foi pego de surpresa com aquele comentário. O que a amiga estava sugerindo era abrir mão da própria vida, pela felicidade dele. A rapidez com que ele se virou de frente para Audrey ao ouvir aquilo acabou afastando um pouco os dois.

— Desculpa, — pediu ela. — Eu não quis te magoar, eu só...

Sem dar chance para ela continuar falando, e querendo pôr à prova o que estava sentindo, John puxou a amiga para perto dele pela nuca com a mão direita e a amparou pelas costas com o braço esquerdo. Com os rostos a poucos centímetros de distância, ele pressionou seus lábios contra os dela com um beijo que surpreendeu a mulher e a assustou.

Por mais que ficasse à vontade perto dele, Audrey não esperava aquela atitude do amigo e a reação dela foi empurrá-lo com força para o mais longe que conseguiu.

— Por que você fez isso? — perguntou com a respiração ofegante tentando conter o medo que começou a sentir.

— Audrey, me desculpe... — O coração do homem batia acelerado com o arrependimento que sentia.

A mulher cobriu a boca com as costas da mão direita que tremia descontroladamente enquanto tentava conter o choro. John começou a ficar com medo de que aquilo desencadeasse uma nova crise de pânico.

— Me perdoa, por favor... — Ele mal conseguia acreditar no que havia acabado de fazer e nas consequências daquela violência que cometeu contra a amiga.

YOLO - Só se vive uma vezWhere stories live. Discover now