≈Amanda•
Quando eu pensava no fim de semana era como se eu tivesse vivido um filme. Antônio se despediu no outro dia de manhã, eu segui meu dia descansando até o horário de um novo plantão e recomecei minha rotina. Não mandei mensagens pra ele ao longo da semana, ele também não me enviou nada. O que deixava ainda mais forte a sensação de que tudo havia sido uma fantasia.
— Você tem andado tão distante.
— Ah Mari, só pensando na vida.
Ela arrumava o jaleco balançando o corpo na cadeira do dormitório. Nossa noite havia sido agitada com um óbito e um acidente trágico com três feridos, o que deixava todo o clima da equipe ainda mais triste.
O sol clareava no horizonte e víamos resquícios dele pela parede de vidro.
— Noite difícil, né? Quando vejo jovens morrerem assim sempre repenso minha vida, apesar de fazer parte da nossa profissão.
— Ele só tinha 21 anos... penso nos pais, você ouviu o grito da mãe quando recebeu a notícia?
— Sim, foi muito triste. Parece que ainda está ressoando na minha mente.
Meu celular vibra e eu tomo um susto achando que é mais uma emergência.
Dei risada para o celular, o que resultou em uma Mariana curiosa tentando ver com quem eu falava. Não revelei, não me sentia pronta para falar sobre o Antônio. Nem mesmo para ela.
Atendo mais alguns pacientes e vejo o tempo voar. Me arrumo para passar o plantão e quando saio vejo Antônio de braços cruzados conversando com o Sr. Genaro, o controlador de acesso do hospital.
— Bom descanso doutora!
— Bom término, Sr. Genaro.
Antônio beija minha bochecha quando me aproximo e me aperta em um abraço firme.
— Foi um prazer, Antônio!
— O prazer foi meu, Sr. Genaro. Bom trabalho!
Antônio abre a porta do carro pra mim e entro colocando minhas coisas no banco de trás.
— Onde você quer comer?
— Sinceramente? Na minha casa.
— Ué, não vai tirar até meu último centavo? Esperava mais de você.
— Estou realmente muito cansada, mas amanhã é outro dia. - dou uma risadinha maléfica e ele balança a cabeça rindo. - Hoje você não trabalha?
— Não, eu vou ter que resolver algumas burocracias mais tarde então tirei o dia de folga. Vantagens de ser o meu próprio chefe.
— Rico. Um dia chego lá.
— Confio em você!
Ele puxa minha mão e da um beijo sorrindo.
— Vou parar ali para comprar algumas coisas.
Antônio estaciona o veículo e entra em uma padaria que mais parece um shopping, espero no carro e alguns minutos depois vejo ele retornar com mais de 3 sacolas.
— Meu Deus, comprou tudo?
— O suficiente pra alimentar uma plantonista.
Dou risada e ele joga as sacolas no meu colo.
— Quer me contar o que aconteceu no plantão e o motivo de você não estar bem?
— Tive um caso dificil. Jovem, 21 anos, estava voltando da faculdade... o veículo derrapou em uma ribanceira e ele estava sem cinto, foi arremessado para fora do veiculo em uma árvore, teve a coluna fraturada na hora, chegou com vida mas faleceu.
— Meu Deus, ele estava bebado?
— Ai que está, não estava. Disseram que foi algum problema mecânico no carro, mas não da para saber.
Antônio aperta minha mão como quem me da forças.
— Depois tivemos um acidente com outro veículo, mãe, pai e dois filhos, os pais e a filha mais velha tiveram escoriações e o bebê não teve nada.
— Um caso muito triste e um que no fim ficou tudo bem.
— Sim... mas o do jovem mexeu comigo. A reação dos pais sempre me dói.
— Amo o fato de você ainda ter tanta empatia mesmo depois de anos de profissão.
A palavra me atinge como uma bola de basquete. A voz do meu ex gritando que eu só tinha empatia pelos meus pacientes é dolorosamente alta nas minhas memórias. Sorrio e abaixo a cabeça tentando esconder meus sentimentos.
— Isso é lindo, Amanda. Muito lindo. Gostaria muito que existissem mais pessoas no mundo como você!
Meu olhos ardem com as lágrimas involuntárias e ele me olha confuso.
— Obrigada, Antônio. Obrigada.
Mais uma vez ele ressignificava um momento da minha vida. Chegamos ao meu apartamento e ele arruma a mesa enquanto tomo banho e visto algo confortável.
— Uau, que linda. - dou risada da reação e ensaio um desfile cômico no corredor. Meu pijama de ovos era tudo, menos lindo. Mas ele fazia de tudo pra eu me sentir bem.
Sentamos para comer e ele me conta sobre a semana, o trabalho e me explica sobre uma ação social que fará no fim de semana.
— Nem tudo é de graça, eu queria te ver hoje para pedir um favor. Amanhã teremos uma ação social em uma comunidade da região, eu vou dar aulas de jiu jitsu e defesa pessoal mas teremos outras coisas, uma delas é uma palestra sobre a importância do autoexame e da saúde feminina. A médica que faria a palestra teve um problema e só me avisou hoje. Você poderia ir com a gente?
— Antônio, eu sou tímida!
— Você é incrível e vai se sair muito bem!
Respiro algumas vezes tentando controlar minha ansiedade e vejo ele sorrir iluminando a sala.
— Eu sei que você consegue. Vamos? Será incrível!
Fecho os olhos e concordo, rindo quando ele beija minha bochecha e meu pescoço.
— Obrigado! Você é maravilhosa!
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Boa tardeee,
Mais uma atualização pq to empolgada com essa história hahahahahah
Espero que estejam gostando tanto quanto eu ♥
Beijo, Le.
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A Cura
FanfictionA cura é muito mais do que o objetivo, é se permitir viver a plenitude do processo. Quando Antônio descobre que está doente, ele perde todas as certezas da própria vida. Quando Amanda sofre uma grande desilusão, ela resolve ser livre. Um em busca de...