Capítulo IX

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≈Amanda•

— Você pode ficar por enquanto?

— Claro. Você não está bem?!

— Estou, mas... gosto da sua companhia.

Antônio sorri e aperta minha mão.

— Meu compromisso é apenas a tarde, posso ficar até você pegar no sono.

Agradeço e deitamos na cama vendo um programa qualquer na tv. Antônio alisa meu cabelo em um cafuné carinhoso e eu bocejo algumas vezes.

— O que aconteceu na sua mão? - pergunto vendo uma marca de perfuração.

— Precisei tomar uma medicação essa semana.

— O que houve?

— Não estava me sentindo bem. Não se preocupa, já está tudo bem.

— Quando acontecer essas coisas me avisa.

— Obrigado, Amanda.

Sinto meus olhos pesarem e o cheiro dele me invadir. Durmo pensando em como ele é confortável.

≈ Antônio•

Sinto a respiração dela cada vez mais pesada e percebo que ela dormiu. Há exatamente 1 semana eu a conhecia, mas, quando estávamos juntos, parecia que faziam muitos anos. Amanda era alguém verdadeiramente boa, feliz e preocupada. O tipo de pessoa que era como ar puro em um domingo ensolarado. Aquele cheiro de felicidade e paz.

Minha manhã havia sido regada a enjoo e vômitos. As reações da quimioterapia estavam cada vez mais fortes e eu estava aprendendo a lidar com os sintomas. Sentir meu corpo, que sempre foi tão forte, fraquejar era muito difícil.

Não me sentia nem de longe pronto para expor isso a Amanda, mesmo sabendo que ela é médica. Enquanto fosse possível eu manteria oculto, sem despejar nela a carga da minha doença.

Se por um lado a quimioterapia me causava grandes dores, por outro Amanda era minha cura para cada sintoma. Era como se o cheiro dela amenizasse os enjoos, a presença amenizasse as dores e as tonturas cessassem a cada riso.

Estar, nem que seja deitado olhando um programa de fofoca, com ela era como estar medicado.

— Para, não fala assim comigo. Por que você está me xingando? Para. Não faz isso.

— Amanda? Amanda? - mexi de leve no braço dela fazendo carinho - Amanda acorda, é um pesadelo, estou aqui.

Ela abre os olhos assustada e tenta entender o que está acontecendo, olha pra mim confusa e leva alguns segundos para me reconhecer.

— Antônio? Me desculpa.

— Ei, você estava sonhando, não precisa pedir desculpas.

— Eu falei alguma coisa?

— Pediu para alguém não te xingar. - essa frase desperta algum tipo de gatilho nela e as lágrimas rolam copiosamente. Abraço forte o corpo dela. - Ei, ei eu to aqui. Não fica assim não, eu to aqui.

— Me desculpa, me desculpa.

— Amanda, para de pedir desculpa, eu tô aqui. Você quer conversar sobre isso?

Ela balança a cabeça e eu apenas a abraço mais forte ficando em silêncio.

— Você estava sonhando com seu ex?

A CuraWhere stories live. Discover now