≈Amanda•
Antônio tem uma noite difícil, entre calafrios, gemidos de dores e enjoos, ele quase não dorme e eu passo mais uma noite em claro acompanhando ele.
Tento todas as técnicas possíveis, faço ele tomar a morfina apesar dele ser relutante. Ele toma banho quente, preparo chá, mas nada parece amenizar. Vejo ele ir para sala e levanto novamente, o encontro sentado na sacada abraçado a manta.
— Amor?
— Oi amor, desculpa eu te acordei de novo.
— Como você está?
— Enjoado, já vomitei de novo e meu intestino está sofrendo. Nenhuma das outras teve um efeito colateral tão forte. Essa foi a última, os sintomas não deveriam ter diminuído?
— Cada sessão é única e o seu corpo está mais frágil devido as outras sessões, infelizmente é consequência mesmo. Vai amenizar. - abraço ele e ficamos em silêncio por alguns segundos. Antônio suspira frustrado e sinto meu peito apertar com a dor dele.
— Vai descansar, amor. Você está grávida, precisa dormir direito.
— Não consigo sem você.
— Eu já vou tentar deitar de novo.
— Quero ficar aqui com você. - sento no colo dele e ele coloca a cabeça na minha clavícula respirando fundo - seu cheiro ameniza a náusea.
Dou uma risada baixinha.
— Então fica me cheirando. - ele esfrega o nariz no meu pescoço fungando e rimos juntos.
— Obrigado, eu nunca vou ter palavras o suficiente para agradecer tudo o que você faz por mim e o quanto significa. - olho nos olhos dele - acho que nem consigo mais lembrar da minha vida antes de você, parece um buraco negro no espaço, sem vida. Sem graça.
Aperto ele em um abraço.
— A melhor escolha que eu poderia ter feito foi entrar naquele bar, aquela noite, e sair de lá com você.
Ele sorri.
— Obrigado pela oração, tudo o que você disse eu sinto o mesmo. As dores que as palavras da Michelle já causaram em mim... as atitudes. Hoje... sei la, parece que não dói mais como antes. - ele faz carinho no meu rosto - já até consigo te pedir ajuda.
— Eu quero poder te apoiar, Antônio.
Ficamos alguns minutos abraçados até que tenho uma ideia. Ligo a tv em um som baixinho e coloco para tocar músicas de São João que sabia que ele amava, Antônio sorri largo e sinto ele se animar.
Estendo a mão pra ele chamando, vejo ele se levantar e me abraçar. Balançamos nossos corpos em uma dancinha super lenta cantando a música baixinha um para o outro. Queria gravar essa cena na minha memória, no meu corpo. O sol nascente no horizonte. Nossa Aurora no me ventre. A felicidade na simplicidade do toque dos nossos corpos na sala da nossa casa, descalços no tapete, tentando vencer o medo, as dores e as inseguranças.
Antônio se cansa logo e senta no sofa, me sento ao lado dele e o puxo ate ele deitar com a cabeça no meu colo. A playlist passa música por música e vejo as lágrimas descerem pelo rosto dele até molhar minha coxa. Faço carinho no rosto dele como se o ninasse. Uma nova música começa.
— Eu nem pensei já estava te amando. Meu corpo derretia de paixão - recito pra ele a canção como se me declarasse - Queria estar contigo todo instante, te abraçando, te beijando, te afogando de emoção.
Antônio sorri.
— Ficar na tua vida eu quero muito - ele sussurra baixinho e me olha nos olhos - Grudar pra nunca mais eu te perder. Você é como água de cacimba, limpa, doce, saborosa... Todo mundo quer beber.
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A Cura
FanfictionA cura é muito mais do que o objetivo, é se permitir viver a plenitude do processo. Quando Antônio descobre que está doente, ele perde todas as certezas da própria vida. Quando Amanda sofre uma grande desilusão, ela resolve ser livre. Um em busca de...