Capítulo XXXV

996 95 43
                                    

≈Amanda•

Antônio tem uma noite difícil, entre calafrios, gemidos de dores e enjoos, ele quase não dorme e eu passo mais uma noite em claro acompanhando ele.

Tento todas as técnicas possíveis, faço ele tomar a morfina apesar dele ser relutante. Ele toma banho quente, preparo chá, mas nada parece amenizar. Vejo ele ir para sala e levanto novamente, o encontro sentado na sacada abraçado a manta.

— Amor?

— Oi amor, desculpa eu te acordei de novo.

— Como você está?

— Enjoado, já vomitei de novo e meu intestino está sofrendo. Nenhuma das outras teve um efeito colateral tão forte. Essa foi a última, os sintomas não deveriam ter diminuído?

— Cada sessão é única e o seu corpo está mais frágil devido as outras sessões, infelizmente é consequência mesmo. Vai amenizar. - abraço ele e ficamos em silêncio por alguns segundos. Antônio suspira frustrado e sinto meu peito apertar com a dor dele.

— Vai descansar, amor. Você está grávida, precisa dormir direito.

— Não consigo sem você.

— Eu já vou tentar deitar de novo.

— Quero ficar aqui com você. - sento no colo dele e ele coloca a cabeça na minha clavícula respirando fundo - seu cheiro ameniza a náusea.

Dou uma risada baixinha.

— Então fica me cheirando. - ele esfrega o nariz no meu pescoço fungando e rimos juntos.

— Obrigado, eu nunca vou ter palavras o suficiente para agradecer tudo o que você faz por mim e o quanto significa. - olho nos olhos dele - acho que nem consigo mais lembrar da minha vida antes de você, parece um buraco negro no espaço, sem vida. Sem graça.

Aperto ele em um abraço.

— A melhor escolha que eu poderia ter feito foi entrar naquele bar, aquela noite, e sair de lá com você.

Ele sorri.

— Obrigado pela oração, tudo o que você disse eu sinto o mesmo. As dores que as palavras da Michelle já causaram em mim... as atitudes. Hoje... sei la, parece que não dói mais como antes. - ele faz carinho no meu rosto - já até consigo te pedir ajuda.

— Eu quero poder te apoiar, Antônio.

Ficamos alguns minutos abraçados até que tenho uma ideia. Ligo a tv em um som baixinho e coloco para tocar músicas de São João que sabia que ele amava, Antônio sorri largo e sinto ele se animar.

Estendo a mão pra ele chamando, vejo ele se levantar e me abraçar. Balançamos nossos corpos em uma dancinha super lenta cantando a música baixinha um para o outro. Queria gravar essa cena na minha memória, no meu corpo. O sol nascente no horizonte. Nossa Aurora no me ventre. A felicidade na  simplicidade do toque dos nossos corpos na sala da nossa casa, descalços no tapete, tentando vencer o medo, as dores e as inseguranças.

Antônio se cansa logo e senta no sofa, me sento ao lado dele e o puxo ate ele deitar com a cabeça no meu colo. A playlist passa música por música e vejo as lágrimas descerem pelo rosto dele até molhar minha coxa. Faço carinho no rosto dele como se o ninasse. Uma nova música começa.

—  Eu nem pensei já estava te amando. Meu corpo derretia de paixão - recito pra ele a canção como se me declarasse - Queria estar contigo todo instante, te abraçando, te beijando, te afogando de emoção.

Antônio sorri.

— Ficar na tua vida eu quero muito - ele sussurra baixinho e me olha nos olhos - Grudar pra nunca mais eu te perder. Você é como água de cacimba, limpa, doce, saborosa... Todo mundo quer beber.

A CuraWhere stories live. Discover now