Capítulo XXVI

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≈Amanda•
Nós duas chorávamos muito, acho que pela surpresa da situação, eu sabia dos riscos do método contraceptivo mas não imaginava que falharia justamente comigo. Ainda existia o medo de ter algo de errado com o bebê, já que o último mês havia sido extremamente intenso. Minha mãe me abraçou com ainda mais força e nos sentamos no sofá da sala, ela me olhava com carinho e eu entendi que ninguém melhor do que ela para estar ali comigo.

— Quando você descobriu filha?

— Poucas horas atrás, assim que te mandei mensagem. Eu estava perdida e com muito medo, obrigada por ter vindo mãe. - apertei a mão dela com carinho.

— O Antônio já sabe?

— Não mãe, ele está internado. Na madrugada ele teve um começo de infecção e uma febre muito alta, chegou a ter convulsões. Fui para o hospital e passei o dia cuidando dele. Durante esse período tive algumas tonturas e a minha médica solicitou um exame de gravidez. Eu tinha certeza que daria negativo.

— Você tirou o DIU?

— Não, e justamente essa foi a minha maior surpresa.

— Pensei que por causa da quimio o Antônio não pudesse ter filhos.

— Não é recomendado, inclusive é recomendado que utilizemos outros métodos contraceptivos. Mas pelo tempo em que minha menstruação está atrasada imagino que a gravidez aconteceu na nossa primeira vez, antes dele começar a quimioterapia. Esse é outro medo que eu tenho, já que não sabemos como o bebê está. Além da quimioterapia, também tem o fato de que eu viajei e abusei muito, foram festas, álcool, viagem de avião. São só alguns fatores que podem ter impactado na gravidez.

— Vamos fazer aquele teste que diz as semanas de gravidez.

Concordo olhando para o rosto dela, peço o teste pelo aplicativo e conversamos sobre outras coisas durante a espera.

— Como o papai reagiu? Eu queria que esta notícia tivesse sido dada de outra forma. É o primeiro neto de vocês, sinto muito por ter sido desse jeito.

— Ele ficou tão em choque quanto eu. O Lucas só soube dar risada e falar "não acredito". Seu pai ficou de olhos arregalados e estático por alguns segundos, mas logo estava fazendo piada. Ele só não te ligou porque sabe que você está em choque. Mas está louco para poder gritar aos quatro ventos que vai ser vovô.

Soltei um riso baixo pensando na cena. Já havia imaginado algumas vezes como contaria uma situação dessas para eles. Nunca imaginei que seria em meio a uma crise de choro, sentada no sofá da minha sala. Queria poder ter preparado algo especial, infelizmente isso foi só o que eu consegui fazer.

Antonio me liga algumas vezes mas eu recuso a chamada. Ainda não me sentia confiante o bastante para falar com ele por ligação. Respondi a mensagem dizendo que estava ocupada e logo retornaria.

O teste chega e ao realizar vejo brilhar na tela digital semanas equivalentes a nossa primeira vez. Sinto meu corpo um pouco mais tranquilo, pois sei que não há o risco de deformidades devido a quimioterapia. Eu imaginava a data, mas ter a certeza de que já se passaram quase três meses foi chocante da mesma forma. Claro, eu sabia que algumas mulheres não sentiam os sintomas nos primeiros meses, mas não imaginei que eu seria uma dessas. Olho para minha mãe e mostro o teste, ela concorda e sorri.

— Como você acha que o Antônio vai reagir filha?

— Não sei mãe, nunca conversamos sobre filhos. Essa não era uma possibilidade ou preocupação. Confio que ele não será um babaca, mas sei também que ele está passando por um momento delicado no tratamento.

A CuraTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang