Capítulo XXXVII

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≈Antônio•

Eu estava dirigindo completamente no automático, não enxergava a avenida, muito menos o caminho. Amanda chorava no banco de trás agarrada a mão da mãe, o choro agudo arrepiava minha espinha.

— Está muito cedo, está muito cedo. Ela não está pronta. - Amanda repete como um mantra e eu sinto meus braços tremerem em espasmos intensos.

— Ela está sangrando! - Regiane grita e sinto meu corpo sair de órbita.

Entramos pela emergência e por sorte Lucas havia conseguido avisar o hospital. Uma equipe nos esperava a postos e Amanda foi atendida rapidamente. Dona Regiane chorava agarrada ao Sr. Emanuel e eu queria gritar no meio da sala de espera por socorro, por piedade, por Deus.

Minutos, que parecem horas, se arrastam até que Anne surge na sala de espera.

— Antônio? Você pode vê-la agora.

Sinto meu corpo tremer e acredito que a qualquer momento eu posso desmaiar. Me aproximo da sala e vejo Amanda com os olhos marejados e o nariz vermelho.

— Vou deixar vocês a sós... qualquer coisa estou no corredor.

— Obrigada. - Amanda sorri fraca.

— Amor? Ela... - minha voz falha com a menor menção de que algo não estivesse bem.

Amanda suspira e lágrimas descem pelos olhos dela.

— Ela está bem... por enquanto. - As lágrimas rolam pelo rosto dela e eu sinto minhas mãos tremerem - foi minha culpa, eu sempre soube que ser inconsequente no começo traria resultados.

— Não foi sua culpa, amor. - respiro fundo - me conta o que houve.

— Estou com placenta prévia, preciso de repouso absoluto, provavelmente até o parto. Caso eu não faça ela possivelmente nascerá prematura. - ela suspira - agora viveremos três meses de risco. Com medo. Tudo culpa minha.

Aperto a mão dela fazendo ela me olhar.

— A culpa não foi sua e agora você só precisa se concentrar na nossa filha. Repouso, cuidado e vai dar tudo certo.

— Quando penso que tudo dará certo, acontece algo assim.

— Olha pra mim - peço firme - nada do que vivemos até agora teve um script linear. Se hoje nossa coelhinha encontrou um obstáculo, ela vai passar por isso como nós passamos. Confia em mim? - Amanda balança a cabeça - Confia na gente... confia na nossa Aurora.

Sorrio apertando nossos dedos, ela leva minha mão ao rosto, faço carinho e beijo a testa dela.

— Nós vamos ficar bem, nós sempre ficamos. - aperto ela confortavelmente e vejo Dona Regiane abrir a porta.

Amanda estende a mão pra mãe que a aperta e conforta.

≈Amanda•

Os dias se arrastaram em puro tédio, eu passava quase todo o tempo deitada ou fazendo movimentos na bola de pilates. Meu pai e Lucas já haviam retornado para casa mas minha mãe foi categórica que ficaria até Aurora nascer. As primeiras semanas foram difíceis, mas... bom, agora eu só riscava os dias no calendário torcendo para Aurora chegar logo.

— Oi meu Sol - Antônio entra no quarto e eu sorrio largamente ao vê-lo — Pãozinho - ele brinca apertando meu pé inchado.

— Ta mais pra bolo do que pra pão. - dou uma risada leve - não era para estar tão inchado.

— Relaxa o corpo - Antônio fala firme e eu fecho os olhos. Sinto ele apertar meus pés em uma massagem deliciosa e solto suspiros de aprovação.

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