Capítulo 2 MUDANÇAS

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Ann Arbor, Michigan
07 de outubro
06:12hrs da manhã.

---------- Edward Newt ---------

Olhando daqui de dentro, através da janela da cozinha, tudo parece bastante calmo lá fora... O sol começa a surgir no horizonte, lançando alguns raios entre as árvores e prédios. Há uma neblina baixa, que com a leve claridade do amanhecer, toma um certo tom alaranjado mesclado com lilás das folhas espalhadas pelo chão.

Acabamos de sair do verão, e eu esqueci como o outono é frio, aqui nessa cidadezinha.  Deve estar uns 06 graus lá fora... ainda bem que o aquecedor daqui funciona bem, deixando o ambiente bem aconchegante.   Mas quando começar a nevar, não quero nem pensar em estar por aqui.  Ano passado, lembro que no Natal, chegou aos terríveis 19 graus negativos.   Até os bonecos de neve precisaram de agasalhos.

O som da cafeteira chama minha atenção, indicando que o café está pronto.  Logo, o cheiro toma conta do ambiente e me traz uma sensação de tranquilidade.  

Amo café.  Forte, pouco açúcar.   Feito na hora, quentinho.   Taí uma coisa que combina bem com o clima desta cidade...  

Coloco numa bandeja, duas xícaras de café, e adoço apenas um.  No outro, deixo para que minha garota cuide dessa parte, até porque, não sei a dosagem certa de adoçante que ela usa.

'Minha garota'... atravesso a cozinha e entro num pequeno corredor, enquanto penso nessa palavra com um sorriso no rosto.  Estava começando a achar que jamais usaria esse termo pra me referir a ela. 

Chego ao quarto, e a luz matinal parece vencer aos poucos os pequenos vestígios de escuro, que as grossas cortinas oferecem ao recinto. 

Assim, não preciso ascender as luzes para apreciar a mulher que está deitada, de bruços, com um dos braços pendurado pra fora da cama, vestindo uma calça de moletom cinza claro e blusa branca de alça fina...  

 Rachel Leadger.

Encosto no batente da porta segurando a bandeja com as xícaras de café, enquanto a admiro...    E me pego pensando em como uma garota de 36 anos, linda, de olhos verdes, de 1,65 de altura, lindas pernas e curvas bem definidas, carrega um QI de 175?   

No instante que paro na porta do quarto, a gata que está dormindo ao seu lado ergue a cabeça e me encara por alguns segundos, como se quisesse me dizer que não sou bem-vindo ali.   E então, me ignora e volta a colocar sua cabeça entre as patas.

Não pense que foi fácil conseguir a atenção exclusiva de alguém como ela.  Não, não foi...

Conheci Rachel no início do ano passado, em Nova York, quando estive na PaxCorp.  

Tinha acabado de acompanhar uma reunião de sócios da empresa e estava no saguão, aguardando que trouxessem nosso veículo, quando fomos surpreendidos por um mal súbito.  Josh Mitchel, um dos advogados sênior da empresa, que estava comigo, teve um infarto, e foi diante dessa tragédia que minha vida tomou um novo rumo...   Estava ajoelhado ao lado do Josh, em desespero sem saber o que fazer, quando ela apareceu se oferecendo para ajudar.   Rachel Leadger, geneticista da PaxCorp, se ajoelhou ao meu lado e começou a fazer uma massagem cardíaca, e não parou até chegar a ambulância.    Ela salvou a vida dele naquele momento, mas infelizmente, Josh morreu dois dias depois por complicações no ponto de safena.

Mas enquanto ela esteve do meu lado, ali ajoelhada tentando salvar o Josh, eu não conseguia parar de olhar pra ela.   Me lembro de cada detalhe daquele momento... sua respiração forte, por conta do esforço em fazer a massagem, algumas mechas de cabelo preto caindo entre seus olhos verdes, e em seguida, o gesto dela prendendo-o atrás da orelha...  O decote da sua blusa, revelando uma parte dos seus seios sob um sutiã preto.   E seu perfume...  Puxa!  Sei que vou parecer muito errado em dizer isso, mas estava começando a sentir inveja do velho Josh, pois ela estava com suas mãos no seu peito, e eu ali, como um idiota babando por aquela mulher.  

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