Capítulo 102

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Laura Pov

Suyin _ E você não acha estranho ter tanto ódio entre os seus avós humanos? _ Pergunta tirando o bico da mamadeira da boca, ficamos conversando enquanto comemos, Suyin está muito interessada na minha vida humana, o que eu não me importo de falar sobre, sinto até uma nostalgia gostosa, mas é estranho a forma como ela muda de foco quando falo da tia Sophi… _ Tipo sua avó materna odiava seus avós paternos e não gostava muito do fato da sua mãe ter casado com o seu pai, não tem algo de estranho nisso?

_ Não sei ao certo, apesar de não gostar ela os tratava bem, diferente dos meus avós paternos que são bem enobes, minha vó Cauípe é uma indígenas raiz, ela não concordava com o fato da minha mãe ter casado com um europeu e ter se convertido ao catolicismo, o que eu achava meio hipócrita, pois ela não vivia em meio a sua comunidade, vovó se apaixonou por um homem negro e se casou com ele no cívil e teve a minha mãe e o meu tio Irapuã, meu tio tem o nome do pai da minha vó e minha mãe o nome da tia do meu avô, foi ela que o criou. Sabe, eu acho que minha avó não gostava do meu pai e dos pais dele, porque são Portugueses, ela parecia sentir muita repulsa, nas pouca vezes que vi todos juntos minha vó sempre recitava um mantra, ela dizia que era de proteção e sempre os chamavam com desprezo ao vê-los de “Ánga oñembyaíva”!

Suyin _ E o que significa? _  Pergunta meio agitada…

_ Significa algo como “alma destruída” ou “destruidores de alma”, meu tio Irapuã disse que esse era o significado, mas não sei ao certo, vovó queria que eu aprendesse Tupi, pois ela queria que eu soubesse das minhas origens Tamoios, mas nunca cheguei de fato a aprender, meu pai não gostava que passasse muito tempo com a minha vó sem ninguém presente. _ A face de Suyin ficou mais séria, do nada! _ Minha mãe sempre brigava com ela quando dizia isso perto de mim, um dia eu passei a tarde com ela e perguntei o porquê de ela sempre chamar meu pai e os pais dele assim. Vovó dizia que eles carregam muito peso na vida deles e que continuavam criando mais dívidas e isso desestabiliza a natureza, ela dizia que tudo que a natureza traz deve ser respeitado e que destruí uma espécie, é como destruir a si mesmo, pois causa desequilíbrio ao mundo, ela acredita que todos podem viver em paz e que a única justificativa para caçar é a fome, não por diversão. Pensando agora, já sei por que ela tinha repulsa da família do meu pai, eu lembro que teve uma época que uma vez a cada dois meses meu avô aparecia para levar meu pai pra caçar… _ Suyin engasga com o achocolatado… _ Eita, você tá bem? _ Me aproximo dela e dou alguns tapinhas em suas costas…

Suyin _ Estou… bem…_ Soa como um sufoco, a sua voz… _ Me diz, eles caçavam o que?

_ Sei lá, eu nunca vi nada que foi caçado, sempre ficava distraída com a boneca que meu avô Henrique trazia e a minha vó Elisa sempre me levava pro parquinho quando minha mãe começava a brigar com o meu pai, então não sei ao certo o que eles caçavam, porém sei que minha mãe odiava, sempre rendia longas brigas entre ela e meu pai. A dona Adelina não deixava barato, ela batia boca com o meu pai e com os meus avós, mas eu acho que tudo parou quando meu pai quebrou a perna e a tia Sophi deu maior bronca nele, depois daquele dia meus avós só vinham no meu aniversário e no Natal. _ Vejo Beijinho ao longe e o chamo… _ Vêm Beijinho! _ Só foi ouvir a voz de bebê que faço só pra ele, a raposinha corre em minha direção, faço um carinho em sua cabeça e o assanhado já vira de barriga pra cima, pedindo carinho na barriga…

Suyin _ Laura, eu acho que devo te contar uma coisa… _ Diz meio hesitante… _ Você não pode surtar! _ Concordo ainda meio distraída com Beijinho, é que ele é muito fofo… _ Laura, é sério! Você não pode ser impulsiva, é perigoso se você fizer besteira e sei que não cabe a mim te contar, mas você merece saber… _ Suyin para ao ouvir a voz da mãe, ela fez uma cara amedrontada agora que até eu senti o medo dela…

A Nova Filha dos DuquesWhere stories live. Discover now