Apostada em um jogo

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Enquanto estava em meu quarto, ouvia o barulho do cassino de meu pai, ou ex-cassino. Morávamos acima dele e assim eu podia ouvir de tudo. Era realmente um inferno nos dias que aquilo funcionava, música alta, conversas e risadas, algumas brigas. Mas há algum tempo isso não acontecia mais, já que meu pai estava totalmente falido. Ele tinha acabado de perder o cassino em um jogo, mas mesmo assim não parava de jogar, a única coisa que nos restava era a nossa casa, o vício estava o consumindo cada vez mais.

Peguei meu diário e comecei a escrever tudo o que estava se passando em minha vida nos últimos dias. Emma, minha melhor amiga, havia acabado de se mudar para outra cidade, eu estava completamente sozinha. Minha mãe morreu quando eu tinha apenas sete anos e hoje, 23 de outubro, eu estava completando 18 anos. Mesmo tendo acordado triste por ela não estar aqui, acordando-me com beijos e cantando "parabéns pra você" com um cupcake com velinhas nas mãos como sempre fazia, eu tentava ficar feliz de algum modo e pensar positivo. Mesmo não tendo recebido presente algum, procurava pensar que onde quer que minha mãe estivesse, ela estava feliz por eu estar completando mais um ano de vida.

Um barulho vindo do cassino despertou minha atenção. Era um barulho diferente do que eu estava a acostumava a ouvir quando o estabelecimento funcionava. Confusa e preocupada, saí de meu quarto e fui caminhando até a escada para ouvir e tentar entender o que estava acontecendo.

- Perdeu, Nate! Como vai me pagar? Seu cassino já é meu, sua casa também já é minha... - nossa casa? Não podia acreditar que papai havia feito aquilo! Engoli o choro e continuei a ouvir o que um homem alto, gordo e de cabelos castanho claro dizia.

- Eu não tenho mais nada, Erick. Perdoe-me, eu não tenho como pagar! Poupe-me somente desta vez - suplicou meu pai.

- Sabe muito bem como é, Nate, jogo é jogo. Ou você me paga ou sabe como sua vida termina, não é? - O tal Erick disse com ironia. Meu coração disparou, como meu pai pagaria essa tal dívida se não tínhamos mais nada? Tínhamos perdido absolutamente tudo!

Papai abaixou a cabeça.

- Eu não sei como posso te pagar, Erick. Não tenho nada em mente, eu não tenho mais nada. Dinheiro, casa, absolutamente nada.

- Pois eu acho bom que pense logo em algo, que seja breve! Quero meu pagamento, Nate. Não vou sair daqui de mãos abanando - eles ficaram em silêncio por alguns segundos, e de repente o homem voltou a falar. - Você ainda tem uma coisa, uma última coisa. A sua única esperança em se manter vivo. Sabe como é, não é? Toda esperança tem seu preço e se quer continuar vivo e me pagar, precisa me dar algo.

- O que? Diga, me diga! - disse papai, afoito.

- Sua filha. A única coisa que te resta. - sorriu vitorioso o tal Erick.

Se antes meu coração já estava acelerado, agora ele parecia que ia rasgar meu peito. Ele não podia estar falando sério. Meu pai nunca permitiria que ele me levasse. Certo?

- Como assim minha filha? Está louco? Ela é apenas uma criança, está completando dezoito anos hoje, não faça isso comigo, Erick! Ela perdeu a mãe quando tinha apenas sete anos, ainda é uma criancinha assustada...

- Não há outra opção, Nate. Ou você me paga com sua filha, ou os dois sairão mortos daqui!

Comecei a rezar para que meu pai pensasse em outra coisa, em alguma forma de pagar o que devia. Meu pai dizia que não, mas Erick continuava a insistir, queria me levar com ele a todo custo. Não vinha outra coisa em minha mente a não ser a imagem de ele me tocando, tentando fazer certas coisas comigo.

- Não, Erick, pense em outra coisa! Qualquer coisa!

- Ora, ora, Nate, veja bem: você não tem mais casa, não tem mais emprego, perdeu o seu cassino, sua única fonte de dinheiro, não tem comida, como sua filha irá sobreviver quando os dois não têm um teto? Ela só irá te dar trabalho! Pense comigo - meu pai ficou calado por um tempo, não podia acreditar que ele estava considerando aquela ideia. - Já chega - Erick falou de repente, sacando o revólver da cintura. - Como vai me pagar? Diga agora ou vai fazer uma visitinha ao cara lá de baixo.

Papai começou a chorar e disse:

- Pode ir buscá-la, está no terceiro andar da casa. O quarto dela é o terceiro à direita.

Meu coração quase pulou pela boca, eu queria morrer naquele momento. Eu perdi tudo o que tinha por causa dele e ele ainda me entrega assim, tão fácil? Eu sempre disse para ele parar com os jogos, mas nunca adiantou. Ele só me dizia para eu não me preocupar e não me meter em seus assuntos de adulto.

O cara já estava vindo em direção às escadas para me buscar. Eu queria correr, fugir, mas minhas pernas simplesmente não me obedeciam, eu estava aterrorizada. Quando ele estava quase na metade da escada do segundo andar, finalmente consegui me mover. Corri até meu quarto, peguei meu diário e uma boneca que minha mãe havia me dado antes de morrer, saí pela porta e corri o mais rápido que pude, mas ele já estava na metade da escada daquele andar quando me viu e gritou:

- Ei, garota, aonde pensa que vai? Agora você é minha!

Acelerei o passo e estava quase chegando ao elevador. Antes que eu pudesse chegar até o mesmo, tropecei e caí no chão. Tentei me levantar depressa, mas não consegui. Fui me arrastando para tenta chegar ao elevador, mas Erick foi mais rápido e me puxou pelos pés. Tentei me agarrar ao tapete vermelho no chão, mas não adiantou. Ele me levantou e começou a me puxar pelo braço. Meu pai pedia para ele não me machucar. Eu sentia raiva, muita raiva de me pai naquele momento.

Chegando até o carro estacionado do lado de fora, Erick tentou me empurrar para dentro do mesmo. Eu fazia de tudo para não entrar, me debatia, tentava chutá-lo, mas nada adiantou, apenas feri meus dedos. Fui jogada brutalmente para dentro do carro e logo depois uma mala que eu reconheci ser minha também foi jogada para dentro. Pude ver meu pai do lado de fora e falei apenas com o movimento dos lábios.

- Eu nunca vou perdoar você.

Erick entrou no carro, também no banco traseiro, talvez com o intuito de me impedir de fazer algo e tentar fugir. Eu tinha plena consciência de que o que viria a seguir não seria nada bom, sabia que estava prestes a viver um inferno. Muito inocente, no fundo eu ainda esperava que meu pai desse um jeito e fosse atrás de mim para me buscar e reverter a situação, o que não aconteceu.

Criminal MindsWhere stories live. Discover now