Rumo à prostituição

21.9K 1K 1.5K
                                    

Chorei o caminho todo, não conseguia parar de chorar. Não podia ser diferente, depois de tudo o que havia acabado de acontecer, sorrindo eu não poderia estar. Eu chorava tanto que chegava a soluçar e Erick, completamente irritado, interrompeu o silêncio.

- Para de chorar, porra! Esse teu choro já está me irritando pra caralho! Ficar chorando não vai adiantar nada! - não conseguia crer que uma pessoa poderia ser tão baixa e fria ao ponto de falar assim comigo depois do que havia acontecido. Depois de o meu próprio pai ter simplesmente me entregado como pagamento de uma dívida. - ENGOLE ESSE CHORO AGORA!

- Eu quero saber - tentava engolir o choro - para onde está me levando.

- Não precisa saber agora, quando chegarmos, você verá - respondeu ele, com um sorriso debochado no rosto. - Não sei por que chora tanto. Seu pai te apostou em um jogo e te perdeu. Ele nunca te amou.

- ELE ME AMA SIM! - berrei. - COMO PODE DIZER UMA COISA DESSAS, SEU CRETINO? - ele riu e em seguida lançou-me um tapa na cara, bem forte.

- ISSO É PRA VOCÊ APRENDER DESDE JÁ QUEM COMANDA O JOGO AGORA! NUNCA MAIS PENSE EM LEVANTAR A VOZ PARA MIM, VADIA.

Engoli a seco e abaixei a cabeça, continuando a derramar mais lágrimas em silêncio. Fiquei ainda mais triste, ele havia me chamado de vadia e isso me afetou bastante. Olhei pela janela e ficamos em silêncio durante o resto da viagem, até pararmos em frente a uma boate. Erick saiu do carro e em seguida me puxou, para que eu saísse também. Então esse era o meu destino?

Ele me puxou para dentro e eu fiquei inerte e em silêncio, observando o local.

- Não queria saber onde iria ficar? Bom, aqui é sua nova casa! - Riu.

Era terrível. Mulheres dançando seminuas e homens as tocando. Alguns homens velhos, barbados. Outras mulheres carregando bandejas também passavam para lá e para cá, vestidas com roupas vulgares também. A decoração era toda em vermelho e preto, a cara de um puteiro. Era uma boate de strip-tease, concluí. Uma garota de cabelos curtos e escuros passou por nós e Erick chamou por ela.

- Anne! - chamou ele e ela parou, olhando para nós. - Vai arrumar umas roupas para essa gracinha aqui - falou, mexendo em meu queixo. - Ela vai começar ainda hoje.

- Começar o quê? - perguntei, temendo a resposta e sentindo minhas pernas bambas.

- Ora, minha querida, começar o trabalho. Ou acha que vou te manter de graça? Terá que trabalhar se quiser comida e teto.

- Não! Eu prefiro morrer na rua a fazer essas coisas. Por favor, me deixe ir! - implorei e ele bufou.

- Só vou dizer uma vez e não vou discutir mais. Se não fizer o que eu mandar, além de apanhar vai ficar trancada no quartinho escuro por no mínimo três dias!

Ele deu as costas e eu fiquei parada, olhando para a tal Anne. Eu estava com medo, apavorada. Meu olhar e minha expressão deviam expressar bem isso, pois ela percebeu. Olha o presente que recebi logo no meu aniversário!

- Venha - Anne foi me puxando e pegando minha pequena mala que já havia sido deixada ali por um dos grandalhões. - Não tenha medo, não te farei nada.

Fomos passando por todos aqueles homens, que me davam repulsa só de olhar e pensar que eles tocariam em mim.

- Então, como já sabe, meu nome é Anne. Como se chama?

- Claire - respondi baixo.

- Pode ficar tranquila - disse ela, notando meu visível desconforto. Era meio impossível ficar tranquila na situação em que eu me encontrava, pensei. - Quantos anos tem?

- Estou completando dezessete hoje - respondi triste.

- Deixe-me ver suas roupas - ela puxou minha mala e abriu a mesma, vendo a boneca que minha mãe havia me dado, algumas camisetas e jeans surrados.

- Você não vai precisar disso. Eu vou te dar um conselho: conforme-se e acostume-se com isso aqui, ou sofrerá consequências. Erick é um cara seco, não tem piedade de ninguém e não pensará duas vezes antes de lhe fazer algum mal. Portanto, siga as regras dele. Nem sei por que estou te falando isso, eu não sou de me importar com as novatas, mas é visível o quanto está assustada com isso e o quanto é inocente, além de ser praticamente uma criança. Se é do tipo que costuma ter fantasias, trate de esquecê-las agora. O mundo não é um conto de fadas.

- Eu sei disso - murmurei. - Hoje mais do que nunca. O que é o "quartinho escuro?" - perguntei.

- Bom, eu já fui para lá duas vezes assim que cheguei aqui - disse ela, enquanto mexia em um armário. - É um local onde Erick nos tranca por dias, sem comida ou bebida se você não cumprir as regras dele e andar na linha, além de te dar uma surra daquelas. É terrível - engoli em seco suas palavras. Ela virou-se segurando umas peças de roupas e voltou para perto de mim. - Pode usar esse figurino aqui, não mostra muita coisa.

Não mostra muita coisa? Um sutiã preto e um short minúsculo que nem deveria ser chamado de short, e sim de calcinha. Ambos brilhosos, chamativos e bem apertados. Uma piada de péssimo gosto.

Vesti-me e estava realmente parecendo uma prostituta. Estava me sentindo péssima e totalmente desconfortável com meu corpo totalmente à mostra. As únicas coisas cobertas eram minhas partes íntimas, por enquanto. Pensar nisso me enojava. Não queria pensar em homens velhos e babões me tocando, não queria pensar que eu seria vendida a eles.

Anne fez uma maquiagem em mim, olhos bem marcados e batom vermelho. Só faltava aquilo para me deixar completamente caracterizada como uma vadia.

- Vamos? Está na hora. Você sabe dançar? Só precisa dançar em cima do palco para eles.

- E-Eles vão tocar em mim? - perguntei com medo.

- Vão sim, querida - ela respondeu, rindo. - Vão tocar e beijar muito seu corpinho, viu? - engoli em seco pela milésima vez naquela noite.

Chegamos ao palco. Havia uma cortina grande e vermelha em minha frente, o "show" ainda não havia começado. Eu não tinha ideia do que fazer.

- Olha aqui, gente! A garota nova chegou com uma boneca na mala! - berrou Anne, soltando uma gargalhada logo depois. Não consegui entender o porquê de ela estar fazendo aquilo e estar se comportando como uma estúpida se havia me tratado tão bem e sido tão legal comigo dentro do quarto.

- É inocente, querida? - disse uma delas, debochando.

- Eles gostam disso. Adoram menininhas inocentes como você. Vão usar e abusar! - outra disse, mexendo em meu cabelo. Estavam querendo me pôr medo e estavam conseguindo.

- Só falta dizer que é virgem! - Anne disse, o que arrancou risadas de todas as presentes.

Sim, eu era virgem, mas preferi ficar na minha. As cortinas se abriram e começou a tocar uma música das Pussycat Dolls. As garotas começaram a dançar e eu tentava imitá-las. Vez ou outra, alguma delas ia até a ponta do palco e pegava notas de dinheiro jogadas pelos homens da plateia. Tomei coragem uma vez e peguei duas notas de cem dólares.

O show - ou tortura, como preferi chamar - finalmente acabou. Perguntei se o dinheiro era meu e elas disseram que metade tinha que ir para as mãos de Erick sempre. As garotas saíram do palco e se espalharam pelo bar. Eu fiz o mesmo, procurando algum lugar desocupado. Recebia cantadas nojentas e até recebi um tapa no bumbum. Só queria saber a hora em que aquilo terminaria.

Encontrei uma mesa vaga num canto afastado e me sentei ali, abaixando a cabeça sobre a mesa. Senti alguém se aproximando, sentando ao meu lado. Sabia que aquele era o momento em que eu teria que ir para a cama com algum daqueles homens nojentos e perder minha virgindade.

Uma voz rouca e sexy ecoou em meus ouvidos.

- Oi! - levantei a cabeça e me deparei com um cara que era totalmente o oposto do que eu já tinha visto no pouco tempo em que estava naquele lugar. Era jovem, bonito. Olhos cor de mel, lábios bem desenhados e cabelo bem arrumado em um topete, de uma tonalidade clara. Ele estava sorrindo e sendo simpático.

- O-O que você quer? - perguntei com medo.

Criminal MindsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora