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• Lisa •
"Toda essa confusão por um vestido que tem o preço do casamento todo"
Durante o caminho, Aurora não parava de conversar, parece que o assunto nunca morria. Devo dizer que talvez nós tenhamos feito amizade muito fácil. Sua companhia é agradável, e seu humor é contagioso. Ela ligou o som do carro e deixou o volume máximo, as pessoas que passavam pela calçada encarava o carro imediatamente, obviamente devem ter pensado o quão louca nós somos.
- Hacker disse para te levar na melhor loja de vestidos. - Ela falou. - Conheço uma que é considerada a maior e a mais luxuosa da cidade, todos que não tem dó de gastar, vão a este lugar. Se é que você me entende.
Eu logo pensei nos preços desses vestidos, o absurdo que deve ser.
- Olha não precisa ser nada muito caro. - Eu falei. - Gosto de coisas simples.
- É o seu casamento, é o momento mais importante da sua vida. Não sairá nada do seu bolso, então aproveita sua boba.
- Por isso mesmo. Não quero deixar ninguém falido.
- Oh meu deus. - Aurora riu. - Pelo visto você nunca viu a conta bancária de Hacker, não é? Ele tem dinheiro para um cassete. Os gastos do casamento não fazem nem cócegas em seu bolso.
Se ele está disposto a pagar as dividas do meu pai e a troco de um casamento. É... Com certeza ele deve ter muito dinheiro. São dois gastos na sua conta.
- Já tem em mente qual estilo de vestido você quer? - Ela perguntou.
Me lembrei das palavras de Hacker quando ele foi em casa: "nada muito chamativo"
- Não quero volume. - Respondi.
- Entendi, você é mais moderna. Um vestido sereia iria ficar ótimo no meu corpo.
Paramos em frente a uma loja com alguns vestidos de noiva expostos nas vitrines. Eu já sabia o quão chique era aquele lugar só pelo letreiro dourado bem grande e brilhoso. As moças que atendiam os clientes eram todas refinadas, seus uniformes eram um azul marinho, saia Midi que ia até o joelho, blazer e um broche com o símbolo da loja. Eu fiquei envergonhado só por pisar os meus pés nesse lugar, eu era tão inferior perto dessas moças que só usavam uniforme. Minha roupa era muito simples, um vestido beje, com botões e um laço ao redor do pescoço. Agora eu entendo por que Hacker me chama de freira.
Ao entrar na loja, o olhar da atendente pulou diretamente na minha direção, ela me encarou de cima à baixo com uma cara de nojo. Esse não era meu lugar, eu não me encaixava. O que eu estou fazendo aqui?
- Querem alguma coisa? - A atendente perguntou em um tom grosseiro.
- É assim que costumam tratar os clientes de vocês? - Aurora perguntou, rebatendo a grosseria. A moça estreitou os olhos para ela.
- Vocês não parecem uma de nossas clientes. - Ela disse. - Aqui só atendemos quem pode pagar por nossos vestidos, clientes importante.
- Acha que não podemos pagar por um vestido dessa feira garota?
- Feira? - A moça ficou indignada. - Eu vou pedir que se retirem. Deve ter alguma outra loja que faz uma promoção para vocês.
- Não vou sair daqui sem um vestido de noiva.
O clima já estava começando ficar bem pesado, e eu não sabia o que falar. Por mim eu iria em outro lugar sem problema nenhum.
- Olha aqui sua crioula, é melhor você se mandar. Ou vou ser obrigada a chamar a segurança.
Que diabos uma pessoa fala com a outra assim? Ela tem algum problema? A raiva subiu nos olhos de Aurora.
- Você me chamou do quê sua vadia? Eu quero que chame a sua superior, agora! - A menina que parecia meiga e fofa se transformou em algo que até o diabo teria medo. Muito parecido com o seu marido, Nick.
- Não recebo ordens suas.
- Chame a porra da sua chefe!
As duas gritaram uma com a outra, até aparecer alguém para interromper.
- O que está acontecendo aqui? Por que estão gritando? - Perguntou uma mulher alta e loira.
Ela também usava o mesmo o uniforme que a atendente, mas no lugar do broche ela tinha um crachá. Aurora tentou falar, mas a outra moça sem educação falava ao mesmo tempo.
- Calada Maria! - A loira disse para a atendente. - Deixe a senhora Greco falar. - Ela a conhecia.
- Sua funcionária foi extremamente mal educada e ainda uma porra de uma racista filha da puta. Eu me segurei muito para não voar no pescoço dessa sem noção. Porém, diferente dela, eu tenho ética. Não é assim que costumo ser tratada em qualquer lugar.
- Ok, podemos resolver isso. - A loira disse pacificamente.
- Racismo se resolve na porrada. Que imagem querem deixar? Viemos procurar um vestido, porque supostamente, esse é o melhor lugar, mas estou vendo que não é tudo o que dizem. Minha amiga será uma Hacker em breve, e queremos seu melhor vestido.
As duas arregalaram os olhos assim que ouviram o sobrenome Hacker. A atendente ficou mais apavorada para ser exata.
- Me desculpe eu não sabia que... - A moça tenta se justificar mas a Aurora não deixa.
- "Bom dia senhoritas, como posso ajudar?", era isso que você deveria ter perguntado.
- Eu realmente sinto muito, eu vou tomar as devidas providências, eu prometo. Agora por favor me acompanhe meninas, vou lhe mostrar nossas melhores vestidos. - Antes de nós acompanhá-la, a mulher loira se virou para a sua funcionária. - E você Maria, está demitida.
Clarice, a moça que nos acompanhou, foi muito mais simpática e educada, recebemos o melhor atendimento que uma pessoa poderia ter. Mas claro, isso só aconteceu quando souberam com quem eu iria me casar. Hacker é famoso pela região.
Uma outra funcionária tirou minhas medidas para achar o vestido que ficasse ajustado em mim, ficamos esperando em uma sala privada com poltronas e um espelho enorme em nossa frente.
- Sinto muito por isso. - Aurora disse, enquanto esperávamos. - Você não deveria presenciar.
- Está tudo bem. - Dei um sorriso sem graça.
- Desculpe pela minha reação também. Eu não sou assim.
- Não se desculpe, você só estava se defendendo. Aquela vaca merecia uma surra. - Nós rimos.
- Você acabou de me conhecer e essa é a primeira impressão que estou deixando. Aquela vaca acabou com a minha manhã.
- Não vamos deixar que ela nos afete, ela já foi demitida.
- Tem razão.
Alguns minutos depois, Clarice apareceu com alguns de seus vestidos mais bonitos, eu experimentei os que eu gostei mais.
Assim que eu coloquei o quarto vestido e me olhei no espelho, vi que esse era o que mais combinou comigo, não era transparente, decorado, e não desenhava meu corpo. Era assim que eu estava acostumada a me ver. Apesar da desaprovação da Aurora, foi ele que eu escolhi para usar no meu casamento.
