Capítulo 32

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                       Beatriz

Já era tarde quando cheguei e Valentina não estava em casa. Pelo menos ela deixou tudo limpo e fez comida.

Tomei um banho e desci com meu material nas mãos pra revisar.

Nossa história não é nada anormal.

Morávamos em um apartamento em frente ao morro de Manguinhos e tivemos que nos mudar por eu não conseguir pagar mais o aluguel.

Perdemos nossos pais cedo e nossa tia ficou com a gente. Mas assim que completei dezoito anos, saí da casa da maluca e aluguei um apartamento pequeno pra nós duas.

Comecei a faculdade de advocacia e quando terminei consegui um estágio, e hoje tenho um trabalho fixo que me paga o suficiente.

Foi difícil, já que Valentina tinha por volta dos treze e tava meio rebelde.

Consegui arrumar essa casa com uma senhora que ajudava nossa tia no asfalto e mudamos assim que foi possível.

Valentina não conhecia muito essa parte e na primeira oportunidade sumiu e de quebra ainda perdeu a virgindade com um desconhecido, que hoje já não é tão desconhecido assim.

Em menos de uma semana já fizemos bons amigos e conheci alguns babacas também.

Marcola é um bobão que não tem mais o que fazer. Ele só faz e fala merda e é super irritante. Tento não dar bola pras brincadeirinhas dele, mas é difícil com meu pavio curto.

Fiquei mais ou menos uma hora revisando os papéis e guardei tudo. Peguei o resto de açaí que tinha no freezer e fui sentar no portão.

A casa ficava em frente à praça e eu adorava ficar olhando as crianças brincando.

RD: Terror tá por aí, ruiva?

Eu: Tá não, Ricardo. Já viu na casa dele? Na boca?

RD: Já fui em tudo. O filho da puta sumiu - Ele coçou a cabeça olhando em volta. - Tua irmã sabe onde ele tá não?

Eu: Você acha mesmo que ela tá aqui? - Ele riu sentando do meu lado. - Tudo bem?

RD: Não, mas vai ficar - sorriu falso. - como tá a parada com o Marcola?

Eu: Quem? - Me fiz de Kátia. Ele riu.

RD: Bobona - Ele empurrou minha cabeça e pegou meu açaí. - O cara tá gamadão em tu.

Eu: Eu causo esse efeito nos homens - Ele fez cara de nojo e eu ri. - Ele não faz meu tipo.

RD: Tá falando assim, mas daqui a pouco tá quicando horrores no cara lá - mandei dedo. - Vou agir minha vida. Se Rato passar e me ver aqui vai falar pra caralho.

Eu: Achei que os subs de morros podiam ficar atoa.

RD: No teu mundinho talvez - Dei dedo e ele saiu dando um tapa na minha cabeça.

Meu açaí já tinha acabado e eu entrei pra pegar o da Valentina. Quando voltei vi Terror, Valentina e o bocó do Marcola parados ali.

Sentei onde eu estava antes e eles vieram pro meu lado.

Tina: Esse é o meu açaí? - Assenti comendo. - Poxa, Beatriz! Eu vim na vontade de comer ele.

Eu: Pede pro teu namorado comprar mais - Terror me olhou debochado. - Cara de cu é essa, gato?

Terror: Da dinheiro pra plástica pô - Rolei os olhos. Ele tirou vinte reais da carteira e deu pra ela, que correu toda sorridente pra sorveteria.

Marcola: Já falei pra tu parar de mimar ela. A mina deve ser interesseira e tu nem sabe - Bati nele que cuspiu o cigarro, engasgando com a fumaça. - Tá maluca porra? Num fode.

Eu: Maluco tá você de chamar minha irmã de interesseira. Tô do teu lado, achou que ia soltar essa e ia ficar por isso mesmo?

Terror: Valentina é uma mina firmeza - Falou sorrindo. - Gosto dela porque não fica me pedindo coisa cara e nada desnecessário. Teu problema é não saber aproveitar as parada, as pessoas. Tu julga antes de conhecer e isso é feio, irmão. Tu tem que parar com essas coisas; para de tratar as pessoas mal, xingar em momento que não é pra xingar, desconfiar de tudo e de todos. Isso só faz mal a você - Marcola escutou tudo com uma puta carranca na cara e eu só concordando. Ele ligou a moto e virou pra ele antes de sair. - Beatriz você pode negar agora, mas vocês vão ficar juntos sim. E Marcos, eu espero que tu não deixe essa ruiva escapar.

Ele saiu e foi pra sorveteria. Valentina agarrou ele e os dois estavam super sorridentes.

Meninas ali perto olhavam com raiva e ali consegui concluir que minha irmã tava em boas mãos.

Marcola: Beatriz? - Olhei ele. - Tu me acha chato?

Eu: Demais - Ele riu sem graça. - É que você brinca em momentos que não são pra brincar sabe?! Você é um cara legal, parece ter conteúdo, mas demonstra de um jeito que te deixa feio.

Marcola: Você quer que eu me afaste de você? - O olhei se entender. Marcos tava com uma cara triste e pelo jeito a verdade tinha doído. - Se for isso eu me afasto.

Eu: Ninguém falou pra você se afastar.

Marcola: Sei que não, mas pô, quer que eu faça oque? Cresci assim e não vou mudar do nada, tá ligada? - Ele coçou a cabeça bufando. - Desculpa pelas brincadeiras, os xingamentos... vou tentar não fazer de novo.

Eu: Tá desculpado - Ele sorriu. - Vamos ver quanto tempo até o próximo vacilo.

Marcola: Caralho, não tá botando fé mesmo né? - Falou de cara fechada, levantando. - Vou render papo contigo mais não, ruiva.

Eu: Se dói não, bobo - Ele mandou dedo e saiu com a moto. Terror deixou Valentina e se saiu. - Você passou a tarde toda com ele?

Tina: Ele me pegou na escola e me levou pra praia - Fiz careta. - Que cara é essa?

Eu: Tô feliz por você. Mal chegamos e já tá de namorado, e sei que ele te faz feliz.

Tina: Você acha que eu tô apaixonada? - Assenti. - Ele me faz um bem danado.

Eu: É, eu sei.

Tina: E o Marcos?

Eu: Por que vocês insistem em perguntar dele pra mim? Que saco, já falei que ele não faz meu tipo.

Tina: Todos os meninos que você ficou não faziam o seu tipo e nós duas sabemos onde você parou com cada um - Bati nela que devolveu e correu pra dentro de casa. - É só questão de tempo, maninha.

Eu: Nunca vai rolar.

Tina: Vai pagar com a língua - Ignorei ela e subi pro meu quarto, entrando no banheiro

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