Capítulo 80

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▪︎ GIULIA DANTAS ▪︎

Coloquei as mãos na boca assim que vi ele ser jogado no chão e alguns dos homens irem pra cima dele.

Desviei meus olhos do buraco e encarei meu pai que entrava na sala com o cigarro entre os dedos.

Giulia: Por que tá fazendo isso com ele?

Barão: Ele merece - Falou óbvio. - Por que tá com essa cara? - Riu. - Quase pensei que se importava.

Giulia: E eu me importo. Tira ele dali.

Barão: Se importa nada. Você quer isso tanto quando eu - Virei o rosto. - Anda, bora pra casa.

Giulia: Por que disse aquelas coisas? - Ele bufou irritado e coçou a barba me olhando. - Parece até que não fez nem metade das merdas que ele fez.

Barão ficou me encarando por minutos, até jogar o cigarro no chão e passar a mão no rosto se aproximando de mim em seguida.

Barão: A questão nem é essa, Giulia. - Negou. - Quando tu vem pra essa vida, tem sempre o momento em que tu tem que escolher entre coisas que não tem como escolher... quando tu vira bandido, você vira outra pessoa. Você tem que esquecer seu eu antigo e fazer um novo com a frieza elevada ao quadrado... essa porra não é fácil e tu tem que ter peito pra enfrentar tudo! Não, não sou um santo e sim, fiz mais que a metade das coisas que ele fez. Sou o caralho do dono desse morro. Matar pessoas é só mais uma das coisas que tive que fazer pra manter meu posto... falei muita merda pra ele sim,mas a sua defesa, a Cacau e aos moradores... Não falei nada daquilo pra apaziguar minha mente, mas sim pra deixar ele ciente dos erros que cometeu, mas cara, pode ter certeza que ele merecia ouvir muito mais. L7 pode ter se arrependido, mas a imagem dele atirando na cabeça do Galego na minha frente não vai embora nunca.

Assim que terminou de falar, ele me deu as costas e saiu da sala.

O menino que tinha me colocado aqui apareceu me mandando ir pro carro e assim eu fiz.

Cheguei em casa em minutos e de cara vi minha mãe na cozinha fazendo comida. Cacau tava na sala com Davi assistindo a tal da rata bailarina e eu passei direto ouvindo eles me chamarem.

Entrei no quarto e tranquei a porta. Me sentei ali mesmo e comecei a chorar mesmo que sem motivo.

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Sentei na cadeira ao lado do Uriel e respirei fundo com a mão na barriga.

Uriel: Tá de boa? Quer água?

Giulia: Eu quero que você pare de falar. Quero que saia de cima de mim e que vá perguntar a alguém onde é que tá aquele garoto - Ele me olhou com nojo e eu olhei ele com o nojo triplicado fazendo o semblante dele mudar.

Uriel: Mulher grávida é foda - Falou levantando. - Vou ficar longe de tu pelos próximos meses.

Ele saiu resmungando com um enfermeiro do lado e eu fiquei ali, esperando impacientemente pela porcaria de alguma notícia.

Eram mais ou menos oito da noite e vim no posto assim que soube que tinham trago Lennon pra cá.

Vi ele algumas horas atrás e o estado dele não era nada bom.

Uriel: A dona falou que ele não tá podendo receber visita porque tá na zona sei lá o que do hospital que é proibida pra... o maluca! Vai onde?

Passei pela porta dupla e fui olhando pela janela dos quartos. A maioria estava com mulheres e na última, quando um médico saía da sala pude ver Lennon deitado na cama.

Passei por ele e parei ao lado da cama, colocando as mãos na cintura.

Olhos roxos, perna, braços e costelas quebradas... eu sinceramente não sabia como ele ainda ainda tava vivo.

- Vocês não podem ficar aqui.

Uriel: Então devolve o meu dinheiro, cuzão - Olhei eles. O médico fez careta e depois negou sorrindo e dizendo pra gente ficar a vontade e saiu. - Esse postinho do morro é mó zoado.Vou dar um trato nisso aqui depois. - Ele sentou no sofá e ficou mexendo no celular.

Me virei pro Lennon e fiquei só olhando ele.

Como que eu ia criar uma criança sozinha? Não sozinha, mas sem o pai? O que eu responderia a ele quando perguntasse por ele? Eu ia aguentar?

Giulia: Você é um filho da puta!

Uriel: Caralho! Eu só perguntei se você queria uma cadeira, garota. Precisa de ser grossa desse jeito? - Olhei feio pra ele que levantou as mãos e andou pra fora do quarto. - Grávida tonteia legal mané, puta que pariu.

Me virei pro L7, ignorando a última frase dele.

Giulia: Você não tem o direito de morrer. Não tem mesmo... não é justo eu ter que carregar seu filho na barriga por mais seis meses e no final você não estar lá comigo... com a gente - Neguei andando de um lado pro outro. - Você não é o fodão? Dono do morro? Quero que seja o pai do meu filho e não morra! Luta pela tua vida. Não por mim, mas pelo Renan... Lennon, ele vai precisar de você. - Olhei pro teto segurando o choro e fui pro outro lado da cama me sentando na poltrona.

Peguei na mão dele e apertei forte sentindo ela meio gelada.

As linhas no monitor estavam num ritmo lento, bem pequenas, me deixando nervosa. Orei ali por ele, pedindo a Deus por mais uma chance a ele.

Aquele tubo na garganta me dava uma puta agonia e levantei pra vomitar na lixeira.

Eu não tinha comido nada e aquilo tinha saído feito água. Voltei pro mesmo lugar e peguei sua mão. O médico tinha voltado, fez uns exames e em seguida saiu me deixando sozinha.

O mesmo disse que os órgãos dele estavam muito danificados e a chance que ele tinha de sobreviver era de uma em um milhão. Ou seja, basicamente zero.

Giulia: Qual é? - Balancei ele chorando. - Lennon, não abandona teu filho não. Acorda por favor! - Senti um leve aperto na minha mão e olhei na direção dele.

Lennon apertou minha mão de novo e daquela vez foi um pouco mais forte me fazendo sorrir.

As chances dele voltar a vida não eram basicamente zero.

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