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                          ▪︎ FLÁVIA ▪︎ 

E lá estava eu, mais uma vez sentada na varanda da minha casa cuidando da vida dos outros. 

Não sabia que ficar grávida iria mudar minha rotina de uma forma tão drástica. 

Tudo bem que eu sou uma piranha sem o que fazer, mas aquilo já tava virando rotina e uma rotina muito chata. 

Nove meses. Putos nove meses e eu não sabia como lidar com todos os sentimentos que meu corpo estava tendo a cada três minutos. 

Os pés inchados, coluna doendo, humor mudando de cinco em cinco minutos... tudo isso tava me deixando louca e quem tinha que me aturar era o Tierre, que provavelmente já estava cansado de mim. 

Eram pensamentos como esse que me assombravam toda noite. 

Tierre me deixaria depois da gravidez? Meu humor deixa ele irritado? Ele ainda me ama?  Meu corpo mudou, eu mudei e tudo tinha mudado. 

Peguei a sacola de sacolés da mão do Marcola e sentei sorridente no banco com ele me olhando estranho. 

Flávia: A tua cara de cu tá diferente hoje.- Ele mandou dedo e eu ri abrindo o sacolé de abacate. - Que foi? 

Marcola: Beatriz tá me evitando e eu tô começando a ficar puto.-Eu ri colocando meus pés em cima das pernas dele. - Qual a graça palhaça? Fala pra eu rir também, pô. 

Flávia: Eu não vou falar nada, quem tem que contar as novidades é ela. 

Marcola: Que novidade?.- Bufou. - O mal de vocês é não me contar as coisas... que porra de relacionamento é esse que ela quer comigo? Beatriz é uma filha da puta! 

Flávia: Para de xingar a garota.- Bati na cabeça dele. - Você nem sabe o que é e já tá todo estressadinho e a menina nem tá aqui pra se defender. 

Marcola: Ela me traiu não foi?.- Ri. - Sabia! Não era a toa que aquelas nojenta da rua três ficava mandando indiretinha. 

Flávia: Aquieta o cu aí, jovem.- Puxei ele. Marcos balançou a cabeça e fixou o olhar em algum canto. - Tu ama ela? - Assentiu. Sorri abrindo outro sacolé e fiquei em silêncio olhando a favela. - Tem falado com a Raissa? - Negou. 

Marcola: Tu acha que eu agi certo em deixar ela ir embora?.- Senti uma dor na ponta da barriga e comecei a massagear. Olhei pra ele que tinha uma feição triste e preocupada. 

Flávia: Você é o irmão mais velho dela e tudo que você queria era a felicidade dela. - Respondi. - Era o futuro dela, e sim, você agiu certo em deixar ela ir seguir seu sonho. 

Marcola: Sinto falta dela - Falou depois de minutos em silêncio. Ele respirou fundo e vi seu rosto vermelho com algumas lágrimas caindo. Peguei sua mão e apertei, em seguida colocando na minha barriga. Marcos sorriu fazendo carinho ali e eu encarei a rua de novo. Em um dos becos Laiza saía junto de um dos vapores do L7, os dois vestidos de preto, que se separaram, ela subindo e ele descendo. - É a Laiza? 

Flávia: Ela mesmo.- Me ajeitei na cadeira. - Já é a quinta vez que vejo eles dois juntos e ela vestida daquele jeito com aquela pasta nas mãos... a bichinha é tão burra que não serve nem pra ser x9. 

Marcola: Os cara tá marcando ela bem - Fiz bico e voltei a atenção pros meus sacolés. - Flávia? Achei que tinha banheiro na tua casa. 

Flávia: Iiih! Qual foi? - Ele começou a rir apontando pra baixo, onde tinha uma poça de xixi. Olhei para aquilo assustada e só não me desesperei porque quem tava ali era o Marcos e meu filho tinha que nascer. - Marcos... Marcos, Marcos... é o bebê. 

Marcola: Bebê? Não ia nascer daqui um mês? - Soltei o ar e me segurei no muro. 

Flávia: Esse um mês já passou, Marcos - Falei impaciente. Minha barriga começou a latejar e eu comecei a gritar. - Filho da puta! Me ajuda caralho! 

Marcola: Puta merda! O que eu faço? 

Flávia: Chama o Tierre.- Fiz um com o dedo. - Pega a bolsa do bebê no quarto - Fiz dois. - Me leva pro hospital agora. 

Ele assentiu e entrou com o radinho dentro da minha casa. 

Eu contava de um até três, respirava e inspirava, mas nada daquilo me acalmava. 

Marcola: Bora, Flávia.- Olhei ele que tava com a bolsa no ombro. - Se apoia em mim, bora bora! 

Flávia: Cadê meu marido? 

Marcola: Tá na pista. - Sentei no banco do passageiro. - Ele brota lá em quinze. 

Assenti sem muito papo e fechei meus olhos voltando a contar. 

Aquela dor era pior que as cólicas e eu não tava querendo passar por aquilo de novo nem fodendo. 

Chegamos rápido no hospital e assim que Marcos gritou, pessoas de branco vieram e me colocaram em uma maca. 

Titu: Cadê ela? Cadê minha mulher porra?!.- Gritei ele que veio correndo e apertei sua mão. Ele tava suado e nervoso, mas aquilo só deixou ele mais lindo. - Eu tô aqui, tô aqui. 

Entramos na sala e foi todo aquele procedimento padrão pra um parto. 

O médico e Tierre me mandavam fazer força e tudo que eu queria era dar um chute na cara dos dois. Não tava sendo fácil e minha buceta tava pedindo um puta de um arrego. 

Respirei fundo e aliviada quando escutei um choro ecoar pela sala. Tierre olhava com um puta sorriso e lágrimas no rosto me deixando muito feliz. 

Flávia: Eu te amo! 

Titu: Eu que te amo porra - Sorriu. - Caralho tu me deu um filho! 

Flávia: Achou que ia sair uma cabra da minha buceta, foi? - Os médicos riram e ele também. Fiz careta pela dor e mordi a parte interna da bochecha. 

Titu: Nem com dor tu para com as graça né? - Neguei sorrindo. Uma das enfermeiras deu o bebê pra ele, que pegou. - Moleque tem mó cara de joelho. 

Flávia: Já se olhou no espelho, Tierre? - Ele mandou dedo me fazendo rir. 

- Qual o nome dele pais? - Perguntou a médica sorridente. 

Tierre: Bruno? - Perguntou me olhando. Assenti segurando a mãozinha dele. - Bruno, pô. Pode anotar ai tia. 

                            ▪︎▪︎▪︎ 

Não sei se já completaram 9 meses da gravidez da Flávia 😴 se já completou bom e se não me desculpem!

Mente milionária Onde histórias criam vida. Descubra agora