Capítulo 83

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                     ▪︎ LENNON ▪︎ 

Eu não fazia ideia da última vez que tinha colocado uma colher de comida na boca ou bebido um copo de água ou outra bebida qualquer. 

Minha saída do hospital foi de boas, mas as dores que ainda sinto são insuportáveis. Passo o dia todo tomando remédio e se pá nem durmo de noite por conta disso. 

Tava sendo estresse atrás de estresse nessas últimas semanas e tudo que eu queria naquele momento era só um dia tranquilo e uma boa noite de sono. 

Titu: Mano - Encarei ele, que entrava com Bruno nos braços e uma bolsa azul no ombro. - Tua mãe tá te procurando papo de querer colocar foto tua como desaparecido pelo morro. 

L7: Era só ela ter me ligado - Ele negou rindo e se sentou no sofá. 

Titu: A tia é impaciente pra cacete e tu ficou mais de uma semana sem ir na casa dela - Deu de ombros encarando o filho. - Ela saiu espalhando pelo morro que você tinha desaparecido e os caralho - Riu. - Encontrei com ela na vinda pra cá e já tô dando o recado de agora. 

L7: Vou lá mais tarde - Larguei os papéis em cima da mesa e encarei ele que sorria bobo pro menor. - Flávia sabe que tu tá aqui com ele? 

Titu: Sabe nada - Falou de olhos arregalados me fazendo rir. - Tem ninguém nessa boca e se ela souber já sei quem foi. - Apontou pra mim. Mandei dedo e fiz careta assim que o menino acordou começando a chorar. - Pai tá aqui, cara. Chora não que a feiosa da tua mãe já chega. 

Bruno riu sapeca e agarrou no nariz dele levando a outra mãozinha pra boca. 

Dava pra ver que Tierre tava feliz com a família e eu tava mais feliz ainda por saber que ele tava feliz.

Crescemos juntos e desde menor nós falava sobre construir família e dar o melhor pra ela. 

Meu mano é foda e se depender dele não vai faltar nada pra nenhum dos dois. 

Acerola: Tá, mas quem come ela sou eu - Olhei ele que entrava junto com RD. - Você não tem que opinar em nada. 

RD: Tu que me pediu conselho, malucão. 

Acerola: Pô, tô ligado, pedi mesmo, agora saber o que tu acha sobre isso não - RD revirou os olhos e se aproximou de nós. - L7, tá tendo papo de que Barão quer ajuda com umas parada aí e eu acho que é melhor nós ficar quieto pra não cair em cima de nós depois. 

L7: O que houve? 

Titu: É a parada do velho de Paraisópolis? - RD e Acerola assentiram. - Ah! Flávia comentou sobre isso anteontem, ela disse que o cara tem cinqueta e pouco e não oitenta e que quem tá no comando lá é o neto dele - Olhamos ele. - Eu sei mano. Minha mulher é fofoqueira, mas tá sabendo das coisas mais rápido que o próprio dono do morro - Mandei dedo. 

RD: Nós é tudo da mesma facção, mas nós tá ligado que tu não tem uma boa convivência com o cara - Olhei ele. - Tava pensando em ajudar ele sem te falar, mas achei melhor não. 

Acerola: O filho da puta me apagou e tu ainda quer que o cara ajude? - Riu fraco. - Comédia. 

Titu: Mau de vocês é remoer muito o passado - Nós olhou ele que brincava com o filho. - Barão errou, L7 errou, geral errou... nós é humano, Acerola. Tu foi apagado porque a situação em que tu tava pediu aquilo - Olhou ele. - Tu é bandido ou uma pururuca? 

Acerola: Sou bandido porra, tá maluco? 

RD: Bandeide - Corrigiu. Acerola olhou pra ele puto e nós rimos. - Comando tá pra agilizar algumas coisas e é provável que só nós e Manguinhos ajude ele nessa meta. 

Titu: Ele vai ajudar - Olhei ele. - Vô do teu filho, nem adianta recusar ajuda que mais pra frente quem pode precisar é você - Levantou. - Mais tarde volto aqui pra ajudar com isso, agora tenho que dar banho no Bruno e dar comida. 

Acerola: Quem olha assim até pensa que... 

Titu: Valeu, valeu - Cortou ele. - Pelo menos tô procriando, acha que boneca inflável pode engravidar? 

Acerola: Passado! - Gritou levantando. - Já furei ela e tô comendo as novinhas - Sorriu. - Quem vive de passado é museu, cuzão - Tierre ignorou ele e saiu porta a fora. 

RD: Vou agilizar minha vida que eu ganho mais. 

Acerola: Realmente - Sentou de novo me encarando. - O que tu acha de aumentar meu salário? Uns quinze ou vinte por cento? 

L7: Não trabalho com achismo irmão - Ele sorriu. - Tenho certeza que não vou aumentar nada - Ele fez careta me olhando feio. - Mete o pé daqui que eu vou agilizar as parada. 

Acerola: Me pede pra comprar cachacinha de madruga, L7. Pede! - Amassei um papel qualquer e joguei na direção dele vendo a mesma bater na porta. 

Encostei minhas costas no estofado da cadeira e encarei o morro. Quase fim de semana e o pessoal tava começando a animar pro baile. 

Eu até ficaria, mas nada daquilo tinha muita importância pra mim. Só parada relacionada a Giulia ou ao meu filho me deixavam atento. 

O quarto lá de casa já tá todo decorado e cheio de brinquedo, roupas e tudo que uma criança recém nascida ainda não sabe pra que serve. 

Tava ansioso pra saber como ia ser o rosto dele, o jeito de se portar, o pensamento, tudo. 

Minha mãe sempre dizia que os filhos pagavam pelos pecados dos pais e admito estar preocupado com isso. Em nenhum momento quero ver Renan passando sufoco por conta das merdas que fiz. Eu sou o cuzão, não meu filho. 

Tirei os olhos dos papéis mais uma vez e me assustei quando vi que já tava escuro. 

Me ajeitei ali na cadeira e olhei a porta que foi aberta revelando Celeste com uma cara não muito boa e duas sacolas enormes nos dois braços. 

L7: Tava saindo pra ir ver a senhora agorinha - Ela me olhou com deboche e jogou as duas bolsas em cima da mesa vindo pro meu lado. - A bênção, mãe. 

Celeste: Deus - Me bateu. - Te - Bateu de novo. - Abençoe - Mais um tapa. - Desgraça - O último. Olhei ela passando a mão na nuca e levantei me sentindo um pouco tonto. - Seu merdinha, o que eu falei que era pra fazer? - A olhei tentando lembrar, mas nada. - Esqueceu né, Lennon?

L7: Mãe, por favor. repita?! - Ela veio pra cima de mim e eu fui rodeando a mesa. 

Celeste: Duas semanas - Gritou. - Duas semanas sem dar notícias, seu filho da puta! 

L7: Mãe, a senhora... 

Celeste: Nem a fofoqueira da minha vizinha tinha notícias de você - Apontou pra mim parando. - Fui até naquele lugar cheio dos eletrônico pra imprimir tua foto e espelhar pelo morro, moleque! 

L7: Não é pra tanto né mãe - Ela parou e colocou as mãos na cintura. - Desculpa, eu só tava com muita coisa na cabeça. 

Celeste: E não tinha brecha pra sua mãe? - Respirei fundo olhando pro chão. - Tá tomando os remédios que o médico mandou? E as comidas que fiz, comeu? 

L7: Sim, senhora - Celeste me olhou dos pés a cabeça e se aproximou aos poucos. Ela pegou no meu rosto fazendo com que eu a olhasse. - O que foi? 

Celeste: Eu que te pergunto - Dei de ombros. - Giulia? - Sorri fraco assentindo. - Da pra ver que sente falta dela... tô vendo que tá tentando mudar, não só por ela, mas também pelo filho de vocês, mas acho que ficar se lamentando ou só pensando no que fazer não vai te ajudar em nada. 

L7: Mãe, eu já pedi desculpas, mas ela não aceita... a última vez que nos falamos foi no aniversário de seis meses do Renan e... 

Celeste: Giulia é uma mulher - Me cortou. - E nenhuma mulher esquece fácil os sufocos que passou com um homem... você errou muito e ela não vai esquecer fácil - Negou. - Se quer ela de volta, você tem de agir e não pensar... Giulia merece alguém que a ame, não que a maltrate. 

Ela sorriu e beijou minha cabeça. Sorri pra ela e fiquei prestando atenção nas coisas que ela dizia em relação às bolsas

Mente milionária Where stories live. Discover now