Quero Ser como Você

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Passo após passo, Carlos se aproximava de Elena, mas ela permanecia firme e sem demonstrar medo. No fundo, ela sabia que sua mãe estava em sua retaguarda, com a arma apontada para o inimigo. Se ele tentasse qualquer outra coisa, Lyssa atacaria sem hesitar.

Carlos parecia ser indestrutível, porém, a situação não passava disso, de um "parecer". Apesar de bom caçador, ele não passava de um humano e seu corpo já demonstrava estar no limite. Seu pulmão perfurado se enchia de sangue pouco a pouco, impedindo que o ar permanecesse dentro dele, deixando a respiração cada vez mais difícil, seu corpo começava a ficar trêmulo e sua vista já perdia o foco... Ele estava morrendo.

O caçador estava a apenas dois metros da filha, quando suas pernas desistem de trabalhar e seu corpo desaba sobre seus joelhos. Elena o olha atentamente, decidida a colocar fim àquele sofrimento dando-lhe o tiro de misericórdia. Ainda que lhe dissessem que era um mostro e que merecia a morte, Carlos ainda era o seu pai, o homem que amou e que foi seu referencial por muito tempo, ela queria poupá-lo de mais dores

Pacientemente ela carrega sua arma e a aponta para o coração de seu oponente, que mal conseguia respirar. Matar pela primeira vez era algo difícil e Elena não sabia se conseguiria puxar o gatilho, carregar o sangue de seu pai em suas mãos era um fardo muito pesado e, partilhando deste mesmo pensamento, Lyssa decide assumir o lugar da filha.

― Eu faço isso! – sussurra a mulher, baixando lentamente a arma de sua filha.

Elena prende seus olhos nos de sua mãe por alguns instantes, mas logo procura por Harry, encontrando-o aos cuidados de Lucian, que averiguava o ferimento de seu maxilar. O cherokee parecia bastante exausto, com ferimentos em diversas partes de seu corpo e uma pequena flecha em sua panturrilha, se ele fosse um humano comum certamente já teria sucumbido. Leah, por sua vez, também tinha vestígios de sangue em sua pelagem, já que muitas projéteis também a atingiram, contudo, a preocupação por sua família lhe dava forças para continuar de pé.

A menina sente seus olhos marejarem. Quanta coisa poderia ter sido evitada se a verdade tivesse sido dita logo no início, se ela tivesse tido paciência para escutá-lo, se Carlos não lhe tivesse escondido certas informações. Harry e sua família não precisariam passar por tantas desventuras, sua mãe não teria sofrido tanto e ela própria não teria derramado tantas lágrimas.

― Posso fazê-lo em seu lugar – diz Lucian ao perceber a demora de Lyssa em executar a tarefa, recebendo alguns rosnados receosos de Leah.

― Matar um ser humano é mais difícil do que imaginava – desabafa Lyssa –, mas eu mesma quero fazer.

Lyssa respira profundamente, preparando-se para dar fim àquela história caótica. Não havia amor e nem afetividade entre ela e Carlos, apenas o respeito, visto que o matrimônio era algo arranjado por suas famílias. Contudo, depois de atirar em sua única filha, até mesmo o respeito evaporara, não restando mais nada entre eles.

A caçadora aponta, mira e, em questão de segundos, a bala atravessa o peito do homem, silenciando-o para sempre. Nunca mais aquela boca ofenderia alguém e suas mãos nunca mais machucariam outro lupino. Carlos Noolan estava morto, entretanto, por que Lyssa franzia a testa, confusa? Por acaso não estava feliz pela perseguição finalmente acabar? Sim, ela estava feliz, mas também estava confusa... Sua arma ainda estava inteiramente carregada, porque não fora ela a puxar o gatilho.

― Acabou! – sussurra Elena, deixando uma lágrima rolar de seus olhos.

Ela logo sente os braços quentes de Harry a envolverem e suas mãos amolecerem, deixando a arma ir ao chão. Todos os pesares e possíveis remorsos se esvaem de sua cabeça com aquele aperto quente e aconchegante, Harry não queria que tivesse sido ela a matá-lo e fez a única coisa que sabia fazer desde que a vira pela primeira vez: amá-la.

Leah 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora