twenty one

10.3K 931 160
                                    

Lauren

Depois que o último sinal toca, guardo o saxofone no armário da sala de música e corro para o estacionamento dos alunos. Apesar de uma visita à biblioteca pública parecer algo bem inocente, sei que não devia fazer o que estou prestes a fazer. E como também vou faltar ao treino de corrida, é melhor sair do terreno da escola bem rápido.

- Lauren! Espere!

Camila vem correndo pelo estacionamento, acenando para que eu pare. Eu não a vejo desde a hora do almoço, quando deixei que guardasse o skate no banco de trás do carro.

- Preciso pegar o skate - diz ela. - Normani e eu vamos ao half-pipe do Chris McKellar.

- Parece algo bom para se fazer - respondo, tentando acalmar os nervos.

- Está tudo bem com você? - pergunta ela.

- Está. - Abro a porta do motorista e entro, evitando olhar nos olhos dela. Detesto não ser sincera com Camila, mas não posso dizer a ela o que vou fazer agora. Faz três noites que meu futuro marido não volta para casa. Três noites! E agora está usando o meu dinheiro para comprar um aparelho eletrônico qualquer. E, enquanto isso, eu nem tenho dinheiro para fazer terapia, coisa que é bem provável eu precise no futuro para falar dele!

Preciso me livrar desse fulano.

- Para onde você está indo? - pergunta Camila. Ela inclina o banco do passageiro para a frente e enfia o corpo no banco de trás.

- Para lugar nenhum - respondo. Depois, como a frase pareceu cheia de culpa, completo: - Só vou à biblioteca pública fazer uma pesquisa.

Camila olha ao redor de maneira furtiva e, então, sussurra:

- Depois do jantar, nós precisamos entrar naquele site de novo.

- Tudo bem - respondo.

- Eu estava pensando que a gente devia usar uma palavra-código para ele, para as pessoas não saberem do que a gente está falando.

- Que tal "Facebook"? - respondo, olhando para o motor. - Ninguém nunca ouviu falar disso.

...

Quando me dirijo para a entrada da biblioteca, cruzo com o Luis Felipe. Nós saímos no começo do primeiro ano. Tínhamos sido conselheiros em treinamento no curso diurno de verão da ACM naquele ano. Quando as aulas começaram, já estávamos juntos. Mas não tínhamos muita coisa em comum fora do curso, então, quando ele terminou comigo, não foi tão difícil assim. Por isso, nunca é estranho quando a gente se encontra.

- Como estão as coisas? - pergunta Luis. Ele carrega uma pilha enorme de livros de capa dura e eu abro a porta e seguro para ele entrar. Ele sorri, mostrando a covinha sexy da bochecha esquerda. Luis sabe que é gostoso e sabe usar essa característica.

- A aula termina e você vem direto para a biblioteca? - pergunta ele, enquanto caminha ao meu lado.

- Bom, olhe só para você com essa pilha enorme de livros.

- Estou devolvendo para a minha irmã menor. - Luis sorri e completa: - Sou desses.

De modo geral, não iria me incomodar de flertar um pouco com ele, mas tenho uma missão a cumprir e não posso permitir que ninguém fique no meu caminho, nem mesmo se esse alguém tiver covinhas.

- Tenho muita pesquisa a fazer - comento. Então, para ter certeza de que Luis não me acompanhe quando eu for procurar as listas telefônicas, completo: - Acho que vou me encontrar com Zayn mais tarde.

- Zayn Malik? Adorei que ele raspou a cabeça. - Luis aponta com o queixo na direção do balcão de devoluções e então, diz: - Não estude demais.

O ar-condicionado está a toda na biblioteca, fazendo com que eu fique tremendo de frio. Ou talvez o tremor venha do fato de eu saber que estou prestes a achar o telefone do meu futuro marido. Vou direto para o balcão de referência. O sujeito que trabalha lá está mordendo um lápis e olhando para a tela do computador.

- Com licença? - pergunto. - A bibliotecária da minha escola disse que vocês talvez tivessem listas telefônicas de outros estados.

Ele digita algo no teclado, levanta da cadeira e coloca o lápis atrás da orelha. Eu o sigo, dobrando em um corredor e descendo uma escada, até finalmente chegar a uma estante comprida, lotada de listas telefônicas.

O bibliotecário cruza os braços.

- Tem algum estado em que você esteja interessada?

- Califórnia - respondo. - Chico, Califórnia.

- Isso fica no condado de Butte, acho. - Ele tira o lápis de trás da orelha, analisa as marcas de mordida e, em seguida, pega uma lista telefônica de tamanho médio. - Fale comigo se precisar de mais alguma coisa.

Quando desaparece mais uma vez na escada, eu me sento de pernas cruzadas no chão e me apresso em folhear a letra S. Há centenas de pessoas com o sobrenome Simpson em Chico, Califórnia. Concentro o olhar nas letrinhas miúdas. Simpson, Adam. Simpson, Anthony. Simpson, Anthony C. Simpson, Arthur. Não termina nunca! Mas se o nome do meu marido é Bradley Simpson Júnior, então o pai dele tem que se chamar Bradley também. Viro a página e, com uma pontada de decepção, vejo que não tem ninguém chamado Bradley Simpson.

Se não tem nenhum Bradley, talvez o pai dele esteja listado pela primeira inicial. Dou uma olhada no início dos Simpson, onde estão listadas só as letras, mas tem uma tonelada de Bs ali. Aperto a lista contra o peito e corro para o andar de cima para procurar uma máquina de fotocópia.

Dou um dólar para o bibliotecário e ele me entrega dez moedas de dez centavos. Coloco a lista telefônica aberta em cima do vidro liso da máquina de fotocópia, fecho a tampa e coloco uma moeda na abertura. Ela cai com um plink baixinho e eu aperto o botão verde de iniciar.

The Future Of UsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora