twenty two

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Camila

Estou sentada no alto do half-pipe no quintal do Chris. Minhas pernas estão penduradas na borda, enquanto Normani sobe de um lado e desce do outro. Chris se formou no ano passado, mas os pais dele ainda deixam a gente usar a rampa. Como sempre, quase todas as outras pessoas que estão no half-pipe são do último ano. Mas, para eles, tudo bem a gente estar aqui, porque sempre trazemos pizza.

Sentado do meu lado, um garoto que não anda de skate está fazendo um monte de perguntas.

- Por que isso se chama half-pipe? Não tem nada que ver com "meio cano".

Ele está aqui com a namorada, que acabou de entrar na pista do outro lado.

- Está falando sério? Você não sabe? - pergunto.

- Para mim, parece uma rampa em forma de U, e não a metade de um cano - diz ele.

As pálpebras dele estão semicerradas e ele balança a cabeça lentamente para si mesmo. Fico me perguntando quanto ele fumou hoje. Por alguma razão, eu me sinto na obrigação de responder a ele.

- Se você pegar outro half-pipe, virar de cabeça para baixo e colocar em cima deste, ficaria um círculo fechado, igual a um cano - digo. - Na verdade, acho que ficaria mais para oval.

- Sabe como devia se chamar, então? - O rosto dele fica completamente sério. - Half-oval.

Fico com vontade de escorregar pela rampa, pegar minha mochila e adicionar esse cara à minha lista de "Eu queria saber o que acontece com...", que agora já tem trinta nomes. Começa com Normani, depois vem meu irmão, meus pais e vai indo até um garoto do meu ano, Frank Wheeler, que uma vez nos disse que, se não for milionário quando chegar aos trinta anos, vai se jogar na frente de um ônibus.

Normani sobe, girando as rodas com força e passa ao meu lado, depois equilibra o meio do skate na borda e desce mais uma vez. Do outro lado da rampa, a namorada do cara chapado ajusta o capacete. Quando ela apareceu pela primeira vez, no mês passado, ninguém queria dar uma chance a ela. Mas, no primeiro drop, ela fez a maior parte de nós passar vergonha.

- Você devia pedir para a sua namorada ensinar você a andar de skate - digo.

- De jeito nenhum - responde ele. - Precisa de muito equilíbrio.

Normani passa bem perto e prende o suporte da roda na beirada. Ela estende o braço e eu a puxo para a plataforma.

- Está pronta? - pergunta ela. - Preciso começar a trabalhar e me preparar para uma festa.

Daqui a quinze anos no futuro, imagino que Normani estará cuidando da GoodTimez Pizza. Não seria um trabalho ruim. Pizza de graça para a vida toda parece uma coisa bem boa para mim. Aliás, Hailee e eu provavelmente levamos nossos filhos lá no aniversário deles.

Desço a rampa, dou meio giro e termino com um deslizamento de joelho.

- Que horas é a festa de aniversário? - pergunto, quando Normani e eu saímos pelo portão lateral.

- Às cinco e meia - responde ela. - Mas eu disse a Dinah que ia me encontrar com ela alguns minutos antes de começar. Ela tem um intervalo na aula da faculdade e quer conversar.

Piso em cima do skate e faço a ponta encostar na calçada.

- Sobre o quê?

- Vai saber - responde. - Ela deve estar puta da vida comigo por causa de alguma coisa. Eu nunca acerto com aquela mulher.

- Você não precisa se encontrar com ela - digo. - Não se for só para ela ficar reclamando de você.

Fazemos uma pausa no cruzamento e Normani se vira para mim com um sorriso.

- Mas ela fica uma graça quando está brava...

Atravessamos a rua e Normani faz um gesto com a cabeça na direção do cemitério.

- Está a fim de fazer um desvio rápido?

Apoiamos os skates no portão do cemitério e caminhamos pela trilha de cascalho cheia de curvas. É estranho pensar que, a apenas algumas fileiras de distância, perto do local do descanso final de Claire e Millicent, Lauren e eu começamos a nos afastar. Estava frio naquela noite, por isso ela se aninhou em mim. Não que ela nunca tivesse feito isso, mas naquela vez pareceu diferente. Ela perguntou sobre o baile formal de inverno que estava por vir e se eu estava pensando em ir. Eu não estava, mas disse que, se ninguém a convidasse, talvez devêssemos ir juntos. Disse isso com um meio sorriso para que ela pudesse tomar como piada, se quisesse. Ela ficou quieta, enquanto caminhávamos pela sombra das lápides e então, finalmente, respondeu:

- Talvez.

Gostei de "talvez". Imaginei-a usando o vestido azul cintilante que ela mostrou para mim, depois de uma viagem até Pittsburgh com a mãe dela. Fiquei me imaginando dançando uma música lenta com ela. Com esse pensamento em mente, finalmente disse que gostava dela. Meu coração batia forte e fiz o que queria fazer havia muito tempo. Eu me inclinei para dar um beijo nela.

Mas Lauren recuou.

- O que você está fazendo?

- Achei que, talvez...

Ela balançou a cabeça.

- Ai, não.

- Achei que nós...

- Não estávamos - respondeu ela. - Eu não posso. Você é... Camila.

E foi aí que tudo mudou.

Faz seis meses desde aquela noite e as coisas, com toda a certeza, estão mudando mais uma vez. Aliás, estão mudando de uma maneira que eu jamais...

Ai, não.

Depois da escola, quando peguei meu skate do carro de Lauren, alguma coisa estava rolando. Talvez fosse a maneira como ela evitou me olhar nos olhos. Ou o jeito como disse que ia até a biblioteca procurar uma coisa. Lauren sempre é mais específica do que isso. E se ela está escondendo algo, só que pode ser uma coisa. Está relacionado ao futuro dela.

Mas se Lauren está agindo toda sorrateira para mudar o futuro dela, pode sem querer bagunçar o meu. E eu adoro o meu futuro! Uma pequena onda criada hoje pode causar um tufão daqui a quinze anos.

Olho para Normani. Os olhos dela estão na lápide:

ANDREA HAMILTON
Esposa querida de Derrick
Mãe querida de Normani
25 de novembro de 1955 - 15 de agosto de 1982

- Preciso ir andando - digo a ela. - Esqueci, mas preciso conferir uma coisa. Posso tentar dar uma passada na GoodTimez mais tarde.

- Tudo bem - diz Normani, assentindo com a cabeça para mim. - Vou ficar aqui mais alguns minutos.

Corro de volta pelo caminho de cascalho. Quando chego no estacionamento, jogo meu skate no chão e pulo em cima. Na calçada, abaixo bem para fazer uma curva fechada e então dou bastante impulso para descer a rua, mapeando na cabeça o caminho mais rápido até a biblioteca.

The Future Of UsWhere stories live. Discover now