sixty

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Dinah se aproxima de mim nos isopores.

— Está tudo bem com você?

— Só quero ir embora — respondo. — Já passou uma hora?

Dinah enfia a mão no isopor e tira um pouco de gelo.

— Sinto muito. Foi idiotice minha fazer você vir aqui — diz ela. — Queria que as coisas fossem diferentes.

— Não são — digo. Mas, na verdade, nunca mais vão ser a mesma coisa.

Dinah joga um cubo de gelo no lago.

Dou uma olhada na direção da nossa fogueira. Camila e Hailee não estão mais lá. Normani dá risada de alguns caras que estão cuspindo cerveja no fogo.

— Foi uma ideia idiota — observa Dinah. — Mas eu tinha esperança de que você e Camila talvez...

— Camila agora está com Hailee — respondo com firmeza. — Você não viu as duas? Se eu tive uma chance com ela, deixei passar. Não, não deixei passar. Joguei fora.

Dinah fica olhando fixo para mim, mas não tem nada que possa dizer.

— Por favor — digo —, só quero ir para casa.

— Quem vai para casa? — Um cara mais velho diz ao se aproximar e abraça cada uma de nós com um braço. — Ninguém vai para casa tão cedo. Acabou de começar.

Dinah olha para ele e para mim.

— Você devia ficar — falo para ela. — Por mim, tudo bem voltar sozinha.

— De jeito nenhum — diz Dinah e pega na minha mão com os dedos frios. — Nós vamos embora, talvez, vamos para a casa de Lauren assistir a um filme.

— Por quê? — pergunta ele. — Não estão se divertindo?

— Só não estou me sentindo... — Vejo quando eles trocam olhares. Ela não quer ir embora, mas é uma amiga leal demais para me dizer. — Estou cansada demais para um filme. Quando chegar em casa, vou direto para a cama.

Dinah examina o meu rosto.

— Posso ir embora agora mesmo, se você quiser.

— Você devia ficar — digo. — Vou ficar mal se você for embora. Vou avisar a Normani.

— Ta bom. Eu preciso pegar minhas coisas no seu carro. — diz Dinah

O garoto sorri para Dinah.

— Posso deixar você em casa. — oferece.

E se, a caminho de casa, ele e Dinah forem para uma estradinha deserta no meio do nada? E se forem para a traseira e se deitarem para olhar as estrelas?

Tchã-ram! Lindsay é concebida.

— Está tudo bem com você? — pergunta Dinah. — Você fez uma expressão estranha por um segundo.

— Não se mexam. Estou falando sério. Não vão a lugar nenhum.

Eu me viro e disparo pela praia.

...

Paro de correr quando me aproximo do grupo de Hailee.

Atrás do tronco em que Camila e Hailee estão sentadas, os pinheiros lançam sombras enormes. Caminho pela escuridão e dou um tapinha no ombro de Camila. Ela vira o corpo para trás. Quando percebe que sou eu, sorri.

Hailee também se vira.

— Tudo bem, Lauren?

— Oi, Hailee — digo. — Desculpe incomodar, mas eu...

Agora todas as pessoas em volta da fogueira estão olhando para mim.

Camila vai para o lado para abrir espaço no tronco.

— Quer sentar?

— Não posso — respondo. — Eu estava aqui imaginando... será que você se importa... pode me emprestar o seu moletom?

Quando ela abre o zíper, chego mais perto e sussurro:

— E a sua carteira também. Trago de volta em um segundo, juro.

Camila deve ter percebido que todo mundo estava olhando, porque ela coloca o moletom no tronco antes de colocar a carteira dentro dele, e entrega as duas coisas para mim.

— Volto logo — falo.

Desapareço nas sombras. Coloco o moletom de Camila em cima do braço e abro a carteira dela devagar. Tomara que ela não tenha jogado fora, penso. Enfio o dedo na dobra atrás da carteirinha de estudante dela e... lá está!

Pego a camisinha, com a embalagem amassada e gasta e enfio no bolso do moletom de Camila. Então me esgueiro por trás dela de novo. Aperto a carteira contra a lateral do corpo dela e ela pega, disfarçadamente.

...

No caminho de volta, passo por Normani e aviso que vou embora. Em seguida vou até Dinah.

— Eu ainda estou aqui — diz Dinah quando volto. — Mas ele saiu para cuspir refrigerante na fogueira. Homens!

Dinah tenta parecer aborrecida.

— Então, por que você queria que eu esperasse? — pergunta.

Olho para o moletom de Camila nas minhas mãos. Eu me sinto idiota por causa do que estou prestes a dizer, mas não sei que alternativa tenho.

— Está ficando frio — digo a ela e ergo o moletom entre nós.

Dinah fica olhando fixo para o moletom, depois para mim.

— Eu só achei... que você vai precisar disso — comento.

Ela ergue uma sobrancelha, como se eu tivesse ficado louca. Como não me mexo, ela pega o moletom e enfia os braços nas mangas. Se Dinah vai transar com esse univeritário hoje à noite, ela precisa, pelo menos, ter a opção de usar proteção. Claro que é possível ela não encontrar a camisinha a tempo. Ou ela pode achar a camisinha e resolver não usar porque está velha demais. Mas se não posso avisá-la sobre a gravidez, isso é o melhor que posso fazer.

— Este moletom é da Camila? — pergunta. E leva o punho ao nariz. — Você já reparou que Camila tem o cheiro de uma floresta de pinheiros?

Minha garganta se aperta. Dou um abraço nela e digo:

— É um moletom ótimo. Você devia colocar as mãos nos bolsos. Eles são muito quentes.

Então me despeço e saio pela trilha entre as árvores.

The Future Of UsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora