forty three

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Quinta-feira

Camila

Regulo a temperatura para a mais quente e a água esguicha para dentro da máquina de lavar soltando vapor. Depois de fazer um círculo azul de sabão em pó por cima da roupa suja, fecho a tampa. Já faz um tempo que não me sinto inspirado a limpar o meu quarto, mas ontem à noite recolhi todas as minhas roupas em uma pilha enorme e enfiei dois anos de edições da revista Thrasher no armário. Não dá para saber quando Hailee vai entrar no meu quarto pela primeira vez, por isso quero estar preparada.

Passo pela mesa onde meus pais estão tomando o café da manhã. Meu pai mastiga uma torrada com manteiga, enquanto minha mãe bebe o café.

Pego a caixa de cereal Lucky Charms na despensa e me demoro um pouco ali, tentando imaginar o que vou dizer a eles. Meus pais chegaram em casa ontem à noite e todos nós estávamos cansados demais para conversar sobre o que tinha acontecido no escritório do meu pai.

— Você está lavando roupa antes da aula? — pergunta minha mãe. — Que coisa rara.

— Limpei o meu quarto — digo da despensa.

— Uma coisa ainda mais rara — comenta meu pai.

Antes, eles ficavam me enchendo para arrumar o quarto, mas desistiram. Se quiserem considerar isso como uma maneira de eu me desculpar por ontem, por mim, tudo bem.

— Vou passar o aspirador na casa neste fim de semana. Agora que dá para ver o piso do seu quarto, posso limpar lá também.

Eu me dirijo para a mesa.

— Pode deixar que cuido disso — respondo, colocando o cereal em uma tigela. — Vai ser bom para dar um tempo na lição de casa. Estão mandando um monte de coisa para antes das provas finais.

— Reparamos que você passou a noite toda no seu quarto — diz minha mãe. — É bom ver que seus estudos não foram esquecidos.

Eu me atraso para a escola uma vez, apenas alguns minutos e agora eles estão preocupados com a minha lição de casa. Se soubessem que eu me torno designer gráfica de sucesso com uma casa enorme no lago, iam parar de se estressar tanto com um pequeno atraso.

— Não tirei nota baixa o ano todo — digo e despejo leite em cima do cereal.

Minha mãe se inclina por cima da mesa e toca na minha mão.

— Eu não quis dizer isso.

— Nós sabemos que temos sorte — completa meu pai. — Levamos em conta que, tirando esta ocasião, você tem sido muito responsável para chegar à escola na hora.

— Depois que você foi embora, conversamos com alguns colegas — diz minha mãe. — E alguns deles disseram que os filhos chegam mais vezes atrasados do que na hora.

Uma das razões por que meus pais parecem sufocantes é que eles precisam conversar a respeito de tudo. Deve ter sido por isso que David se mudou para o outro lado do país. Ele não se sentia à vontade com o fato de eles saberem de todas as partes da vida dele.

Com toda certeza, não posso contar para a minha mãe e para o meu pai que Lauren me beijou. Não sei como eles reagiriam e iriam se acabar de tanto nervosismo toda vez que eu ficasse sozinha em casa. Normani iria escutar, mas não é justo arrastá-la para dentro disso, considerando que ela se encontra com Lauren todos os dias.

Minha mãe coloca mais um cubo de açúcar no café.

— Queremos que você saiba que não vemos problema em você pegar carona com Lauren para ir para a escola.

Levo uma colher bem cheia de Lucky Charms à boca.

— Nós adoramos Lauren — diz meu pai. — Mas chegar na hora na escola é algo que não podemos negociar.

— Certo — digo, e um fio de leite escorre dos meus lábios. Enxugo o queixo com um guardanapo.

Do lado de fora, a porta do carro de Lauren bate para fechar. Dou uma olhada no relógio. Se ela está saindo assim tão cedo, significa que quer me evitar de propósito.

É oficial: agora nós não estamos mais nos falando. 

The Future Of UsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora