forty four

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Lauren

Ajusto o espelho retrovisor quando chego ao fim do quarteirão. Se Camila acha que vou pedir desculpa por ter dado um beijo nela, pode ficar esperando. Talvez eu tenha ferrado com tudo, mas o jeito como ela foi embora e deu as costas para mim me magoou. Fiquei no meu quarto o resto da noite, só desci para jantar. Tentei tocar um pouco de sax, porque isso costuma me relaxar, mas não consegui segurar nenhuma nota.

Viro à esquerda no cruzamento. Preciso ligar para o meu pai hoje à noite e pedir desculpa. Foi mesmo generoso da parte dele comprar um computador para mim. Só não entendo por que ele não atendeu quando voltei a ligar para ele ontem à noite. Tentei duas vezes, e em ambas caiu na secretária eletrônica.

— Aqui é a casa dos Jaureguis — disse a voz de Cynthia. — Desculpe, mas não podemos atender a sua ligação. Por favor, deixe um recado depois do sinal.

Nós é que éramos a casa dos Jaureguis antes.

Não consegui deixar um recado.

...

Entro no drive-thru do Sunshine Donuts.

— Qual é o seu pedido? — Ouço uma voz de mulher dizer pelo alto-falante.

Eu me inclino para fora da janela.

— Uma rosquinha de canela. Só isso.

Há três carros à minha frente para pegar o pedido. Para matar o tempo, examino o cartaz do Sunshine Donuts. O O é em amarelo forte com longos raios de sol, como se fossem arco-íris. Uma mulher que parece muito feliz segura uma bandeja de rosquinhas com cobertura e exclama: "Tenha um dia iluminado!"

O meu dia pareceu péssimo no momento em que acordei e tudo por causa do que Camila disse. Eu não estava sacaneando ela. Camila é minha melhor amiga. Eu não seria capaz de manipulá-la daquela maneira.

Quando chego à janela para pegar meu pedido, minha vontade de comer rosquinha se foi.

A mulher tem cabelo loiro volumoso preso embaixo de uma redinha. Ela estende um saco de papel branco.

— Canela?

— Acho que mudei de ideia. Não estou mais com fome.

— Não quer mais? — pergunta, balançando o saquinho.

— Desculpe — respondo.

Saio do estacionamento e volto para a rua.

...

Faltam duas semanas para as provas finais, e os professores estão começando a fazer pressão. Na prova final de história, vamos ter que compor três dissertações bem longas. Na de inglês, precisamos estar preparados para analisar qualquer um dos livros que lemos neste ano. Na aula de música, a nota geral vai depender muito do nosso desempenho no desfile do fim de semana do Memorial Day.

Não estou no clima de estudar, mas também não posso ferrar com nada. Preciso de uma boa média geral para poder fazer aquele curso de biologia na faculdade, que, um dia, vai me ajudar a ser bióloga marinha. Se o meu futuro é ruim, não posso colocar toda a culpa em Kevin Storm. A responsabilidade também é minha.

Mesmo assim, tudo isso está me deixando com os nervos à flor da pele. Os relógios que fazem seu tique-taque em todas as salas de aula, os corredores que fedem a perfume frutado, a risadinha de Anna Bloom na biblioteca. Eu nunca tinha prestado muita atenção em Anna, mas, depois de vê-la dando em cima de Camila ontem, eu a encontro em todo lugar. E todo mundo por quem passo só fala de amanhã, o dia de matar aula dos alunos do último ano e da fogueira de Rick.

Entre o terceiro e o quarto tempo, avisto Camila à minha frente. Disparo para o banheiro e fico lá até o sinal tocar.

....

— Eu adoro batata frita — diz Dinah, enquanto empurramos nossas bandejas pela fila do almoço. — Elas me enchem de energia.

Olho para a alface murcha do bufê de salada e para as poças de gordura por cima da pizza. Se eu não estivesse com tanta pressa para sair de casa antes de Camila, não teria esquecido meu almoço no balcão da cozinha.

— Quando formos nos inscrever na aula na faculdade — diz Dinah —, lembre-se de me pedir para levar você ao café dos alunos. Eles têm as melhores batatas fritas em rolinho.

Ao estender a mão para pegar um iogurte de pêssego, penso sobre o que vi a respeito do futuro de Dinah. Não deu para saber muito sobre a carreira dela, só que mora na Filadélfia e trabalha em uma escola de linguagem de sinais. Ela não se torna médica nem cientista, como sempre fala que vai ser, mas, ao contrário de mim, parece feliz.

Depois de pagar pela comida, vamos até a bomba de ketchup.

— Você pode pegar alguns guardanapos para mim? — pede Dinah. — Pegue alguns para Normani também. Aquela garota nunca limpa as mãos e isso é um nojo.

Com toda certeza está rolando algo entre ela e Normani. Antes, quando elas estavam juntas, Normani ocupava todos os pensamentos dela e ela a paparicava o tempo todo, levando biscoitos, balinhas e pacotes de chiclete de menta.

Dinah faz um sinal com a cabeça na direção da porta.

— Está pronta?

Eu não me mexo.

— Será que podemos comer aqui dentro hoje?

Ela olha para a porta, depois de novo para mim.

— Mas, e Normani e Camila?

Não sei como responder.

— O que está acontecendo? — pergunta ela.

— Estou precisando ficar um pouco longe de Camila neste momento.

Dinah vai até a mesa livre mais próxima.

— Isso tem alguma coisa a ver com o fato de a Vagabunda Mills tê-la tirado da aula hoje?

Meu estômago se aperta.

— Do que você está falando?

— Não sei exatamente o que aconteceu — diz Dinah —, mas, quando fui deixar uma folha de chamada na secretaria, Sua Majestade Real estava lá. Ouvi quando ela pediu ao conselheiro estudantil para liberar Camila pelo resto da tarde. Disse que era para uma coisa do Conselho Estudantil.

Fico olhando fixo para o meu iogurte cor de laranja claro. Seja lá que "coisa" Hailee tivesse em mente, Camila está bem preparada com suas calcinhas novas.

The Future Of UsWhere stories live. Discover now