Capítulo 2

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Começos são difíceis. Muitas pessoas perdem boas histórias por ter desistido em seu começo. É complicado focar a atenção, mas para um autor é ainda pior. Você não pode entregar muita coisa, mas ao mesmo tempo você precisa ser atraente o suficiente para que o frenesi comece, para que os leitores voltem. Como eu disse, é difícil. Em uma visão por cima, eu posso dizer a vocês que Harry Styles era jovem, 25 anos, formado em medicina. Bonito, forte, cabelo claro e olhos verdes. Bom, é uma imagem promissora, mas a felicidade se vê tão distante... Não via os pais há anos, não tinha um relacionamento sério, e a única pessoa no mundo que tinha seu amor falecera há um mês: Seu cachorro, Max. Foi à solidão da ausência do cachorro que o levou a sair de Londres, a ir pra França. Foi por ser um turista que ele terminou naquela manhã, sozinho, sentado em uma mesa do Gare de Lyon, com um mapa aberto a sua frente, e um lápis na mão.

Melanie: Com licença. – Disse, a voz delicada. Ele ergueu a cabeça. Havia um anjo, parado no meio do trem, por algum engano violento da vida olhando-o. Seus olhos pareciam sondá-lo – Posso?

Harry olhou em volta, sugestivamente. Haviam várias mesas vazias em volta, mas ela queria se sentar com ele. Melanie esperou, em silencio. Seria engraçado se ele recusasse. Ela usava uma blusa branca, de botões, uma saia de cintura alta, de linho cinza, da mesma cor que as luvas, e tinha os cabelos soltos. Ele a encarou de novo e ela ergueu uma sobrancelha.

Harry: É claro. Por favor. – Ele apontou com o lápis para a cadeira a sua frente. Melanie acenou com a cabeça se sentou.

Ela esperou que ele falasse, mas ele não disse nada. Estava absorto no mapa. Ela olhou pela janela. Os campos verdes voavam pela janela, levando-a para longe de Paris. Olhou para o civil novamente. Os homens em geral sempre puxavam assunto com ela, mas esse não. Não tinha os traços de Niall. Nada. Ela nem sabia porque escolhera o coitado. Estava quase desistindo. Doppelgangers pagavam pela aparência, mas nem isso o pobre coitado tinha. Ela tirou um pequeno cigarro da bolsa, junto com um isqueiro, então o dito cujo se pronunciou.

Harry: Isso faz mal, sabia? – Perguntou, apontando o cigarro com o lápis, e ela ergueu a sobrancelha, retirando o cigarro da boca e soprando a fumaça.

Melanie: Vamos morrer, fumando ou não, qual seria a diferença? – Perguntou, dando corda.

Harry: Alguns de nós podem morrer velhos, depois de termos vivido o suficiente, de morte natural. Outros de nós podem morrer novos, os rostos ainda impecáveis, mas com os pulmões estragados, por exemplo. – Disse, e ela tragou do cigarro.

Melanie: Do mesmo modo como alguns de nós podemos morrer baleados. Num acidente de carro. Na queda de um avião. No descarrilamento de um trem. – Insinuou, e ele riu.

Harry: Pensando por esse ângulo... – Ele deu de ombros, voltando o rosto pro mapa.

Melanie: Problemas com Paris? – Perguntou, e ele viu de canto de olho que ela apagou o cigarro.

Harry: A verdade é que fazem muita propaganda da França, mas não vejo lugar algum que me interesse ir. – Disse, dando de ombros.

Melanie: Um turista. – Observou, e ele devia mesmo ter visto o brilho doentio da diversão nascendo nos olhos dela.

Harry: Sou de Londres. – Disse, tranqüilo.

Melanie: Que tal Veneza? – Ela apontou com um dedo delicado no mapa um lado que ele ignorara – Dizem as más línguas que o próprio James Campbell tem residência fixa lá.

Harry: Quem? – Perguntou, franzindo o cenho. Ele a encarou. Dessa vez ela tinha um sorriso estonteante no rosto. Parecia estar se divertindo perversamente com algo... Mas ele não deteve sua atenção. O sorriso dela era lindo. Mais enigmático que o da própria Mona Lisa, e ainda assim com uma alegria jovem que encantava.

Melanie: O que você sabe sobre James Campbell? – Perguntou, encarando-o, e ele se puxou de volta a realidade.

Harry: Nada. – Admitiu – Eu deveria saber?

Melanie: Com o tempo você descobre. – Disse, contendo o sorriso – Eu estou indo a Veneza. Se quer uma sugestão de pra onde ir...

Harry: Como é seu nome? – Perguntou, observando-a.

Melanie: Melanie. Me chamo Melanie. – Respondeu.

Harry: O que me levaria a Veneza, Melanie? – Perguntou, debochado.

Melanie: Talvez meu convite, Harry. – Rebateu, no mesmo instante, sem deixar de encará-lo. Ela viu a confusão nos olhos dele e sorriu, a mão delicada puxando o passaporte dele, largado no canto da mesa.

Harry: Certo... – Ele não sabia porque estava fazendo aquilo – Veneza parece ser um ótimo ponto turístico.

Melanie: Então é quase certo que nós encontraremos lá. – Disse, sorrindo de canto, encarando-o. Os dois se encararam por minutos, em silencio, como em uma queda de braço, então a voz do maquinista avisou que dentro de minutos estariam na estação de Veneza – Parece que chegamos. Foi bom conhecê-lo, Harry. – Disse, se levantando.

Harry: Igualmente. – Ela deu as costas e se afastou, os cabelos dançando as suas costas. Só quando ela sumiu de vista que ele desviou os olhos, fechando o mapa, dobrando-o.

Não precisava mais do mapa. Já tinha um ponto final.
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P.S.: Ignorem o fato de eu ter conseguido levar Veneza para a França, sendo que ela fica na Itália. Foi um lapso, I'm sorry.

Harry: Certo. – Disse, ao descer do trem. A estação de Veneza estava cheia de policiais. Ele não deu atenção. – Eu vou pra onde mesmo? – Perguntou, incrédulo, olhando as pessoas passando.

Estupidez total. Ok, a mulher era realmente linda, mas por isso ele pulou de um trem em uma estação lotada de policiais, em uma cidade que não conhecia. Ele resolveu sair da estação. Encontraria um hotel, e colocaria as coisas em ordem. Parado ali é que não podia ficar. Saiu da estação de trem, então gemeu, se lembrando que em Veneza, taxis eram barcos. Mais essa agora. Ele foi até um ponto de taxi, esperando algum voltar, olhando a água. Será que a policia prenderia alguém por nadar ali? Ele riu com o pensamento idiota, apanhando uma pedrinha e jogando na água. A pedra pulou quatro vezes e afundou. Usava uma camisa de manga cumprida, branca, e jeans. Após algum tempo começou a ficar entediado. Ergueu a cabeça para a placa de taxi. Tinha um numero de telefone ali. Ele largou a mochila no chão, apanhando o celular no bolso. A cobertura da França é uma merda, pensou enquanto discava.

Melanie: Harry. – Chamou, e ele ergueu o rosto. Havia uma lancha, enorme, parada na ponte em frente a ele. Melanie estava encostada em um ferro, olhando-o. – Não vai encontrar um taxi aqui tão cedo. – Avisou.

Harry: Acabei de perceber. – Disse, obvio, e ela riu.

Melanie: Você vem? – Perguntou, erguendo a sobrancelha.

Harry: É o segundo convite em um dia. Estou lisonjeado. – Disse, encostado no poste do ponto de taxi.

Melanie sorriu de canto e virou o rosto, dando uma ordem em Francês, e um empregado, fardado, saiu da lancha, apanhando a bagagem de Harry, levando-a para o barco. Harry riu, entrando na lancha, o olhar sondando-a. Algo nela o fazia sorrir.

Melanie: Estava me fazendo pegar transito. – Justificou, se levantando. Os dois ficaram próximos, de pé um de frente pro outro, e ela sorriu, encarando-o. Se Harry visse os cliques frenético em volta dos dois, não teria sorrido de volta.

Ela lhe deu as costas, sumindo dentro da lancha, e ele olhou em volta, vendo o barco ganhar velocidade. A paisagem era realmente bonita. Ele se sentou, olhando a água verde escura passando, e ela sorriu, observando-o quietamente. Estava facilitando o trabalho dela, se expondo aos fotógrafos, e sendo perfeitamente natural. O barco só perdeu velocidade quando pararam na frente de um hotel enorme. Se chamava "Gabriele", pelo que dizia a fachada delicada. Tudo ali era luxuoso. Por estar reparando os detalhes que não viu os empregados colocando suas malas junto com as dela no carrinho, para levar para dentro do hotel.

Harry: Ei! Minha bagagem! – Disse, saltando de onde estava sentado. Era claro que não ia ficar ali. Seu salário de um mês, que era modestamente bom, não pagaria um dia naquele lugar. O homem nem olhou.

Melanie: Não se dê ao trabalho, eles só falam francês. – Disse, saindo da cabine. Um empregado do hotel ofereceu a mão a ela, dando-lhe apoio para sair do barco.

Empregado: Mrs. Horan. – Saudou, e ela assentiu com a cabeça, saindo do barco. Harry foi atrás antes que alguém lhe oferecesse a mão também.

A recepção do hotel era enorme, tudo em mármore branco, um lustre gigante acima deles, tapetes vermelhos sob seus pés. Nem sinal mais da bagagem dos dois. Ela foi até o balcão, e ele parou atrás dela. Melanie reprimiu o sorriso.

Melanie: Melanie Horan e esposo. – Anunciou, delicada, e apontou com a cabeça. O recepcionista olhou Harry de cima abaixo, como se achasse um insulto alguém tão simples ser casado com alguém como Melanie. Harry ergueu a sobrancelha, petulante. O recepcionista mexeu em um computador, digitando algo, então apanhou um cartão, preso em um chaveiro vermelho, que parecia caro.

Recepcionista: Me acompanhe, por favor. – Disse, saindo a frente.

Harry: Pensei que eles só falassem francês. – Intimou, enquanto a acompanhava. Ela se limitou a sorrir.

Os dois pegaram um elevador, indo até a cobertura. Só haviam dois quartos por andar. O recepcionista passou o cartão na porta dupla, abrindo-a. Os dois entraram. A sala era gigante, com três sofás parecendo confortáveis, assim como 4 poltronas e uma mesa de centro retangular. Havia uma lareira e espelhos em volta da sala. Várias portas que davam para uma sacada, mas estavam fechadas, com cortinas brancas e delicadas protegendo-as. Melanie agradeceu ao recepcionista, que a entregou o cartão, e saiu. Quando se virou, Harry a olhava acusadoramente.

Harry: Quem é você? – Perguntou, direto, observando-a.

O Turista (Livro 1) [H.S]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora