Onze

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Olhar para a porta dava uma sensação estranha a Taehyung. Até então não sabia ao certo, mas era como se aquela porta significasse alguma mudança em sua vida. A porta era como uma metáfora. Se passasse por ela, tudo poderia mudar e, se desse meia volta, as coisas seriam como eram. A questão era: Taehyung queria ou não que uma mudança acontecesse em sua vida? E se ocorresse, seria uma mudança boa ou ruim?

Foi então que decidiu não pensar nas consequências. Tudo o que pensou foi: " Jimin deve precisar de mim...", e assim resolveu abrir a porta . Fez questão de olhar para os lados antes, só para garantir que ninguém o flagrasse entrando em quarto alheio.

Taehyung deu o primeiro passo dentro do enorme quarto. Viu logo à sua frente uma cama alta. Haviam tantos equipamentos e tubos que quase seria impossível ver o paciente. Conseguiu ouvir o som de um bip chato vindo de um dos equipamentos, provavelmente controlando os batimentos cardíacos. Também ouviu o barulho de um motor que servia para levar oxigênio ao paciente por um dos tubos. Mas esse não foi o som que mais lhe chamou atenção.

Havia um aparelho de som ao lado da porta. Tocava uma música clássica de Tchaikovsky, era "The Sleeping Beauty". Taehyung a conhecia muito bem em razão das aulas de Ballet que teve. Até chegou a fazer uma apresentação de patinação solo ao som dessa melodia.

Deu mais alguns passos, ainda assustado. O paciente parecia estar mesmo em uma situação ruim e isso lhe causou um mal estar, mesmo não o conhecendo. Até então não tinha se dado conta que não havia visto Jimin. Mas se o viu entrar, por que não estava lá?

Resolveu chegar mais perto, só para ver quem era o paciente.

- N-não....- Taehyung assustou-se quando o reconheceu, acamado e imóvel, como um semi-morto. - Não pode ser você...Não pode...

Confuso, olhou para a prancheta do paciente presa na beira da cama. O nome do paciente era o mesmo, mas era impossível ser. Sentiu seu coração bater mais forte. Era capaz até mesmo de desmaiar. Seus olhos não poderiam estar vendo aquilo, deveria ser ilusão...

Mas era verdade.

Ao contrário do que tentava dizer a si mesmo, aquele paciente internado em um estado vegetativo era mesmo Park Jimin. O mesmo garoto que o fez sorrir nos últimos dias. Aquele que dizia que o garoto deveria sorrir; o que foi ver o jogo de Hóquei e até brincou na neve. O que mostrou à Taehyung o quarto de Yoongi e dizia gostar de hospitais. O garoto que Tae viu entrar no quarto de hospital, aparentemente saudável, agora encontrava-se em um estado vegetativo.

- O q-que está havendo comigo? - Taehyung deu dois passos para trás, falando para si mesmo com a voz embargada.

Taehyung sentiu um nó na garganta e seus olhos arderam. Por mais que tentasse segurar, as lágrimas saíram, como uma cachoeira. Estava confuso e com medo, por esta razão, chorou como uma criança perdida. Pensava que, se aquele era o Jimin, quem era o garoto que sempre o alegrava? Não poderia ser ele, poderia? Será que estava mesmo com algum problema na mente? Talvez os remédios e terapias tenham feito Taehyung ter alucinações.

Amedrontado, envolveu os braços em seu próprio corpo, com medo de estar ficando louco e precisar se internar em um hospício. Nada fazia sentido.

Sem pensar direito, resolveu correr, fugir daquele quarto; fugir daquele hospital.

Saiu às pressas pelas calçadas repletas de neve da cidade, ainda chorando. Não se importou com as pessoas que olhavam curiosas para si. Seu coração estava pesado e Taehyung sentia como se não pudesse carregá-lo. Por essa razão, correu até uma praça perto do hospital. O lugar estava vazio por causa do frio. Sentou-se em um dos bancos, de cabeça baixa e deixando as lágrimas caírem na neve.

Coração de Gelo  Where stories live. Discover now