Trinta e Sete

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 Muitos eventos podem ocorrer simultaneamente. Por exemplo, enquanto é vendido um sorvete em um mercadinho de bairro, um dos funcionários desse mercadinho pode estar recebendo uma promoção de emprego. Ou, enquanto uma criança cai da bicicleta e machuca o joelho, um ciclista pode estar passando de bicicleta e tombar na rua, perto de onde a criança caiu.

Pode acontecer também, de um professor, enquanto está distraído por ficar aos beijos com uma colegial no carro, atropele alguém e, logo em seguida, um carro desgovernado surja, chocando-se contra um muro. Isso quer dizer que eventos simultâneos ocorrem a todo instante e, talvez, podem até estarem interligados.

Mas e quando ninguém sabe desses eventos? Como fazer quando é essencial que se torne público? Talvez seja preciso de alguma testemunha ocular ou, em uma atitude desesperada, que alguém surja literalmente do além, para mandar o recado. É necessário encontrar alguma forma de descobrir a verdade porque infelizmente, não possuímos uma penseira, como no mundo de Harry Potter, capaz de extrair as memórias de alguém e verificar o que realmente aconteceu.

No caso de Taehyung, estava mais para um recado do além, por mais estranho que isso possa parecer. Quem sabe fosse loucura... Vai saber!

— Você atropelou Yuju! — disse.

Não sabia de onde lhe veio toda aquela coragem. Mas se estava mesmo louco, não deveria temer por nada, deveria?

— Do que está falando, meu pequeno?

Não foi nada agradável para os ouvidos de Taehyung ouvirem o "meu pequeno". A voz do professor Hang soava com uma certa lascívia, mas não de uma forma boa. Pelo contrário, era ruim e Taehyung conseguia sentir isso. Era como se pudesse enxergar alguma sombra negra pairando sobre ele.

Yuju tinha razão em não gostar daquela sala. Conseguia notar pelo olhar do professor que ele não era só um professor chato. Sua maldade poderia ir bem mais além.

— Quem lhe contou? — ele deu mais alguns passos.

Hang era bem mais alto e, caso ele segurasse nos braços de Tae, dificilmente conseguiria se soltar.

— Foi você...— disse fechando seus punhos. — Você a atropelou! Eu não sei como...Mas foi você!

— Eu não deveria confiar tanto em colegiais. — ele bufou — Não conseguem manter a boca fechada.

— Não encoste em mim! — exclamou ao dar mais um passo para trás. O professor Hang estava mesmo disposto a se aproximar.

— O que irá fazer? Gritar? — riu baixo.

Em razão dele ser mais forte e, aparentemente, ágil, agarrou-o pelos braços rapidamente. Taehyung tentou agitar suas mãos a fim de se soltar, mas ele apertavaos pulsos com tanta força que chegavam a ficar doloridos. Como é que não aparecia ninguém para ajudá-lo em um colégio tão grande como aquele?

Contorcendo-se, percebeu que suas pernas estavam livres. Foi o suficiente para erguer o joelho direito, dando um golpe certeiro nas "partes baixas" do professor. Imediatamente ele o largou, levando as mãos ao próprio sexo para conter a dor.

Desviando-se dele, chamou por Yoongi, ouvindo mais uma vez uma voz abafada, que parecia chamá-lo. A voz vinha da sala que guardava artigos esportivos e foi até lá que correu. Estava trancada. Taehyung virou-se para trás e viu o professor Hang se recuperando e olhando para si. Não daria tempo para pensar em mais nada.

Certa vez leu um artigo em que dizia que, nos momentos de perigo, o sangue recebe uma dose extra de adrenalina. Nesse caso, a adrenalina seria capaz de fazer a pessoa fugir do perigo ou, sentindo-se com uma força descomunal, enfrentá-lo.

Naqueles milésimos de segundos olhando para a porta trancada, sentiu a adrenalina entrar em seu sangue, dando-lhe uma força e coragem que, quem sabe, daria inveja a qualquer herói ou heroína de quadrinhos ou animes. Sentia-se com força o suficiente para erguer seu pé e desferi-lo contra a porta. Bastou dois chutes para que a tranca se quebrasse. Depois algumas pessoas comentaram que só conseguiu abrir em razão da porta ser muito velha. Mas que se dane!

Assim que a porta abriu, viu Yoongi, com uma mordaça na boca e as mãos e os pés atados. Rapidamente, Tae o ajudou a tirar os nós e a mordaça. O garoto estava com um ferimento no rosto, mas não teve tempo para dizer nada. O professor Hang se aproximava da sala. Rapidamente, Yoongi se levantou, tomando a frente e indo para cima do professor.

O capitão deu um soco no homem digno de qualquer filme de ação em que se lembrava de ter visto. Claro que a sensação entre ver um filme e algo real era bem diferente. Ainda estava assustado pelo rumo que as coisas poderiam tomar. Não obstante, percebeu que Yoongi não era o único na sala. Bem lá no canto, viu uma garota de cabelos emaranhados, também amarrada e visivelmente assustada. Era MiCha.

Mas acontecia uma luta perto da porta da sala. Os dois se afastaram até o corredor e Taehyung não sabia ao certo o que fazer. Até que no corredor, viu o botão de alarme de incêndio. Engraçado como aquele alarme de certa forma, foi também um dos responsáveis por fazê-lo se aproximar de Yoongi. Por causa dele foi até a sala do diretor e recebeu a punição que, sinceramente, nem foi algo tão ruim assim.

Correu pelo corredor. Naquele instante o capitão segurava o professor pelos braços. Era notório que não conseguiria segurá-lo por muito tempo. Então, com a palma de sua mão apertou o botão com toda a força que julgava ter, disparando o alarme.

Virou-se para os dois. Agora o professor Hang havia conseguido se soltar e desferia um soco em Yoongi, fazendo-o cair no chão. Não! Isso era demais para suportar. Novamente sentiu aquela adrenalina entrar no seu sangue, dando coragem para correr até Hang, pendurando-se no pescoço dele antes que ele desse um chute em Yoongi. Isso o distraiu, mas não por muito tempo. Por mais que tentasse o segurar, Hang acabou sendo mais forte, jogando-o no chão também.

As coisas não poderiam terminar daquele jeito, de forma alguma!

Mesmo machucado e com sangramento no rosto, Yoongi se ergueu, atacando novamente o professor e o imobilizando de vez. E, como acontece na maioria dos filmes de ação, a ajuda só chegou mais tarde. Um pouco zonzo, viu o Diretor Yang e outros funcionários da escola os acudirem. Logo depois, seus pais e os garotos chegaram, após finalmente terem descoberto para onde Taehyung tinha corrido.

No momento em que os funcionários seguravam o professor Hang e o diretor ligava para polícia, Tae olhou para Yoongi. Assim como o garoto, haviam pessoas à volta dele, perguntando como ele estava. Ignorando qualquer um, o garoto também o fitou.

Ficaram alguns milésimos de segundo em uma troca de olhares, tentando acalmar os ânimos. Taehyung sentia uma vontade imensa de chorar. Naquele instante, teve a certeza de que seria impossível ficar afastado do capitão. Não. Não poderia ficar longe dele. E assim, em uma perfeita sincronia, similar a uma apresentação em dupla de patinação no gelo, levantaram-se simultaneamente, indo um de encontro ao outro.

O rosto do capitão parecia inchado, com alguns hematomas e o sangue vermelho manchando o canto de sua boca e supercílio. Poderia até se queixar de dor em razão de ter sido jogado no chão, mas Taehyung esqueceu de tudo isso, assim como Yoongi também esquecia. Tudo o que fizeram foi se abraçarem, apertando o corpo um do outro o mais forte que podiam.

— Eu sei que não foi você, capitão...— disse, afundando o rosto entre o ombro e o pescoço do garoto. Conseguia até mesmo sentir o cheiro dele que tanto gostava.

Era um cheiro de gelo, como um boneco de neve. Taehyung gostava de bonecos de neve.

— Tinha razão, patinador...— Yoongi suspirou fundo, sussurrando no ouvido de Tae. — Talvez eu seja uma boa pessoa.

— Você é uma boa pessoa, boneco de neve. E agora tudo vai ficar bem. Vai ficar tudo bem...



_ _ _ _ _ _    or   _ _ _ _ _   e n _?

_ _ n _     _ _ _ _     _ _ _!

Good Luck.

Coração de Gelo  Where stories live. Discover now