Trinta e Cinco

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 Taehyung sentia o vento cortar seu corpo, dando-lhe calafrios. As peças da sua roupa grudavam à pele em razão de estarem molhadas. As mãos de Yoongi ainda estavam apoiadas em seu rosto gelado. Foi então que, após recompor o juízo, percebeu que Yoongi o havia resgatado, impedindo-o de se afogar.

— Não é você quem deve ir. Não é você!

Havia um tom de alívio na voz do garoto. Ele tentava controlar a respiração, olhando para Tae. Taehyung sentia as gotas de água do cabelo dele pingarem em seu rosto. Ele tremia de frio. Talvez fosse o rosto molhado, mas jurava que o capitão também chorava.

— Yoongi. Me diga...— tomou forças para falar, ainda tentando se recuperar. — Me diga que eu estava sonhando. Diga que... Que o que falou para mim, foi um sonho...

— Me perdoe. Me perdoe. — Por incontáveis vezes, Yoongi o pedia desculpas.

O coração de Taehyung doía, em batidas descompassadas.

O garoto continuava ajoelhado. Claro que para Tae, faltava-lhe forças para ficar em pé. Por isso, continuou sentindo o chão frio abaixo do seu corpo enquanto as lágrimas corriam em seu rosto, misturando-se à água doce do lago.

Quem sabe o casal da lenda tenha mesmo tido um destino melhor. Afinal, o jovem não havia matado alguém importante para a garota. Se ele morreu, foi por ter amado demais. Não havia nenhum pecado além do simples fato de se amarem. Mas com Taehyung era diferente. Estava lidando com alguém que confessou um crime. Pior, um crime cometido contra a pessoa que amou.

Tudo o que queria fazer era chorar. Chorava por tentar, com todas as forças, odiar Yoongi. Mas não conseguia. Por que não conseguia? Tae não poderia continuar gostando dele. Ele não merecia. O garoto deveria ir para a cadeia, não ter sua compaixão.

No mesmo momento, Tae viu ao longe seus pais se aproximarem, correndo desesperados. Não sabia como eles o encontraram ali, mas estavam aliviados pelo fato de ainda estar vivo. Depois, voltou a olhar para Yoongi. Lembrou-se de todas as palavras dele e, inevitavelmente, seu coração voltou a bater rápido. O fato de quase morrer afogado e passar por tantas emoções era perigoso para alguém com o coração frágil como Taehyung.

Por isso, não aguentou. Seus olhos se fecharam, desmaiando nos braços do capitão.

XXX

Yoongi resolveu ficar do lado de fora do hospital, deixando que os pais de Tae, assim como os garotos que depois chegaram o acompanharem. Ele ficou especificamente na praça. Claro que já não havia nenhum boneco de neve. Tampouco vestígios que a coberta branca natural tivesse passado por lá. Mas era como se ele sentisse o cheiro do gelo.

Naquele instante, o garoto não sabia o que fazer. Qual seria a atitude mais correta? Se entregar para a polícia ou fugir, viajando para qualquer lugar distante? A culpa continuava martelando em sua mente. A culpa por ter visto Yuju ainda viva e não salvá-la. A culpa por ter chamado Jimin para beber. Se ele tivesse continuado treinando basquete naquele fatídico dia, quem sabe nada disso teria acontecido. Inclusive, não teria o conhecido. Taehyung estaria com Yuju, com a vaga já garantida para as olimpíadas de inverno. Tudo estaria bem.

Mas a vida não é feita de sabores doces. Na maioria das vezes, temos que também provar o gosto amargo, não importando o quão amargo isso seja. E foi provando o gosto amargo, enquanto olhava para o hospital pensando em como o patinador deveria estar, que Yoongi recebeu uma mensagem. Por sorte, o garoto havia tirado o celular dos bolsos antes de entrar no lago.

Era uma mensagem de Mi-Cha.

" Yoongi, eu imploro, por favor, me ajude".

Nunca havia recebido uma mensagem assim. Para acrescentar, como se o destino já não brincasse o suficiente, enquanto Yoongi continuava olhando atônito para a mensagem no celular, um garoto de cabelos avermelhados se aproximou do parque.

Coração de Gelo  Where stories live. Discover now