Capítulo 7

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Nocaute...

Assim que a aula acabou, o sinal tocou, estrondoso e mostrando que infelizmente meu trabalho chegou ao fim. As crianças sorriram, queriam ir logo para os seus pais, meus olhos cruzaram com os de Quentin e vi pavor em seu olhar.
Todos correram pela sala atrás de suas mochilas e guardaram o material rapidamente, saíram pela porta como um furacão e quando vi, só restava eu  e Quentin na sala.
Segurei sua mão e o caminhamos juntos até o portão — algumas professoras também saíam das salas e eu cumprimentei elas — aguardei com o pequeno seu pai mas ele não apareceu, esperei sua mãe, mas ela também não apareceu.
O sol já estava descendo por entre os edifícios baixos, deixando o lugar mais escuro.
Algumas crianças ainda estavam ali esperando seus responsáveis, deixei o moreno brincando com elas e liguei para Tyler, mas por alguma razão ele não me atendeu. Comecei a ficar preocupada, ele nunca deixaria de atender.
A grama recém cortada deixava um cheiro de lar no ar, as crianças corriam por entre os canteiros floridos.
Me sentei no banco que estava embaixo de um grande carvalho branco, as folhas coloridas em um verde forte, quase esmeralda, o sol era filtrado por elas, dando um aspecto mais limpo. Um vento forte que lembrava chuva levantou meu cabelo, o fazendo dançar no ar e levando algumas folhas junto. Cruzei os braços tentando me esquentar, escutei um grito e olhei para as crianças, elas gargalhavam deitadas na grama. Dei um sorriso com a cena.

- Eu avisei para não se aproximar de Tyler. - Ouvi uma voz grossa, com um timbre rouco falar ao meu ouvido. Meu corpo respondeu instantaneamente ao dono da voz. Não precisei nem olhar para saber quem era.

- O que fez, Ares?

- Ele está em um café, tomando um frapê de canela e esperando por você. - Deu uma risada fria, mais maléfica que das outras vezes. - Meus homens estão nesse lugar, e ao meu sinal, irão matá-lo.

Meu coração acelerou, senti um frio percorrer minha espinha e um suor gélido escorrer por meu rosto. Entrei em pânico. Ele não estava brincando, parecia mais sombrio que de costume,  mais frio.

- Eu faço qualquer coisa... mas não toque nele. - Falei desesperada, me levantando e segurando seu terno preto, pois minhas pernas já não me aguentavam.

- Amanhã será o casamento, oficialmente. - Ele me olhou sério, os olhos totalmente vermelhos, como o fogo mais quente. Algo estava errado, bem errado. - Está tudo planejado, e você irá se comportar... se algo der errado, a cabeça de Tyler irá enfeitar nossa sala de estar.

Segurei mais forte em seu terno, o impedindo de ir e amassando o mesmo, os nós de meus dedos já ficando brancos com a força que eu fazia para não o deixar sair.
Ele não podia aparecer depois de sumir por todo esse tempo, despejar tudo isso em cima de mim e ir embora como se fosse algo trivial, como se fosse apenas uma notícia qualquer.
Meus olhos se encheram de lágrimas, fazendo com que eu não enxergasse direito, algumas desciam por meu rosto, molhando minha pele.
Talvez o estresse de todos esses dias finalmente havia chegado, e estava me matando por dentro, me destruindo aos poucos. Meu coração doía, como se pequenas adagas fossem enfiadas nele, enquanto a imagem da cabeça do meu amigo na sala passava por minha mente.
Meus pulmões começavam a falhar, mal conseguia respirar direito, como se oxigênio já não fosse o bastante para fazer meu corpo funcionar, sentia minha pele empalidecer, enquanto meus lábios secavam e a visão ficava turva.
Era desesperador.

- Chloe... – Ouvi um último resmungo de Ares antes de tudo apagar, parecia preocupado, mas não fiquei acordada o bastante para ter certeza, pois logo o escuro tomou conta de mim.

{...}

Minha cabeça latejava, como se alguém houvesse me dado diversos socos. Meus olhos pesavam, era quase impossível levantar minhas pálpebras e olhar onde eu estava. Senti uma dor no braço, e imaginei ser uma seringa me perfurando, gelei em pensamento.
A curiosidade me venceu e abri lentamente os olhos, uma luz forte me atingiu e pisquei algumas vezes para poder ver onde estava. Era branco e claro. Um hospital como em Grey's Anatomy. Será que era hoje que eu conhecia minha ídola?
Alguém apertava minha mão, e percebi que era o brutamontes, ele segurava de modo protetor enquanto dormia apoiado na cama. Nossas mãos juntas pareciam certos, meus dedos finos pareciam ainda menores entre seus dedos roxos e calejados do boxing.
Atena estava em um sofá ao canto, segurando Arthemis e Quentin enquanto dormiam calmamente de uma maneira engraçada e nada confortável ao meu ver. O que faziam ali?
Tentei me levantar, mas não consegui, como se meu corpo não respondesse meus comandos.

Ares - Um Boxeador MafiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora