Capítulo 26

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Ares
Ser humano é amar mesmo quando for demais...

Chloe estava ali, ajoelhada em minha frente com uma expressão furiosa que mal me lembrava a mulher que chorava poucos minutos atrás. Quase me questionei se não estava sonhando, porque só podia estar em um sonho. Podia ver a preocupação passar por seus olhos, mas logo foi encobrida por aquela máscara que usava para esconder o que sentia de verdade. Sabia que palavras bonitas não fariam com que meu anjo me perdoasse, e como poderia? Eu lhe tirei tudo. Também sabia que nunca teria seu amor, um monstro não merece isso e aceito. Ela sempre seria boa demais para mim.

- O que você está fazendo, seu idiota? – Perguntou enquanto tirava a arma de minha mão lentamente. – Por que tirar a própria vida?

- Porque... mesmo não sabendo o que é o amor ou o que é isso que eu sinto por você, eu sei que daria a minha vida por sua felicidade, sem nem pensar duas vezes. – Respondi firmemente, aquela era a mais pura verdade. Mas como eu podia ser merecedor de seu amor? Como podia fazer com que sentisse a mesma coisa que eu sinto?

Não estava perdoado e aceitava isso, o perdão não é algo que vem tão fácil, ele precisa ser conquistado, mas não aguentaria ficar mais tempo longe, apenas a possibilidade de a perder havia me destroçado. A verdade é que em menos de um mês ela havia me dado muito mais que qualquer pessoa, não era merecedor de seu carinho, amor ou qualquer afeto, mas sem perceber ela me deu eles mesmo assim. Era definitivamente um anjo que entrou em minha vida — sem pedir pedir licença e muito menos bater na porta, simplesmente a invadiu e deixou todas as coisas boas que carregava consigo entrarem também —  bagunçou tudo que havia em mim, não seguiu minhas ordens e mandou todas as regras para o inferno, não abaixou a voz e muito menos se dobrou diante as minhas vontades, nem mesmo ligou para o que podia lhe acontecer. Havia acontecido de uma forma tão rápida e confusa que mal pude perceber quando destruiu todas as barreiras que eu construí para mantê-la longe.
Não a culparia se me odiasse e muito menos se quisesse ir embora. Eu devia falar como me sentia? Dizer o que havia entalado dentro da garganta?
Simplesmente não conseguia, parecia impossível falar. Segurei sua mão e a puxei, fazendo com que se sentasse em meu colo, não esperei por sua reação e a beijei. Podia não conseguir dizer como me sentia, mas queria deixar claro em atos o que eu não conseguia falar com palavras. Assim que nossos lábios se tocaram senti uma descarga elétrica descer por todo o meu corpo, como se desse vida ao homem de lata. Meus dedos correram com vontade própria para sua nuca, minha mulher não resistiu e tampouco se afastou. Nossas lágrimas se embolavam naquele beijo, e logo eram uma só coisa. Sua mão foi para meu peito e meu coração acelerou, parecia que nada havia mudado mesmo que tudo fosse diferente — ainda éramos nós dois ali.
Me separei lentamente, com a respiração desconcertada e sem saber o que fazer, estava perdido no verde de seus olhos e queria continuar ali.

- Me conte seus planos para o nosso futuro. – Pedi fechando os olhos com a voz embargada enquanto tentava não chorar mais. Precisava saber o que ela queria, quem sabe pudesse atender os seus desejos porque era isso que Chloe merecia; tudo o que eu tinha para dar. – Por favor...

- Nosso futuro? – Perguntou com a voz suave e concordei com a cabeça. Nunca havia pensado sobre isso mas agora parecia tão importante quanto o ar que respirava. – Acho que... não quero uma casa, seu apartamento é muito confortável. Alguns filhos? É, sempre quis ter muitas crianças, bom, já temos uma, o Quentin. – Sorri, lágrimas caiam miseravelmente denunciando o quão mal eu estava. Seria tudo era mentira ou havia um pouco de verdade ali? – Depois eu não sei, apenas envelhecer?

Imaginei Quentin correndo pelo apartamento, tendo todos os brinquedos possíveis e um sorriso no rosto, andando até mim e me chamando de pai, daria tudo por ele sem nem mesmo saber o porquê de querer fazer isso. Logo depois vi nós dois idosos, segurava a mão enrugada de Chloe com cuidado e parecíamos felizes juntos, como se não existisse nenhum problema no mundo e só desejava que aquilo se tornasse verdade. Quem dera que fosse assim...

Ares - Um Boxeador MafiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora