Ares - Um Boxeador Mafioso

Capítulo 49

Ares
Monstro...

Encarei a neve sob meus joelhos. Os punhos cerrados enquanto tentava acalmar a fúria que se incrustava em meu peito, minhas emoções misturadas e confusas. Que se dane!
Todas as dúvidas ainda existiam dentro de mim, consumindo aos poucos minha sanidade, mas eu já deixei me dominar, então pouco importava o que iria acontecer. Cheguei ao extremo do que minha mente aguentava e agora tanto faz, não importava mais nada e muito menos o que iria acontecer comigo, pois, sabia que independente do que faria ainda teria o mesmo resultado.

- Você o matou, não? – Perguntei, a raiva até mesmo em minhas palavras e não podia me enganar achando que conseguiria controlar aquele sentimento mais uma vez. Sentia o vazio, como se não houvesse sobrado mais nada dentro de mim, ainda que lutasse para encontrar, nenhuma certeza ou mesmo esperança. Me levantei, não podia permanecer mais um segundo ajoelhado ali, mal me reconhecia ao estar naquela posição, agindo como um covarde. – O que mais terei que perder...? – Sussurrei.

- Infelizmente não tive esse prazer, afinal, eu nunca deixaria de atender um pedido dela. – Virou o rosto e segui seu olhar até a mulher que caminhava lentamente ao longe. – Acredito que você já tenha entendido o que está em jogo, Ares Bellator.

A dor nos faz lembrar quem somos, e cada passo de Melina em minha direção provava isso. Eu era apenas um peão, não uma pessoa, mas uma mera peça em suas mãos frias... Manipulado repetidas vezes até que tenha feito o que quer que desejasse.
Por todo aquele tempo estive preso a correntes, invisíveis e fortes, laços que me guiavam sem que pudesse perceber para onde estava indo, sem que visse que era apenas uma fantoche naquele teatro que os dois haviam construído. Encarei seus olhos em busca de algo que indicasse que meus pensamentos estavam errados, que eu devia ter me enganado. Nada. Mas seu olhar... Eu o conhecia, era o mesmo que quando criança lançavam para mim, a repugnância. Por quê? Por que ela estava se aliando a ele?! Por...
Finalmente, após tanto tempo, conseguia compreender o que estava acontecendo, as peças do quebra-cabeça se completavam em minha mente trazendo algum sentido.
Bóreas Drakos e Melina Bellator.
Ambos eram herdeiros da Grécia que outrora se odiavam, por conta de suas ideologias, famílias, princípios e normas, e desse ódio nasceu algo mais profundo. Pireu e Ο Όλυμπος²... Rivais e herdeiros... Um amor proibido.
Aquele era o maior arrependimento de meu avô, o motivo pelo qual se importava tanto com nossa família, por tanto querer se desculpar com Melina de todas as formas possíveis depois de ter causado seu sofrimento. Ele não pretendia perder o controle da Grécia e encarou sua filha como uma oportunidade de conseguir isso, a privando do homem que amava por ganância e recorrendo à Bratva para alcançar seu objetivo, assim como Chloe, minha mãe havia sido uma moeda de troca, vendida à Nikolai.
Então a Vingança de Pireu aconteceu, o Czar nunca permitiria que alguém que ameaçasse seu domínio continuasse a viver livremente, então os atacou, sem deixar rastros ou uma única vida para trás, pelo menos, assim acreditava...
Boris era um sobrevivente, uma vítima da ganância humana, que foi atrás de vingança, a perseguindo a qualquer preço sem se importar com as baixas que teriam, por sua família e a pessoa que ama. Enganou todos, apagando seu passado ao ponto de não o reconhecerem, se tornando o braço direito daquele que mais odiava, destruindo a Bratva de dentro para fora, a enfraquecendo aos poucos, aguardando até alcançar poder o suficiente para finalmente completar seu objetivo. Tanto Melina quanto ele manipularam Nikolai para acreditar que a Bratva deveria tomar o controle da Rússia, que seria capaz de fazer isso. Eles apenas queriam que ele e a Bratva morressem em meio à guerra civil que iria começar — sabia disso da mesma forma que sabia que não podia os julgar, mas... Todo sangue que seria derramado por uma única pessoa, isso eu não podia ignorar.
Fechei a mão em punho, o ódio queimando em meu peito como uma chama ardente, meu sangue praticamente fervendo como combustível por minhas veias, aumentando aos poucos a raiva que mantinha em meu coração.