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Garret
A última mentira...

Ajudei Tyler mais uma vez, ele conseguia ser pior que Ares no quesito teimosia e isso era definitivamente algo complicado de se lidar. Seu rosto estava ficando esverdeado de um jeito engraçado provavelmente por conta dos golpes que levou, contive a vontade de rir e segurei seu tronco com mais força enquanto subíamos as escadas de mármore. Arrepios transpassaram meu corpo, gelando minhas mãos e deixando os fios de cabelo perto da minha nuca em pé. O que eu estava fazendo? Apenas pare de o encarar...
Mas eu não conseguia e reparei ainda mais em seus traços, a pele bronzeada contrastava com os olhos verdes como duas preciosas esmeraldas, dando um ar exótico, não que precisasse disso, mesmo com os machucados ele continuava bonito.
Apertei minha mão livre com força, até sentir meus ossos doerem. Apenas pare, Garret...
A dor sempre foi uma excelente professora após o Forte Morsus, conseguia me controlar assim, diferente de Ares que sempre tendia a explodir e mostrar suas verdadeiras emoções, mas não podia o culpar por ter empatia, coisa que eu havia perdido há éons atrás junto com a mínima chance de tentar compreender os meus sentimentos e emoções.
Coloquei um sorriso no rosto, ainda que falso, tentando mascarar aquela confusão em que me encontrava.
Caminhamos juntos pelo corredor até o último quarto vago, minha presença não parecia intimidar e tampouco o deixava desconfortável, o que não afirmava que não acontecia o contrário. Estar perto era perigoso.
Abri a porta de madeira branca com o pé, dando um chute leve e finalmente soltei seu corpo, apoiando nos moveis ele foi até a cama sob meu olhar, se algo acontecesse seria minha culpa e não iria permitir isso.

- Está tudo certo? Se precisar de algo...

Queria correr dali, para bem longe e esquecer todos os meus problemas, fugir como um covarde para um lugar deserto e rezar para que a morte não fosse uma cadela deslavada que demorasse muito para me visitar, mas não podia, eu tinha uma promessa e a cumpriria.

- Garret. – Me chamou, sua voz era como veludo, parecia que tocava minha pele mesmo estando longe e me arrependi disso. Apenas pare e se afaste. – Obrigado por, bem, tudo.

- Não foi nada demais. – Retruquei com meu sorriso aumentando, ao ponto de fazer minha maçã do rosto doer. Por que eu continuava sorrindo? Ainda era falso?

Amaldiçoei baixo, xingando em todas as línguas que conhecia e até nas inventadas que mais faziam parecer que eu estava invocando alguma entidade. Se mantenha longe...
Já estava indo para fora do quarto quando ouvi sua voz me chamando mais uma vez, voltei no mesmo instante e o encarei com a sobrancelha arqueada.

- Sim? – Perguntei encostando no batente da porta, por algum motivo meu corpo não conseguia chegar mais perto como se houvesse alguma intervenção divina ou algo do tipo, ainda que sentisse que se não fizesse isso iria me arrepender amargamente.

- Por que ele faz isso? – Sua pergunta me pegou desprevenido, podia esperar tudo menos isso.

Abaixei o olhar, um misto de culpa e ódio corria por meu corpo. Eu devia contar? Por que sentia que devia? Como faria isso? Ele sabia a verdade, então? Ares contou?

- Garret. – O olhei, e foi outro erro. Por que meu corpo estava reagindo dessa forma? – Quero entender o porquê dele continuar com isso, o Major... por um segundo eu vi admiração em seu olhar, não havia pavor ou rancor, Tremblay parecia emocionado de morrer nas mãos dele. – Seus punhos estavam cerrados, parecia conter a raiva. Eu também estaria assim, mas depois de anos já estava acostumado com toda aquela dor. – QUAL É O MALDITO PROBLEMA DAQUELE IDIOTA?!

- Você... – Suspirei, baguncei um pouco meu cabelo e me aproximei de verdade pela primeira vez.

Olhei no fundo de seus olhos e foi mais um erro. Era difícil mentir para proteger meu amigo encarando aquelas íris que mais pareciam pedras preciosas.

Ares - Um Boxeador MafiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora